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A sua máscara é segura? Veja o que diz a USP

Pesquisa desfaz controvérsia sobre a eficácia de máscaras de tecido costuradas e hospitalares. E indica o melhor uso para cada situação

mascara segura

Máscaras de tecido costuradas são comprovadamente seguras e se tornam mais eficientes se usadas com descartáveis por baixo | Foto: Getty Images

Assim que a pandemia se instalou no Brasil, a falta de máscara segura e de qualidade chegou a profissionais e aos hospitais de todo o país. Não foi diferente com os serviços de saúde da Universidade de São Paulo (USP).

Os profissionais da USP agiram rápido. Mobilizaram acadêmicos, técnicos, laboratórios e gente da comunidade que estava ficando sem trabalho e criaram o projeto (respire!, articulação para buscar solução para o problema.

Ao mesmo tempo em que desenvolveram testes para descobrir quais as verdadeiras capacidades e o melhor uso da máscara segura, derrubaram mitos sobre higienização das máscaras e distribuíram mais de um milhão delas.

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Geraram renda para as costureiras – e testaram em laboratórios até o papel das costuras na proteção conta o vírus da covid-19, que comprovaram ser seguras e, em algumas ocasiões, mais recomendadas do que as hospitalares.

Segundo pesquisa do (respire!, que teve apoio da Fapesp, máscaras de tecido podem ser seguras e, em alguns casos, mais indicadas que as PFF2/N95.

Grupo da USP desmente mitos sobre máscara segura

O (respire! desfez controvérsias como a dúvida sobre o uso de duas márcaras (que recomenda), as maneiras de higienizar (veja abaixo) e a proteção real das PFF2/N95, tidas como as mais seguras.

Pesquisador, professor da pós-graduação da Escola Politécnica da USP e e coordenador do IRIS inovaUSP, Vanderley John explica a O Especialista como foi a operação de guerra que gerou o estudo publicado agora na Aerosol Science and Technology.

O Especialista – Como foi a criação do (respire! e como o projeto tem contribuído com o combate à pandemia?

Vanderley John – O (respire! foi a resposta a uma demanda dos hospitais da USP que enfrentavam dificuldades na compra de máscaras com a qualidade requerida e de uma vontade da equipe IRIS inovaUSP em colaborar para a geração de renda de pessoas que perdiam seu trabalho devido à pandemia. Mobilizamos professores, técnicos e alunos de pós-graduação de várias unidades como voluntários.

Como foi a articulação com os profissionais de costura?

A Tecido Social, empresa social coordenada pela socióloga Cibele de Barros, fez o trabalho voluntário incrível de mobilizar uma rede de grupos de costura que estavam sem renda e colaborou com a equipe no projeto de máscaras costuradas. Começamos a mobilizar nossa rede de relacionamento do inovaUSP e fazer contato com a indústria, de onde trouxemos recursos financeiros, matéria primas e tecnologia.

Era também necessário testar matérias primas e o efeito da costura no desempenho das máscaras. Não havia infraestrutura no Brasil pra testar. A saída foi adaptar equipamentos do meu laboratório na Escola Politécnica (especializado em cimento) e do laboratório coordenado pelo professor Paulo Artaxo (especializado em aerossóis e mudanças climáticas) construindo impressoras 3D e refinando métodos para teste. A equipe dos laboratórios – alunos e técnicos trabalhando voluntariamente – decidiu oferecer o serviço para empresas, ONGs, hospitais, universidades que queriam desenvolver máscaras mais seguras. Foi preciso desenvolver uma estratégia para a gestão decentralizada, métodos de controle de qualidade.

Uma das descobertas dos testes que chama a atenção é a garantia da segurança no processo de higienização da máscara.

Sim, desenvolvemos uma rota de esterilização das máscaras – feito gratuitamente pelo IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares). O método mostrou que higienização por irradiação não provoca dano às mascaras, quando feita de modo adequado, contrariando a literatura até então.  Mais adiante colaboramos com a Faculdade de Medicina da USP no estudo de efeitos de diferentes métodos de desinfecção das máscaras, visando o reuso.

No final produzimos 1 milhão de máscaras, geramos renda para costureiras conhecimento sobre máscaras e métodos de gestão. Também tivemos a honra de contar com o apoio de empresas grandes e pequenas, que confiaram na nossa proposta. 

O estudo realizado com o professor Paulo Artaxo e apoio da Fapesp testou mais de 200 máscaras vendidas em farmácias e comércios populares do país. Qual foi o critério de escolha das peças? Vocês conseguiram identificar as EPIs mais usadas pelos brasileiros?

Na verdade foram as máscaras e produtos que nos foram enviados por empresas, hospitais, Ministério Público, ONGS, governos estaduais e municipais, multinacionais da área de saúde, pesquisadores de todo o pais, equipes de reportagem de TV e jornais, além dos produtos que analisamos no processo de seleção de qualidade.

A demanda era grande. Buscamos atender às propostas que tinham maior escala e aquelas de entidades sem fins lucrativos.

