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Com aversão global a risco, Ibovespa cai 1,43%, a 113,5 mil pontos

Temor de agravamento da crise geopolítica na Ucrânia volta a abalar os mercados e Ibovespa volta aos 113,5 mil pontos

Ibovespa em queda

Ibovespa seguiu o exterior e se inclinou a uma realização de lucros após sete altas seguidas | Foto: Getty Images

O receio de que a tensão em torno da Ucrânia possa se transformar em conflito militar a qualquer momento, conforme sustentam Estados Unidos e aliados ocidentais, conduziu desde cedo os mercados globais nesta quinta-feira, 17, de aversão a risco, em que o econômico voltou a dar lugar ao geopolítico. Em dia de agenda relativamente vazia, o Ibovespa seguiu o exterior e se inclinou a uma realização de lucros após sete altas seguidas, todas inferiores a 1% – ainda assim, a mais longa série de ganhos desde a virada de maio para junho do ano passado.

No fim do dia, o Ibovespa fechou em baixa de 1,43%, a 113.528 pontos, entre mínima de 113.389,12 e máxima de 115.214,29 pontos, saindo de abertura aos 115.180,69. O giro foi de R$ 33,6 bilhões na sessão.

Na semana, o Ibovespa passa a cair 0,04%, ainda ganhando 1,23% no mês – em 2022, a alta é de 8,31%. Em Nova York, as perdas do dia, acentuadas ao longo da tarde, ficaram entre 1,78% (Dow Jones) e 2,88% (Nasdaq) no fechamento. O dólar fechou em alta de 0,76%, cotado a R$ 5,17. Já o euro subiu 0,51%, a R$ 5,87.

Tensão externa abala o Ibovespa

Em meio à retórica do Ocidente, de que a retirada de tropas russas da fronteira com a Ucrânia foi uma encenação e de que a Rússia está pronta a invadir o vizinho, do qual já havia anexado a Crimeia em 2014, Moscou decidiu expulsar o número 2 da diplomacia americana no país.

“O Ibovespa ficou bastante pesado com essa aversão a risco desde o exterior, e, além disso, o minério de ferro caiu 6% hoje no mercado chinês, com recuo (global) também no petróleo após a França sinalizar avanço nas conversas com o Irã sobre o acordo nuclear. Então, não tivemos apoio das commodities, que era o que estava salvando (o Ibovespa) nesse momento de tensão”, diz Flávio de Oliveira, head de renda variável da Zahl Investimentos.

“Apesar de a Rússia ter dito que retiraria tropas, o mesmo não se confirmou, e os Estados Unidos ainda afirmam que haverá invasão, o que corrobora esse sentimento de aversão a risco. Nos dados econômicos, os pedidos semanais de auxílio-desemprego nos Estados Unidos subiram acima do consenso. Após a ata de ontem, ainda há divisão sobre o que virá na reunião de março do Federal Reserve, um aumento de 0,25 ou de 0,50 ponto porcentual (na taxa de juros de referência)”, diz Romero de Oliveira, head de renda variável da Valor Investimentos.

“Um ponto a ser destacado na ata refere-se à velocidade no aumento da taxa de juros, que, dessa vez, pode ser mais acelerado do que na última elevação de juros nos EUA, em 2015, segundo os integrantes do Comitê, caso a inflação não recue conforme o esperado”, aponta Paloma Brum, analista da Toro Investimentos.

“Essa sinalização de um ritmo mais rápido no ciclo de alta dos juros americanos, em conjunto com um cenário brasileiro potencialmente mais turbulento em ano eleitoral, reforça visão de que podemos observar Selic ainda mais alta do que os 11,75% previstos pelo Copom para o final de 2022”, acrescenta.

Na geopolítica, após um breve momento de distensão, a percepção é de que eventual erro de cálculo possa precipitar um conflito, não necessariamente a partir da Ucrânia. Nesta movimentação militar entre Ocidente e Rússia como não se via desde o fim da Guerra Fria, jatos russos teriam interceptado de forma arriscada aviões da Marinha americana que sobrevoavam águas internacionais no Mediterrâneo.

Na B3, destaque positivo nesta quinta-feira para Totvs (+5,81%), Marfrig (+4,22%), Energias BR (+3,63%) e Sabesp (+1,68%). Na ponta oposta, o complexo minero-siderúrgico, pela ordem com CSN, Gerdau Metalúrgica (-5,39%, na mínima do dia no fechamento), Gerdau PN, Vale, Usiminas e CSN Mineração (-3,92%), com apenas Eztec (-4,30%), fora do grupo, entre os piores desempenhos do dia.

Crise geopolítica respinga no câmbio

Temores renovados de uma eventual invasão russa à Ucrânia, após declarações de autoridades dos Estados Unidos e da Otan, levaram investidores a reduzir posições em ativos de risco e buscar abrigo em Treasuries e no dólar, movimento que acabou respingando no mercado doméstico de câmbio.

Após três pregões consecutivos de queda, em que acumulou desvalorização de 2,18%, o dólar subiu por aqui, embora não tenha encontrado forças para se aproximar novamente do patamar de R$ 5,20. Operadores ressaltam que uma pausa para correção e realização de lucros já era esperada – e que não muda a tendência principal de fortalecimento do real. A crise ucraniana e o recuo do petróleo e do minério de ferro – este sob impacto de medidas do governo chinês – apenas serviram de gatilho para um rearranjo técnico de posições.

Com mínima de R$ 5,1284 e máxima de R$ 5,1836, o dólar à vista acabou encerrando o pregão a R$ 5,1669, em alta de 0,76%. Na semana, a moeda apresenta desvalorização de 1,44% e, em fevereiro, já perde 2,62%. Na B3, o dólar futuro para março subiu 0,60%, a R$ 5,18150, com giro de US$ 11,38 bilhões. No exterior, o DXY – que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – operou em leve alta, ao redor dos 95,800 pontos, sobretudo por conta do enfraquecimento do euro. Entre as divisas emergentes e de exportadores de commodities, quem mais apanhou foi, por motivos óbvios, o rublo. (AE)

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