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Expansão das apostas online eleva inadimplência, afirma Campos Neto

Ao abrir a J. Safra Brazil Conference, presidente do BC destacou a expansão das bets e impacto no crédito e risco para os juros; presidente do Banco J. Safra, José Olympio, destacou o propósito da instituição de oferecer informações relevantes e propiciar conexões valiosas para decisões estratégicas

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, destacou o crescimento do PIB acima do esperado e a preocupação com a inflação, ao abrir a J. Safra Brasil Conference | Foto: Divulgação

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participou da abertura do J. Safra Brazil Conference nesta terça-feira, destacando os principais temas que estão na pauta da autoridade monetária. Ele analisou a conjuntura da inflação e crescimento no Brasil e nas principais economias do mundo. Ele destacou a procupação do BC com o crescente volume de apostas online, o que já começa a causar aumento da inadimplência especialmente na baixa renda.

O evento foi aberto pelo presidente do Banco J. Safra, José Olympio, que destacou o propósito da instituição de oferecer informações relevantes e propiciar conexões valiosas para decisões estratégicas do mercado. Ele citou temas de destaque que estão na pauta do J. Safra Brasil Conference, como a expectativa de crescimento da economia, tendência dos juros, ajuste fiscal, conjuntura internacional e questões climáticas, entre outros.

Sobre a economia brasileira, Campos Neto disse que o crescimento do PIB é maior do que os economistas esperavam, o que tem levado a uma onda de revisões das projeções para cima, não só para o crescimento em 2024 mas também em 2025. Ele citou as queimadas, que aparecem com maior frequência justamente nas áreas que concentram a produção de alimentos, e que isso aumenta as preocupações com a inflação futura. Ele citou o mercado de trabalho aquecido, que também alimenta a inflação, mas destacou que os investimentos também estão crescendo, assim como a concessão de crédito.

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Expansão das bets eleva a inadimplência, destaca Campos Neto

Uma grande preocupação do Banco Central, segundo Campos Neto, é o aumento da inadimplência, especialmente na baixa renda, associado à expansão das empresas de apostas online. Ele disse que o Banco Central registrou um aumento de 200% no ticket médio do Pix para pagamento de apostas. Mas o presidente do BC destacou que não é função da autoridade monetária regulamentar o setor de apostas eletrônicas, mas sim contribuir para que o governo possa tomar as decisões relacionadas ao problema.

Segundo ele, o crescimento acelerado as apostas e jogos on-line começa a levantar suspeitas de uma possível piora na qualidade do crédito, devido ao comprometimento da renda dos trabalhadores.

“Essa tendência está gerando a percepção de que a gente possa ter uma piora na qualidade do crédito com comprometimento grande da renda. Estamos tentando ajudar o governo e o Congresso com os dados que a gente tem e o crescimento é muito grande. A correlação entre pessoas que recebem Bolsa Família, pessoas de baixa renda, e o aumento das apostas tem sido bastante grande. Conseguimos mapear o volume de Pix para essas plataformas e o crescimento de janeiro pra cá foi muito grande. A gente pega o ticket médio e subiu mais de 200%. É uma coisa que chama atenção e a gente começa a ter a percepção de que vai ter um efeito na inadimplência na ponta”.

Sobre a China, Campos Neto analisou a estratégia do país de trocar o modelo baseado no consumo para a volta da economia baseada em exportações, mas com foco em produtos de alta tecnologia, diferentemente do passado. O novo modelo, porém enfrenta a crescente tendência de maior protecionismo na economia global, especialmente nos Estados Unidos.

A elevação das taxas de importação nos EUA – qualquer que seja o resultado das eleições de novembro – e a dificuldade de crescimento da Europa e da China, podem dificultar o crescimento da economia mundial, segundo o presidente do BC. “Com desaceleração global, os bancos centrais ficam com menor margem para atuar no combate à inflação”, afirmou.

Questão fiscal é destaque na apresentação

Para o presidente do BC, o mercado exagera no prêmio de risco relativo à política fiscal do governo. “Olhando os preços de mercado, parece ter havido um exagero.”
“Temos agora um momento onde existe por parte do mercado uma apreensão maior com o fiscal, nem só com a dívida, mas mais recentemente sobre a transparência dos números, e tem um aumento do prêmio na ponta relacionado a isso. Surgiu esse tema da qualidade dos dados fiscais, então é importante acompanhar, mas precisamos ver em um horizonte um pouco mais longo, passar por esses ruídos de curto prazo”, afirmou.

“Tem muita coisa de discussão de novos gastos, programas, tem essa incerteza em relação ao que vai ser nos próximos anos, sobre a trajetória de dívida. E não é só no Brasil, outros países do mundo também passam por isso, vai ser um tema mais relevante no ambiente global.”

Ele apontou que o BC não olha só dados de mercado, mas também os próprios modelos, expectativas dos economias, curva futura de juros, inflação implícita, entre outros.
“Percebemos mais recentemente um aumento no prêmio de risco, que se refletiu ao longo da curva. O mercado parece estar com dúvidas em relação à transparência dos números fiscais. Olhamos essa preocupação e tem a percepção que parece exagerada, dado o que aconteceu. Não é nossa função julgar os preços de mercado e sim entender o que tem de informação e que podemos usar na nossa função reação.”

Ele ressaltou que sempre que há um choque positivo na área fiscal, os juros tendem a cair. Ele citou como exemplos a implementação do teto de gastos, a reforma da Previdência e o novo arcabouço fiscal. “Com choques fiscais positivos, o país foi capaz de cair juros e trabalhar com juros mais baixos por mais tempo. É um movimento de queda de juros muito associado com a credibilidade fiscal.”

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