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Banco Safra revê estimativa do PIB em 2021 para 3,9%

Banco revê estimativa que estava em 3,4%, mas diz que endividamento das famílias e crise de energia tendem a arrefecer crescimento

Navio no porto

As condições para que o PIB apresente crescimento em torno de 4% em relação a 2020 parecem já realizadas, segundo o Safra | Foto: Getty Images

O Banco Safra elevou a estimativa para o PIB do Brasil em 2021 de 3,4% para 3,9%, de volta o nível projetado no começo do ano. Com isso, o nível de atividade voltará para o mesmo patamar de 2019 ainda no meio deste ano, com o PIB no 4º trimestre de 2021 crescendo 0,4% sobre o último trimestre de 2020.

Para o Banco Safra, a redução do poder de compra, o alto endividamento das famílias e o desafio energético sustentam a expectativa de desempenho moderado no segundo semestre, que deve se traduzir em crescimento do PIB de apenas 1,8% em 2022.

O otimismo visto no mercado, segundo a análise do Safra, tem sido motivado pela reavaliação da situação fiscal, “vista com exacerbabda preocupação até recentemente”. Parte substancial do bom desempenho fiscal, segundo o Safra, tem a ver com o aumento das receitas tributárias, muito impulsionadas pela atividade industrial e pelo aumento dos preços, que servem de base para os impostos indiretos, como PIS-Cofins.

Impacto dos aumentos de preços

O aumento de preços também ajuda a aumentar o PIB nominal, diz o Banco Safra, ainda que não contribua para o PIB real.

O deflator do PIB deve ficar próximo a 8% em 2021, permitindo que o PIB nominal cresça perto de 12%.

Com isso, e a capacidade do Tesouro Nacional se financiar a taxas mais baixas, a relação dívida/PIB deve continuar caindo, devendo fechar o ano próximo a 85%, segundo o banco.

Ainda que esses números se deem por motivos negativos e possam ter efeito passageiro, eles têm sido motivo de certa celebração pelos mercados, influenciando possivelmente o câmbio.

Banco Safra vê Otimismo crescente, apesar do risco energético

Para o Safra, o otimismo com o desempenho da economia brasileira em 2021 continua aumentando, apesar do espectro de uma eventual crise energética ter se tornado mais concreto.

As condições para que o PIB apresente crescimento em torno de 4% em relação a 2020 parecem já realizadas, segundo o Banco Safra, citando o nível de atividade econômica verificado no primeiro trimestre e alguns indicadores do segundo trimestre.

Os riscos considerados para a segunda metade do ano, no entanto, limitam a possibilidades visíveis hoje para um crescimento muito acima do valor que o banco estima atualmente.

Queda menos aguda da atividade e do PIB

A queda da atividade foi bem mais branda do que o Safra havia estimado para março, o que aumentou a projeção do banco de expansão do PIB real do primeiro trimestre para 0,7% em relação ao quarto trimestre do ano passado, com ajuste sazonal.

Apesar de já previsto de que a economia se adaptaria melhor ao choque da segunda onda de Covid-19, a adaptação foi ainda maior e a atividade recuou apenas 1,6% segundo o IBC-Br em março e deve ter apresentado relativa estabilidade em abril.

A expectativa do Safra para o segundo trimestre também melhorou. A recuperação da atividade em maio tem sido muito
significativa, ainda que o ímpeto observado por volta do Dia das Mães tenha se arrefecido.

Com isso, o banco alteriou a estimativa para uma redução do PIB real de apenas 0,1% no segundo trimestre em relação ao primeiro trimestre e crescimento de 11,0% em relação ao mesmo trimestre de 2020.

Desafio energético

Olhando para o segundo semestre, além da redução do poder de compra e a necessidade de despoupança pelas famílias, tem surgido o risco de problemas de suprimento de energia elétrica durante o período de seca e talvez além, adverte o Safra.

As chuvas no início deste ano foram extremamente baixas (a pior crise hidrológica em 91 anos, segundo Ministério de Minas e Energia), o que se traduziu em reservatórios muito baixos ao final da estação chuvosa em março nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.

Além disso, verificou-se que a inflexibilidade hídrica, isto é, a necessidade de manter o fluxo dos rios em situações de baixa afluência nas nascentes era maior do que as autoridades haviam estimado. Em outras palavras, o órgão responsável por determinar a geração de cada hidroelétrica, o Operador Nacional do Sistema (ONS) descobriu que havia várias barragens em que a vazão não podia ser diminuída, por conta dos múltiplos usos da água.