A grande maioria era de uso não profissional, feitas com tecidos convencionais e que não precisam certificação compulsória. Mas recebemos também um número grande de máscaras confeccionadas com não tecido – material leve desenvolvido para fazer máscaras hospitalares e filtros.   

Em que condições e em quanto tempo os testes foram realizados? 

Os testes foram realizados a partir de abril do ano passado e encerrados na metade do segundo semestre de 2020, quando o conhecimento já era grande e a oferta estava se normalizando. Pesaram os fatos de a equipe de voluntários estar exausta e os que os laboratórios precisavam retornar para atividades de pesquisa originais.

Medimos a eficiência de filtragem (na faixa dos aerossóis) e a respirabilidade (esforço para fazer o ar passar através do tecido). Nossos equipamentos foram adaptados, pois não eram os padronizados, embora seguissem os mesmos princípios científicos

O que de mais importante se conclui desse estudo? Houve alguma surpresa ao que se sabia por exemplo sobre as máscaras de tecido comum, como algodão funcionam na proteção contra o contágio?

A principal conclusão é que a recomendação internacional de confecção de máscaras para uso comunitário (não profissional) são pouco eficazes. Algumas recomendações não melhoram o desempenho. Em breve espero que consigamos enviar sugestões de melhoria.

Outra conclusão importante é que máscaras de uso profissional podem ser reutilizadas após limpeza relativamente simples. As máscaras que testamos aceitaram 20 lavagens manuais ou a máquina de lavar doméstica sem perda significativa de desempenho. Na verdade, elásticos e clips nasais falham antes.  

Qual a relação entre o conforto e a segurança no uso de máscara?

Concluímos que respirabilidade é muito importante. Máscaras que tornam a respiração difícil são desconfortáveis, dificultando o uso. Pior, deixam de filtrar o ar, pois as frestas entre a máscara e a face – particularmente o nariz –  passa a dominar o sistema.  Estas máscaras protegem os outros das grandes gotículas e nada mais. Muitas empresas estavam desenvolvendo produtos com combinando materiais para obter um altíssimo poder de filtragem e que, no final, não filtravam e eram desconfortáveis.

Outro item importante é o ajuste a face. O clip nasal é fundamental, pois, na ausência dele, o ar passa pelas frestas. Não adianta falar de filtração sem isso. Todas as máscaras que são permeáveis oferecem significativa proteção: as gotículas maiores, que contém quantidade maior dos vírus, são retidas.  

É possível elencar quais são as máscaras mais seguras e as menos confiáveis?

Segurança não é absoluta. Depende do risco a que a pessoa está exposta.

Para quem está trabalhando na UTI, cheia de doentes covid-19 que estão sem máscara e dos quais precisa chegar bem perto (distanciamento não é possível) por 4 horas seguidas, máscaras PFF2/N95 são uma necessidade. Elas não são muito confortáveis, mas existe certeza de que aguentam a exposição prolongada.  Já quem vai caminhar no parque, sozinho, mantendo o distanciamento social, uma máscara de uma camada de tecido com malha fechada (crochê não vale) é até mais segura que a N95.

Acho que para a população, que consegue manter o distanciamento e apenas  eventualmente encontrar alguém contaminado por pouco tempo, o mais indicado são máscaras de algodão de camada dupla, com tecido fino mas de trama fechada.

Em local com risco de aglomeração, como supermercado, transporte, academia, usar uma dupla, ou combinar com uma uma TNT com uma dessas, é suficiente. As máscaras cirúrgicas de bons fabricantes são muito confortáveis, têm respirabilidade alta e oferecem grande proteção. São as minhas preferidas para ambientes de risco.  Mas existe muito material de baixo desempenho sendo vendido. Infelizmente não temos recursos par oferecer um serviço de testagem em escala.

E o uso de duas máscaras, para que tipo de situação é recomendado?

É uma ótima ideia usar mascaras sobrepostas. Temos até uma fórmula matemática de estima o ganho de proteção de camadas sobrepostas. Duas máscaras de algodão que filtram 40% dos aerossóis (+100% das gotas maiores) oferecem 75% de proteção. O que é excelente.

Para evitar desconforto (calor, acúmulo de umidade) que cresce com duas máscaras, a recomendação é que se coloque a segunda apenas onde o risco aumenta (pouca distância, pouca ventilação, pessoas falando alto).

Máscara úmida é melhor tirar com cuidado e colocar em saco plástico e substituir por uma limpa ou nova, sempre lembrando que as mãos precisam estar higienizadas. Ao voltar para casa, mergulhe a máscara em água e sabão por 20 minutos e enxague.

Então não existe a melhor e a pior máscara?

A melhor mascara é aquela que eu tenho. A pior é a que está no queixo, é transparente ou tem furos que consigo enxergar.

Como higienizar máscara reutilizável

  • As máscaras aceitam até 20 lavagens manuais ou na máquina.
  • Usar sabão neutro. 
  • Após a lavagem fazer uma inspeção visual para verificar se não há falhas visíveis como furos ou rasgos causados pela lavagem.
  • Possíveis manchas de ferrugem não afetam o desempenho da máscara.
  • Antes de usar verifique se o elástico ou suas costuras não sofreram avarias por fadiga pelo uso.

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