Consumo e investimento menores devem enfraquecer economia no 2º semestre
Reversão dos estímulos fiscais e aperto mais contundente das condições financeiras pressionam a atividade econômica
21/06/2022
Para o Banco Safra, apesar dos estímulos do governo federal, as perspectivas para a atividade econômica no segundo trimestre são muito moderadas e tendem a enfraquecer para o segundo semestre | Foto: Getty Images
Os indicadores de atividade econômica de abril deram sinais mistos e a incerteza sobre o segundo trimestre se mantém. A indústria manteve-se estável, o varejo cresceu bem e acima do esperado, enquanto os serviços cresceram pouco e abaixo do projetado.
Em relatório sobre o cenário macroeconômico nacional, o Banco Safra aponta que, apesar dos estímulos do governo, as perspectivas para a atividade no segundo trimestre são muito moderadas.
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Nesse sentido, as projeções devem enfraquecer ainda mais no segundo semestre, levando em conta os efeitos esperados da política monetária brasileira mais contracionista e águas mais agitadas no resto do mundo.
A indústria ficou praticamente estável em abril. A produção industrial brasileira avançou 0,1% no mês, em linha com a mediana do mercado, ainda que acima da nossa projeção. A indústria em abril esteve 1,2% abaixo do nível pré-pandemia.
Conforme a análise, o crescimento não foi homogêneo entre os setores, com o índice de difusão mantendo-se em 59%.
Houve surpresa positiva com o avanço de 2,3% no item de ‘Bens de Consumo Não Duráveis”, e negativa com a queda de 5,5% nos ‘Bens de Consumos Duráveis’.
Ambas as categorias vêm caindo desde meados de 2021, após uma rápida recuperação no segundo semestre de 2020, estando agora 26,0% e 7,2% abaixo do período pré-crise, respectivamente.
A categoria de “Bens de Capital” também foi destaque negativo no mês de abril, recuando 9,2% em relação a março. Ao contrário dos ‘Bens de Consumo’, essa categoria se mantém em patamares acima dos do período pré-pandemia.

Segundo o Safra, no varejo, a surpresa em abril foi positiva, independentemente da revisão para baixo do crescimento de março.
As vendas no varejo ampliado cresceram 0,7% na variação mensal, bem acima do projetado pela instituição e pelo consenso do mercado.
Quatro das dez categorias apresentaram alta e a queda de 1,1% em ‘Supermercados’ foi bem menor do que o que o Safra esperava.
O setor como um todo avançou 1,5% contra abril de 2021, estando em patamar 3,3% acima daquele pré-pandemia, apesar do crescimento mensal de março ter sido revisto para baixo, passando de 0,7% para 0,1%. Supermercados avançou 4% na comparação anual, enquanto era esperada queda de 1,1%.
Impacto dos serviços
O setor de serviços mostrou um resultado em abril pior do que o esperado pelo consenso, mas encontra-se 7% acima do nível pré-pandemia.
O volume de serviços avançou 0,2% em abril, resultado entre a projeção do Safra e o esperado pelo mercado (-0,4% e 0,5%, respectivamente).
O resultado melhor em relação à previsão do banco deveu-se em parte à revisão negativa do crescimento de março, que passou de 1,7% para 1,4% na comparação mensal.
Na variação interanual, a alta de 9,4% veio abaixo da projeção do Safra, de 9,9%, e da média do mercado, que era bem mais alta. A surpresa positiva veio exclusivamente da categoria de ‘Serviços Prestados às Famílias’, a qual cresceu 1,9% em abril, ante alta esperada de 0,4%.
Mas, três das cinco grandes categorias apresentaram resultado abaixo do esperado pelo banco. Vale mencionar o grupo de ‘Transportes’, que recuou 1,7% mês-contra-mês – era esperada queda de apenas 0,6%, já considerando a antecipação da colheita da soja.
Esse grupo foi o principal impulsionador do setor de Serviços pós pandemia, estando a atividade em nível 16,7% acima do quarto trimestre de 2019.
Atividade econômica tímida
A atividade econômica deve apresentar expansão modesta no segundo trimestre. Após bom avanço do PIB real de 1% no primeiro trimestre, impulsionado principalmente pelo setor externo, os dados de abril trazem dúvidas quanto ao crescimento no segundo trimestre.
Do lado positivo, a atividade ainda conta com o impulso de medidas fiscais, como por exemplo o adiantamento do 13º salário e a liberação de parte do FGTS, que devem dar algum sustento ao consumo das famílias.
Por outro lado, o aumento da taxa de juros e a ausência de contribuição do setor externo prejudicam o desempenho econômico, sugerindo uma pequena expansão do PIB nesse período.
Incorporando a moderação no segundo semestre, isso deve se traduzir em uma variação do agregado anual perto de 1% em relação a 2021.
Os sinais para o segundo semestre e começo de 2023 indicam um período com desafios para a expansão da economia brasileira.
A reversão dos estímulos fiscais criados pela antecipação do 13º salário e FGTS, e o aperto mais contundente das condições financeiras, na esteira da elevação de juros internos e externos, deverão produzir uma queda no consumo e investimento na segunda metade de 2022, com carrego para 2023.

