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Arquitetos defendem uso da madeira como estratégia para preservar florestas

Movimento de arquitetos defende uso intensivo da madeira como matéria prima como forma de reduzir emissões de carbono e valorizar as obras

Madeira na arquitetura

Movimento luta contra o preconceito contra a utilização da madeira, e dizem que uso da matéria prima tem vantagens ambientais, estéticas e econômicas | Foto: Getty Images

Um movimento de arquitetos liderado pela ONG Imaflora defende a maior utilização da madeira como matéria prima nos setores de construção, arquitetura, decoração e fabricação de móveis e objetos. Eles argumentam que a utilização da madeira é uma forma de reduzir a emissão de carbono na atmosfera, por se tratar de um material renovável.

“A madeira é o unico material de construção renovável, que se desenvolve com a energia solar e contribui para a redução das emissões, já que armazena carbono quando usada para fins de longa duração como a construção civil”, explica Mônica Duarte Aprilanti, do Núcleo da Madeira.

Segundo ela, o material se destaca como matéria prima para utilização em modernas obras arquitetônicas, com grande vantagem ambiental e econômica.

Em debate sobre o uso da madeira na construção, organizado pela Imaflora, os arquitetos defenderam que os setores de arquitetura, a construção civil e o design de interiores podem ser vetores da conscientização sobre questões ligadas ao combate às causas do aquecimento global.

“Precisamos romper com preconceitos em relação ao uso do material, que muitos olham como prejudicial ao meio ambiente quando na verdade ela pode contribuir com a preservação e a redução do aquecimento”, acrescentou a arquiteta.

O movimento dos arquitetos defende incentivos à pesquisa sobre a utilização da madeira de forma consciente e responsável, por se tratar de um material muito nobre que o Brasil tem em abundância.

Arquitetos defendem uso intensivo da madeira

Mariana Moraes, do grupo Verdes Marias, ONG dedicada a inspirar pessoas a ingressarem numa vida mais sustentável, falou sobre os aspectos associados ao meio ambiente, grupos sociais envolvidos e governança de empresas e setores de arquitetura e construção, conceitos hoje valorizados na economia e resumidos na sigla ESG (Environmental, Social and Governance).

Para arquitetos, uso da madeira reduz a emissão de carbono e ajuda a preservar as florestas | Foto: Getty Images

“Critérios de rentabilidade estão mudando com a visão das empresas sobre essas questões”, disse Mariana Moraes.

Marcelo Rosembaum, da Rosenbaum Design, citou exemplos da utilização da madeira em projetos sociais que respeitam as características sociais e ambientais locais, aproveitando o conhecimento sobre as melhores práticas de utilização de madeira de forma sustentável.

Ele citou um projeto de atendimento a crianças no estado do Tocantins, onde a madeira foi usada como material para a construção de um abrigo para 1,2 mil crianças. Outro projeto, no Rio Negro, com marcineiros em parceria com a Fundação Amazônia Sustentável, demosntra como se pode estimular a geração de renda para os povos de floresta como alternatia para ajudar a proteger o meio ambiente.

Nicolaos Theodorakis, da Noah design em madeira, também defende a busca soluções arquitetônica usando materiais sustentáveis. A Noah utiliza a chamada ‘madeira engenheirada’, ou seja, processada industrialmente para otimizar o seu desempenho para uso na construção civil.

Segundo ele, a industrialização da construção, com processos mais modernos, pode otimizar o tempo e os recursos no setor. Hoje, segundo Theodorakis, a construção trabalha no Brasil com cerca de 20% de desperdício de materiais, fator que pode ser reduzido com a industrialização da construção e a utilização de madeira processada.

“Não vejo outro caminho que não seja a maderira engenheirada, que usa madeira de reflorestamento, muito eficiente estruturalmente e flexível para a industrialização, leve e ao mesmo tempo rígida”. Mas, para este avanço, é necessário investir em qualificação de mão de obra, afirma ele.

