Ata do Copom avalia que nova alta dos juros ficou menos provável
A ata da última reunião do Copom reitera que o cenário de retomada do ciclo de alta de juros é menos provável, mas pode ser necessária
09/05/2023A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) avalia que os cenários para a economia que poderiam requerer a retomada do ciclo de aperto monetário se tornaram menos prováveis. Os diretores do Banco Central destacaram que a probabilidade de cenários mais extremos de trajetória da dívida pública se reduziu. Entretanto, apontaram que não houve mudança relevante nas projeções de inflação, uma vez que as expectativas não se alteraram de forma significante.
“Tal comportamento reforça o entendimento de que não há relação mecânica entre a política monetária e o arcabouço fiscal. O Copom enfatizou que a execução da política monetária, neste momento, requer serenidade e paciência para incorporar as defasagens inerentes ao controle da inflação através da taxa de juros e, assim, atingir os objetivos no horizonte relevante de política monetária”, informou o BC, na ata do Copom.
Segundo o BC, não houve grande alteração no cenário prospectivo do hiato do produto. Com relação à inflação de serviços e aos núcleos de inflação, os diretores ressaltaram a maior resiliência e menor velocidade da desinflação nas últimas divulgações.
Os diretores do BC avaliaram que a concessão de crédito no Brasil é compatível com o atual estágio do ciclo de juros, ainda que a oferta de crédito de modalidades específicas esteja diminuindo.
“O Comitê antecipa uma moderação na concessão do crédito ao longo dos próximos meses, mas em linha com o que se observou em ciclos anteriores de aperto de política monetária. O Comitê reforça que o Banco Central possui os instrumentos de liquidez apropriados e necessários, ligados à política macroprudencial, para tratar das fricções relevantes localizadas no sistema, caso ocorram”.
“O Comitê seguirá acompanhando a tramitação e a implementação do arcabouço fiscal apresentado pelo Governo e em apreciação no Congresso. O Copom novamente enfatizou que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, uma vez que a trajetória de inflação segue condicional à reação das expectativas de inflação e das condições financeiras”, informou o BC, na ata do Copom.
Segundo os diretores do BC, um cenário com um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno através de seu efeito no canal de expectativas.
Ata do Copom: retomada do ciclo de ajuste dos juros é menos provável
A ata reitera que o cenário de retomada do ciclo de ajuste é menos provável, ainda que garanta que não hesitará em adotá-lo caso a desinflação não ocorra como o esperado. Na semana passada, o colegiado manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano pela sexta reunião consecutiva.
Na ata, assim como no comunicado, o Copom repetiu que segue “vigilante” considerando a incerteza ao redor dos seus cenários, avaliando se a estratégia de manutenção da Selic por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação para as metas.
“O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária”, repetiu, em meio à forte ofensiva do governo federal pela queda dos juros.
Em relação à decisão deste mês, o BC disse na ata, assim como no comunicado, que a manutenção é “compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante”, que, agora, inclui somente o ano de 2024.
A projeção oficial do BC para o ano que vem é para 2024 é de 3,6% no cenário de referência, acima do centro da meta de 3,0%, e de 2,9% no cenário alternativo, que considera a Selic constante por todo horizonte relevante.
Sobre a manutenção da Selic pela sexta vez seguida, o BC também reafirmou que implica “suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, como também vem defendendo o presidente do BC, Roberto Campos Neto, em eventos recentes. Essas ideias expressas na ata já constaram no comunicado da semana passada.
Os diretores do Banco Central avaliam que o processo de desinflação em curso é mais lento. Segundo os membros do colegiado, a inflação atual é “movida por excessos de demanda, em particular no segmento de serviços”.
Processo de desinflação demanda serenidade e paciência
“O Comitê reafirma que o processo desinflacionário em seu atual estágio demanda serenidade e paciência na condução da política monetária para garantir a convergência da inflação para suas metas”, informou o BC, na ata do Copom.
Os diretores do Banco Central destacaram que a dinâmica da desinflação segue caracterizada por um processo com dois estágios distintos. No primeiro estágio, já encerrado, a velocidade de desinflação foi maior, com maior efeito sobre preços administrados e efeito indireto nos preços livres através de menor inércia.
“No segundo estágio, que se observa atualmente, a velocidade de desinflação é menor e os núcleos de inflação, que respondem mais à demanda agregada e à política de juros, se reduzem em menor velocidade, respondendo ao hiato do produto e às expectativas de inflação futura”, destacou o BC, na ata.
Os membros do Copom também ressaltam o comportamento benigno recente nos preços de atacado, tanto na parte de alimentos quanto na parte de industriais. Além disso, em função de um cenário hídrico confortável para este ano, adotou-se a expectativa de bandeira verde para dezembro de 2023 e para dezembro de 2024.
“Em termos de trajetória de inflação ao consumidor ao longo de 2023, ressalta-se que se espera uma queda relevante na inflação acumulada em doze meses ao longo deste segundo trimestre em função do efeito base do ano anterior. No segundo semestre de 2023, como os efeitos das medidas tributárias que reduziram o nível de preços no terceiro trimestre de 2022 não estão mais incluídos na inflação acumulada em doze meses e ainda se terá a inclusão dos efeitos das medidas tributárias deste ano, se observará elevação do mesmo indicador”, informou o BC.