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Atividade econômica enfrenta vento contra no segundo semestre

Economia deve desacelerar em consequência do ajuste fiscal e da interrupção da queda de juros, destaca o relatório de macroeconomia do Safra

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Setor externo pesou no PIB, pois parte do consumo foi atendido pelas importações, inclusive de bens intermediários, fazendo-as crescer mais que as exportações | Foto: Getty Images

A economia brasileira apresentou um bom desempenho no começo de 2024, impulsionado pela queda da taxa de juros, um impulso fiscal positivo e um mercado de trabalho forte, destaca o relatório semanal de macroeconomia do Banco Safra. O consumo das famílias voltou a expandir no primeiro trimestre, com alta de 1,5% na comparação com o trimestre anterior (com ajuste sazonal).

Em resposta à maior demanda, as firmas expandiram o investimento em 4,1% em comparação ao trimestre anterior (com ajuste sazonal), e a produção da indústria de transformação apresentou a primeira variação interanual positiva em mais de um ano, crescendo 1,5% em relação ao mesmo período do ano passado (com ajuste sazonal).

O setor externo teve uma pequena contribuição negativa ao PIB, já que parte do consumo foi atendido pelas importações, inclusive de bens intermediários, fazendo-as crescer mais que as exportações.

Os dados preliminares do segundo trimestre indicam a manutenção do crescimento, “com um bemol devido à enchente no Rio Grande do Sul”, destaca o Safra. O banco espera que o PIB cresça no segundo trimestre ao redor de 2,0% na variação interanual, frente aos 2,5% observados no primeiro trimestre.

Grande parte desta queda do crescimento pode ser atribuída a paralisação parcial das atividades econômicas no Rio Grande do Sul em decorrência das enchentes no estado.

A política fiscal e monetária mais restritiva é um desafio para o crescimento do PIB na segunda metade do ano, com reflexos nos mercados de trabalho.

As despesas da União devem desacelerar, como consequência da antecipação de certos gastos do segundo para o primeiro semestre e do compromisso do Presidente com o cumprimento do arcabouço fiscal em face à aceleração das despesas do INSS na primeira metade do ano.

O gasto do governo central acumulado sobre 12 meses deve cair do 20,4% do PIB observados em junho de 2024 para perto de 19,5% do PIB no final do ano. Além disso, os cortes da taxa básica de juros foram suspensos em maio e as taxas mais longas subiram, na esteira das preocupações com a economia americana.

A parada dos juros, com estagnação na bolsa implicam um aperto das condições financeiras, com menos concessão de crédito no restante do ano. Com esse esfriamento da economia, a dinâmica do mercado de trabalho deve piorar vis-à-vis a primeira metade do ano, sem que se espere um aumento significativo do desemprego no período.

Esse esfriamento permitiria o rendimento médio do salário desacelerar, após um período de crescimento mais rápido nos últimos 18 meses.

A contenção fiscal segue-se à expansão de 15% (nominais) do gasto da União na primeira metade do ano comparada com o começo de 2023, puxada em parte pelo adiantamento do pagamento de precatórios e pela antecipação do 13º da previdência, assim como pelo forte aumento de desembolsos do INSS.

O aumento da despesa da Previdência e Assistência Social foi a principal razão para o bloqueio de R$11 bilhões na esteira do terceiro relatório (fiscal) bimestral do governo central. É provável que se venha a ter que cortar R$ 20 bilhões.

Remanejando o pagamento dos precatórios feito no final de 2023 para o início desse ano, a despesa a preços constantes do segundo semestre de 2024 ainda assim estará apenas 1,6% maior do que aquela do mesmo período do ano anterior e menor em quase R$ 100 bilhões da despesa no primeiro semestre de 2024.

A estabilização prevista para as despesas do governo com Previdência, abono, seguro desemprego e bolsa família, enfraquecerá o consumo das famílias nos próximos meses.

A expectativa de uso gradual da renda adicional proporcionada pelo pagamento dos precatórios na virada de 2024 pode ajudar a amortecer o impulso fiscal negativo no segundo semestre, na medida em que as famílias estejam inclinadas a despoupar nesse período.

Freio na queda dos juros restringe o crédito

A suspensão dos cortes da taxa Selic contribui para a restrição ao crédito. Nos últimos meses, as taxas de juros e a inadimplência do crédito para as famílias interromperam a tendência de queda, com a inadimplência até aumentando para alguns segmentos. A piora dessas duas variáveis deve afetar as concessões de crédito nos próximos meses.

O Indicador Safra de Impulso de Crédito perdeu seu vigor no segundo trimestre. Esse índice (apresentado no Semanal Safra de 15 de abril) reflete o fluxo de recursos que o setor não-financeiro recebe do setor financeiro nacional (SFN).

O impulso de crédito tem desacelerado desde a parada no relaxamento da política monetária, indicando que o crédito tem se tornado um canal de transmissão rápida de mudanças nessa política.

O Índice de Condições Financeiras do Banco Central também aponta um aperto financeiro no Brasil. Esse aperto é explicado pelos juros locais, a depreciação do real e das moedas emergentes, capturando ainda a fraqueza da bolsa de valores.

O possível começo dos cortes de juros nos EUA nos próximos dois meses pode levar a um relaxamento das condições financeiras no Brasil no quarto trimestre, especialmente se os mercados encontrarem conforto na política monetária conduzida pelo governo, especialmente a eventual perspectiva das despesas se manterem dentro do prescrito pelo Arcabouço Fiscal. Tal perspectiva daria alento para o crescimento econômico em 2025.

O provável desaquecimento do mercado do trabalho pode se refletir na estagnação da população ocupada e do rendimento médio real do trabalho. A restrição fiscal e monetária no segundo semestre deve gerar um desaquecimento do mercado de trabalho que não deve levar a um salto na taxa de desemprego, mas tampouco trará expansão forte da ocupação do setor privado.

A velocidade e intensidade desse ajuste são difíceis de prever, mas estimamos que a taxa de desemprego feche o ano em 7,2%, atualmente em 6,9% com ajuste sazonal.

Em suma, a economia deverá desacelerar no segundo semestre, refletindo o “vento contra” do ajuste fiscal para se cumprir o Arcabouço e a interrupção da queda de juros. O mercado de trabalho deve se moderar, mas o momento e intensidade de eventual aumento do desemprego ainda são difíceis de prever. Havendo uma acomodação das expectativas de mercados para o crescimento da dívida pública, essa desaceleração da atividade será passageira. Caso contrário, ela poderá se estender por 2025.

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