Cultura de manejo preserva florestas

Para qualquer solução, segundo o arquiteto, é preciso pensar em uma cultura de manejo. Ele citou o exemplo do Canadá, que reservou uma floresta para usar na indústria da construção civil. Criou regras para o uso sustentável e em pouco tempo constatou que o volume de floresta aumentou, pois a cada árvore cortada eles plantavem mais uma ou duas.

Tatiana Tibiriçá, da Ipê Amarelo Construções Sustentáveis em Madeira, afirma que o uso correto e consciente da madeira ajuda a preservar florestas. “O custo ainda é mais elevado, pois a forma de construir no Brasil ainda é muito artesanal e sem técnica. Para superar isso é preciso olhar com outros olhos para novos materiais”, comentou ela.

Segundo a arquiteta, existe ainda muito preconceito sobre ouso da madeira no Brasil, mas hoje existem processos técnicos que garantem a durabilidade da madeira, mesmo sob sol e a chuva, desde que se evite o acúmulo de umidade. “A madeira pode ser um diferencial na construção, que valoriza o resultado”, afirma.

Fernando Golvea, engenheiro florestal do laboratório de produtos florestais, que pesquisa tecnologia de uso de madeira e produtos florestais, citou exemplos de combinação de madeira e bambu. E destacou que a caracterização tecnológica da madeira valoriza especies pouco conhecidas, o que ajuda em planos de manejo florestal.

Segundo ele, o Brasil históricamente tem um problema de superexploração de algumas espécies vegetais, como o mogno, uma das 28 espécies superexploradas, muitas das quais acabaram em processo de extinção.

Arquitetos defendem utilização mais nobre das madeiras brasileira | Foto: Getty Images

“Madeira é pau para toda obra”

Pesquisando uso da madeira em móveis, construção e outras formas de uso de maior valor agregado o laboratório desenvolveu outros tipos de madeira para fabricação de instrumentos musicais e biojoias, entre outros segmentos.

“Madeira é pau para toda obra, precisa apenas entender o que você precisa e as características do material a ser utilizado, mas quanto mais madeira no mundo, melhor para a humanidade”, afirmou.

Kátia Punhagui, do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, lembrou a importância de considerar a origem, tipos de materiais e descarte. “Para cada três casas construidas com concreto armado, o Brasil consome suficiente para fazer uma quarta casa”, afirma ela.

A madeira utilizada em armações de concreto na construção não tem reutilização, e acaba no lixo, em aterro ou é queimada para outros fins. “

O Conselho defende uso da madeira em fins mais nobres, para assegurar a captura do carbono por mais tempo. “Usar apenas como assessório na construção de alvenaria é um grande desperdício, além de prejudicial ao meio ambiente”, afirma.

Ela comenta que a floresta sem uso é como uma casa abandonada, e defende a necessidade de se buscar soluções econômicas para aproveirar os recursos florestais de forma a assegurar a floresta em pé e rentável.

Falta informação sobre uso adequado das espécies vegetais

“Não existe madeira ruim, é preciso saber para qual fim você precisa da madeira, para utilizar a madeira mais adequada para cada fim”, afirma.

Para a arquiteta, falta informação, políticas normativas, legislação, fiscalização e principalmente conhecimento sobre as caractarísticas dos materiais, e só com isso é possível garantir a evolução do mercado.

“Queremos estimular uso da madeira de forma responsável, com zelo pelo ambiente de forma a aproveitar a sua potencialidade”, afirma.

Ela acrescenta: “Além de muito importantes para o desenvolvimento do país, a madeira pode ser protagonistas na construção de novos negócios que utilizam práticas cada vez mais sustentáveis e transparentes”.

A íntegra do debate “Arquitetura do Amanhã 2: Construindo Negócios Sustentáveis”, realizado pelo Imaflora, está disponível no Youtube.

O que é a Imaflora

Baseado na cidade de Piracicaba, desde 1995, o Imaflora é uma instituição sem fins lucrativos que tem como premissa a conservação das florestas tropicais brasileiras. A organização incentiva a boa prática do manejo florestal ao apostar na certificação socioambiental – como recurso de fomento à atividade produtiva– além de incentivar a implementação de políticas públicas para o desenvolvimento sustentável combinado à gestão responsável dos recursos finitos da natureza.

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