Botafogo volta à elite do futebol e busca glória também nas finanças
Campeão da 2ª divisão do Campeonato Brasileiro, o Glorioso estará na elite do futebol em 2022, o que ajudará em sua reestruturação financeira
26/11/2021Após um início de temporada difícil, o Botafogo de Futebol e Regatas alcançou a redenção, conquistando o título do Campeonato Brasileiro da Série B e o acesso à elite do futebol nacional em 2022. Ambos vieram com a vitória por 1 a 0 sobre o Brasil de Pelotas-RS no último domingo, 21.
E mais do que a alegria de ser campeão e voltar à Série A, as conquistas do ‘glorioso’ ajudam na reestruturação pelo qual o time passa, depois do rebaixamento em 2020 – o terceiro, depois de 2002 e 2014.
No domingo, 28, a equipe de General Severiano enfrentará o Guarani pela última rodada. O time de Campinas (SP) ainda briga pela última vaga de acesso à primeira divisão do Brasileiro. Os outros garantidos na elite do ano que vem até o momento são Coritiba e Goiás.
O processo de reconstrução do Botafogo, que vive uma grave crise financeira, tendo mais de R$ 1 bilhão em dívidas, passa por se tornar uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Ou seja, uma empresa.
No ano passado, o time, terminou com um prejuízo líquido de R$ 139 milhões, resultado negativo em 535% sobre o déficit de R$ 22 milhões de 2019, e acordo com análise de dados feita pela consultoria Sports Value.
A ideia de se tornar uma empresa remonta de 2019 e foi dada pelos irmãos João e Walter, da tradicional família Moreira Salles.
Desde então, o clube vem escalando aprovações internas e aguardando por mudanças na lei que permitam a conversão. Em outubro, o clube anunciou a contratação de uma instituição financeira (XP Investimentos) na busca por investidores.
“Nós entendemos que apesar do enorme desafio financeiro é possível reestruturar a dívida e ao mesmo tempo captar novos investimentos. Temos ativos valiosos, que vão desde os atletas até a tradição, o peso da marca e o tamanho da torcida”, disse o CEO do Botafogo, Jorge Braga, em nota sobre a contratação da XP.
Com bons resultados, o time melhora as perspectivas de receitas e, consequentemente, de estabilização das finanças.
“No mínimo, as receitas voltam ao patamar anterior (de 2019), com a melhora na questão do estádio, que perdeu muito com a pandemia. Então vai crescer em sócio torcedor, bilheteria e a própria exploração do Nilton Santos e, principalmente, na questão da TV”, analisa Amir Somoggi, sócio diretor da Sports Value.
Benefícios de campeão
Diferentemente do que acontece na Série A, os clubes da Série B recebem uma premiação igual da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) pela participação no campeonato: cerca de R$ 8 milhões.
Por outro lado, na elite do futebol brasileiro os times recebem a bonificação de acordo com a posição na qual terminam.
Porém, ser campeão da segunda divisão nacional tem um grande bônus referente ao segundo torneio nacional mais importante, a Copa do Brasil.
O título garante entrada direta na terceira fase da competição. Neste ano, quem jogou esta fase embolsou R$ 1,7 milhão.
A CBF ainda não definiu o prêmio de participação da próxima edição, mas estima-se que o valor seja acima do deste ano.
Adicionalmente, por ser um time Top 15 no ranking da CBF (ranking completo), o Glorioso recebe mais do que clubes abaixo desse grupo ao entrar na Copa do Brasil.
Fora isso, os clubes que entram na primeira rodada sofrem mais com desgaste físico e têm a necessidade de uma logística maior - com a chance de serem eliminados precocemente.
Nesta temporada, o clube foi eliminado pelo ABC de Natal, nos pênaltis, na segunda rodada.
Acesso à elite esportiva e financeira
Entrar para a Série A significa aumentar consideravelmente as receitas com cotas de transmissão de TV.
Hoje, os direitos de transmissão da elite do futebol na TV aberta é da Rede Globo, que distribui 40% da verba total pelo direito igualmente entre os times.
Outros 30% são distribuídos conforme o número de partidas transmitidas. Por fim, mais 30% é direcionado de acordo com a posição final no campeonato.
Contudo, a receita com a TV só chegará ao Botafogo a partir do segundo trimestre do ano que vem, quando começa o Brasileirão.
"No todo, temos aí uma volta do clube que pode vir a faturar próximo de R$ 250 milhões e, quem sabe, mais perto de R$ 300 milhões", projeta Somoggi.
Além das cotas, como mencionado, cada participante da Série A recebe uma premiação conforme sua posição final.
Em 2021, o campeão brasileiro engordará os cofres com R$ 33 milhões da CBF.
Entretanto, os quatro últimos colocados terminaram sem nem um centavo - o que é motivo de polêmica por afetar de forma contundente o planejamento financeiro do time que é rebaixado.
Sendo assim, para garantir um mínimo de premiação na Série A em 2022, o Botafogo tem que terminar pelo menos na 16ª posição.
Neste ano, que escapar do rebaixamento nessa colocação receberá R$ 11 milhões.
Botafogo e o Nilton Santos
Casa da Estrela Solitária há alguns anos, o Estádio Nilton Santos, popularmente conhecido como Engenhão, continua nos planos do clube para os jogos das próximas temporadas.
Recentemente, dirigentes botafoguenses começaram a negociar com a Prefeitura do Rio de Janeiro e com a construtora WTorre.
Conforme o GloboEsporte, na conversa com a administração pública, o tema é a extensão por mais dez anos da concessão do local, válida no momento até 2031.
Já com a iniciativa privada a questão envolve uma administração conjunta do local.
No ano passado, o Nilton Santos deu prejuízo de R$ 7 milhões. Adicionalmente, o Botafogo tem uma dívida com a prefeitura carioca, o que emperra a extensão do direito de uso.
Se conseguir ampliar a concessão, a equipe alvinegra planeja oferecer à construtora a operação administrativa do local, sendo que o clube teria participação nos lucros com eventos e outras formas de exploração do estádio.
Isso pode alavancar a rentabilidade do local, tanto com a bilheteria como com o aluguel do espaço físico.
A WTorre opera o Allianz Parque, casa do Palmeiras, em São Paulo, e está à frente do projeto da nova Vila Belmiro, estádio do Santos, na Baixada Santista.
Engajamento da torcida do Botafogo nas redes sociais
Tradicional, o Botafogo, embora não tenha uma torcida tão numerosa quanto seus rivais no Rio de Janeiro, mostra que tem potencial para engajar sua torcida.
Análise da Sports Value e da plataforma de monitoramento de redes Zeeng mostra que o time é o 16º colocado com mais interações nas redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter e YouTube) na América Latina.
Só entre os dias 1º e 24 de novembro, o clube teve 9,3 milhões de curtidas, comentários e compartilhamentos em suas contas oficiais. Isso é mais que o dobro da média mensal, segundo a Sports Value e a Zeeng.
Entre janeiro e outubro deste ano, ao todo, os botafoguenses interagiram 41 milhões de vezes.
Também foram registradas 7 milhões de visualizações no canal oficial do clube nos dez primeiros meses de 2021.
Sendo assim, o Botafogo está à frente de times como Grêmio, Bahia e Athletico Paranaense - tendo este último sido campeão da Conmebol Sul-Americana deste ano.
Por isso, caso tenha resultados esportivos satisfatórios em 2022, o clube pode ver um crescimento de seguidores, engajamento e, por consequência, de receitas vindas das mídias digitais.