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Olfato de cães pode ser usado para detectar câncer

Projeto francês, que está sendo desenvolvido em Petrópolis (RJ), treina animais para identificar estágio inicial da doença pelo cheiro

cão farejador

No Brasil, já há um cão formado e outros dois em treinamento. Projeto pode ser usado pelo SUS, no futuro | Foto: Sociedade Brasileira de Mastologia

Um projeto desenvolvido em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, treina cães para a detecção precoce do câncer de mama.

O Projeto KDOG, idealizado por um centro de pesquisa e tratamento do câncer na França, é uma ferramenta promissora para que o Sistema Único de Saúde (SUS) ofereça diagnósticos gratuitos à pessoas de baixa renda no futuro.

Em 2020 foram registrados mais de 66 mil casos de câncer de mama no Brasil entre mulheres, segundo o Instituto Nacional do Câncer. O número de mortes ultrapassou 17 mil. O Dia Mundial do Câncer é lembrado nesta quinta-feira, 4.

O KDOG foi criado pelo Instituto Curie, que tem sede em Paris. O projeto chegou ao Brasil graças à parceria da instituição com a Sociedade Franco-Brasileira de Oncologia.

Desenvolvimento

O Projeto KDOG consiste no treinamento de cães para o trabalho de biodetecção precoce de câncer em estágio inicial.

O Instituto Curie tem mais de sete anos de pesquisas sobre o tema. A biodetecção utiliza animais ou outros organismos vivos para detectar substâncias ilícitas ou perigosas e agentes patogênicos.

O projeto brasileiro treina os cães para detectar mais de 40 tipos de câncer de mama em um laboratório, onde cones oferecem diversas amostras de odores do corpo humano.

O método descarta o contato físico entre o animal e as pessoas, para evitar estresse das duas partes. Assim que realiza a detecção, o cão recebe um brinquedo ou petiscos como recompensa.

Em Petrópolis, já há um cão formado para a função e outros dois em treinamento

De acordo com Leandro Lopes, responsável técnico pelo projeto no Brasil, os cães são amigos dos cientistas e tratados com o máximo de cuidado. São vacinados, vermifugados e fazem exames de sangue semestrais.

“Não são cães robotizados, não são cães de laboratório. São cães felizes que, na hora de desconcentração, estão brincando com bolinhas, se esfregando na grama. São nossos amigos”, diz Lopes.

Como é a detecção do câncer

O protocolo para a obtenção de amostras que serão submetidas aos cães é simples.

O projeto recomenda a homens e mulheres lavar as mãos antes de dormir, com sabonete neutro, e colocar compressas entregues em um kit sobre as duas mamas, retirando-as ao acordar, após nova lavagem das mãos com o sabonete neutro.

As compressas são colocadas então em um saco e enviadas para o projeto, onde são submetidas ao olfato dos animais no laboratório.

Os cães ficam estáticos em frente à amostra que der positivo para câncer de mama, relata Lopes.

O especialista explica que o câncer é uma modificação biomolecular que vem do corpo humano. Por isso, exala cheiro que, muitas vezes, é imperceptível para o homem, mas não para os cães.

O trabalho de biodetecção tem uma acertabilidade de 91,8%, comprovada cientificamente e seguindo parâmetros do projeto na França.

O projeto é aplicável também para pessoas que já tiveram câncer de mama, direcionando-as para a fila de atenção, caso um novo tumor seja detectado.

No entanto, o trabalho não elimina os protocolos tradicionais para detecção de câncer, como mamografia e outros exames.

“O KDOG vem para antecipar isso, para tentar colocar as pessoas em uma triagem, para chegar mais rápido ao mamógrafo”.

Acesso à saúde

Lopes diz que o método pode ajudar, principalmente, populações distantes dos grandes centros, como indígenas e ribeirinhos.

Além disso, em um futuro próximo, a intenção é disponibilizar o projeto ao SUS para o acesso de pessoas carentes.

Os cães deverão concluir 100% do treinamento previsto no primeiro semestre de 2021. A estrutura montada prevê o treinamento de seis cães desde filhotes.

Devido ao seu cônico olfativo, com muitos receptores de cheiros, os pastores alemães, belgas ou holandeses têm a preferência para esse trabalho de rastreamento precoce do câncer de mama por meio dos odores.

Outras raças têm sido aprovadas no mundo, como o braco alemão, também conhecido como perdigueiro, e o jack russel, porque são ligadas à rusticidade.

“São cães dinâmicos, com cônico olfativo interessante, rudimentares, que gostam de trabalhar”, explica Lopes. (Com Agência Brasil)

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