Esses usos têm a ver tipicamente com irrigação, navegação ou a proteção ambiental. Apenas em 28 de maio, o governo declarou a situação de emergência hídrica, o que permitirá reduzir de forma mais efetiva essas vazões para tentar estabilizar o nível dos reservatórios da região.

Preservação dos reservatórios

A importância de se preservar os reservatórios no Sudeste e Centro-Oeste, segundo a análise do banco, decorre do fato de que a geração hidroelétrica do Norte é extremamente sazonal, pois as chuvas escasseiam no meio do ano e as usinas da região não têm reservatórios em função do baixíssimo desnível dos cursos de água naquela região.

Enquanto até o segundo trimestre o Norte consegue gerar mais de 12GW médios, essa produção cai para menos de 5GW no meio do ano, e essa diferença não pode ser suprida apenas pelas térmicas e alternativas, quando a geração no Sudeste e Centro-Oeste também é muito prejudicada pela falta de água nos reservatórios.

Com o novo arranjo, que deve permitir dispor de água no Sudeste e Centro-Oeste no 3º trimestre, as fontes térmicas, eólicas, solares, e biomassas provavelmente serão capazes de atender a demanda nacional.

O maior risco nesse cenário seria de picos de carga ao longo do dia não poderem ser respondidos, o que geraria instabilidades e quedas no sistema. Para evitar isso, pode ser importante complementar as ações de gestão da oferta de energia com um esforço de diminuição da demanda industrial e residencial nos próximos meses, uma opção que o governo já vem considerando, quer por estímulo à redução do consumo, quer mediante algum tipo de racionamento.

Uso da poupança

Não havendo uma restrição muito forte da oferta de energia elétrica, a queda da massa salarial real e as limitações à expansão do crédito poderão ser compensadas, ao menos parcialmente, pela aceleração do uso da poupança acumulada no ano passado. Essa pode ser a estratégia de sustentação do consumo das famílias e atividade das empresas, diz o Safra.

“Já é possível ver uma diminuição da liquidez disponível pelo setor privado, com redução do M2 e do estoque da caderneta de poupança. Essa redução da poupança pode estar sendo usada para o financiamento de consumo das famílias”, analisa o banco.

Como o Safra estima que a poupança líquida das famílias aumentou em R$ 560 bilhões no ano passado, contra uma média de R$ 160 bilhões nos últimos 4 anos, “é razoável supor que a poupança nesse ano seja não só muito menor do que o normal, mas até mesmo negativa”.

“Estimamos que se houver uma poupança negativa (despoupança) de R$ 50 bilhões em 2021, o consumo poderá crescer 3,8% em relação a 2020, sustentando um crescimento do PIB de 4%. Essa projeção, evidentemente, é cercada de incerteza, visto se basear em hipóteses comportamentais em uma situação sem precedentes”.

Forte arrecadação de impostos

“A arrecadação de abril de 2021 mostrou-se forte não só em relação a abril de 2020, mas também em relação a anos anteriores, inclusive 2014. Deflacionando as receitas pelo IPCA, verifica-se que a arrecadação total foi 4% maior do que em abril de 2019, antes da pandemia”, diz a análise do Safra.

O banco diz que o destaque de arrecadação tem a ver com a importação, tanto por conta do imposto de importação (+32% em relação a 2019), quanto do IPI (+38%), puxado pelo IPI importação, como indicado pela Receita Federal.

Também merece menção, na análise, a força do IR retido na fonte associado ao rendimento do trabalho. Evidentemente há flutuações sazonais nesse caso, mas ainda assim verifica-se um aumento de 6% em relação a 2019 e valores surpreendentemente altos para anos anteriores.

“Em conclusão, o desempenho recente da arrecadação tem sido vigoroso, o que associado a limitação do gasto, até abril, à regra do duodécimo da despesa do ano anterior, permitiu um resultado primário muito expressivo. Quando houver maiores gastos, inclusive por fora do Teto do Gasto (EC 95) nos próximos meses, e uma acomodação da economia que resulte em uma receita um pouco menos vibrante, os resultados podem diminuir um pouco. Ainda assim, esperamos um resultado primário para o governo central em 2021 próximo a déficit de R$ 200 bilhões, ou seja, bem melhor do que o déficit previsto pelo governo em março, de R$ 227 bilhões”.

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