Os lucros da Petrobras no quarto trimestre ficaram abaixo das expectativas dos analistas do Banco Safra e do consenso do mercado, mas eles destacam que o foco deverá estar no capex, que superou a orientação para o ano (revisada em agosto) e pode criar ruído e aumentar a percepção de risco por parte de alguns investidores.
Os analistas do Safra apreciam a abordagem franca e aberta da empresa para discutir o assunto, mas destacam que a reação inicial do mercado deve ser negativa.
O capex totalizou US$ 16,6 bilhões em 2024, 31% superior ao A/a e acima da orientação revisada em 15%. Segundo a empresa, esse aumento reflete principalmente um alinhamento do progresso físico com o cronograma de pagamentos dos FPSOs de propriedade da Petrobras em construção para o campo de Búzios. Esperava-se originalmente que essa lacuna fosse fechada em 2025, mas a empresa decidiu antecipar os pagamentos como forma de mitigar riscos de atrasos nos projetos e potencialmente acelerar as entregas das plataformas por meio de incentivos melhor alinhados aos fornecedores.
No entanto, a Petrobras não revisou sua orientação de capex para 2025, pois os valores permanecem dentro da margem de tolerância de 10%. A Petrobras também reforçou que não há mudança na estimativa total de capex considerando a soma da orientação para 2024 e o plano estratégico 2025-2029, já que nenhum projeto foi adicionado ou teve sua estimativa de capex alterada.
Embora o Safra concorde com a lógica por trás dessa antecipação, o banco acredita que a combinação do capex mais alto em 2024 com a manutenção da orientação para 2025 e, em menor medida, os lucros e dividendos abaixo do consenso para o 4T24, criam um ruído que pode aumentar a percepção de risco e ter um impacto negativo no preço das ações.
Os lucros da Petrobras no 4T24 ficaram abaixo das nossas expectativas, com um EBITDA ajustado recorrente de US$ 9,9 bilhões, 10% abaixo da previsão do Safra de US$ 11,0 bilhões e 15% inferior T/t, impulsionado principalmente pelo segmento de Exploração e Produção que reportou um EBITDA ajustado 13% inferior T/t.
Por outro lado, os números do segmento de refino foram mais fortes do que o esperado, com o EBITDA ajustado subindo 39% T/t devido a margens mais altas de produtos petrolíferos. O prejuízo líquido de US$ 2,8 bilhões (vs. nossa estimativa de um ganho de US$ 4,4 bilhões) compara-se a um positivo de US$ 5,9 bilhões no 3T. Além dos resultados
operacionais mais fracos, esse valor reflete o impacto negativo da depreciação do BRL e provisões de abandono mais altas.
O EBITDA ajustado recorrente de E&P de US$ 9,073 milhões (-10% vs. estimativa do Safra) caiu 13% T/t, como resultado de preços mais baixos do Brent e produção. O custo de levantamento consolidado (excluindo impostos de produção e arrendamentos) aumentou 10% T/t para US$ 6,34/boe, refletindo maiores despesas com fluxo de gás relacionadas ao início da operação do gasoduto Rota 3, aumento das despesas associadas a intervenções em poços na bacia de Campos e o impacto negativo decorrente da menor produção devido a paradas de manutenção em Búzios.
O EBITDA ajustado de refino, transporte e marketing atingiu US$ 1,500 bilhão (vs. estimativa do Safra de US$ 976), um aumento de 39% T/t. Esse valor resulta de margens mais altas em produtos petrolíferos, principalmente para diesel e ganhos de inventário de US$ 383 milhões vs. US$ 186 milhões no 3T.
Esses fatores foram parcialmente compensados por volumes de vendas sazonalmente mais baixos. O custo unitário de refino caiu 13% T/t para US$ 2,48/bbl, devido a menores despesas com materiais e serviços, bem como efeito cambial.
O EBITDA ajustado de gás e energias de baixo carbono de US$ 368 milhões aumentou 23% T/t, impactado pelo registro de receitas decorrentes de compromissos contratuais anuais no trimestre, que foi parcialmente compensado por preços médios de venda de gás natural mais baixos.
Dividendos da Petrobras
O Conselho de Administração submeteu à Assembleia Geral, agendada para 16 de abril, uma proposta de pagamento de dividendos de US$ 1,6 bilhão (vs. nossa estimativa de US$ 2,9 bilhões), equivalente a R$ 0,71/ação e um rendimento de dividendos de 1,9%. Se aprovado, o pagamento será feito em duas parcelas iguais em 20 de maio e 20 de junho, e as ações serão negociadas ex dividendos a partir de 17 de abril.