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Carro antigo é um bom investimento?

Eles fazem sucesso e até garantem renda aos colecionadores, mas o segredo do negócio é saber pesquisar o mercado

Douglas Nascimento com o Plymouth Special Deluxe 1948

O fotógrafo Douglas Nascimento, de São Paulo, com o seu Plymouth Special Deluxe 1948: carro com história | Foto: Arquivo pessoal

Muita gente gosta de passear com um carro antigo restaurado com capricho. Os veículos fabricados entre os anos 1970 até 1990 estão na moda entre colecionadores. Bem conservados e com peças originais, podem custar bem mais que um carro moderno novo.

Alguns colecionadores lucram com a compra, venda ou aluguel de modelos antigos. No caso das locações, os velhinhos fazem sucesso para transportar noivas em casamentos e aparecem com frequência em filmes e comerciais de época. Alguns proprietários têm tanto ciúme dos carros que só alugam se eles mesmos forem os motoristas.

Nos sites de venda de modelos usados é possível encontrar ofertas de Kombis por mais de R$ 150 mil, Karmann Ghia por R$ 110 mil ou mesmo um Fiat 147 por R$ 40 mil. Diferentemente do mercado de modelos novos, aqui a escala de valores varia muito e tem fatores subjetivos na conta.

Modelos são associados a boas lembranças

O aspecto nostálgico e até charmoso tem uma explicação psicológica, segundo o educador financeiro José Vignoli. “A pessoa que na juventude sonhava em ter um carro e não tinha dinheiro para comprar sente uma grande satisfação em poder resgatar aquele sonho”, explica. Muitos querem ter o carro igual ao do pai ou do avô, no qual passeavam na infância. O prazer associado às boas lembranças costuma inflacionar os carros velhinhos bem conservados.

Com experiência de 30 anos no mercado financeiro, Vignoli comenta que o preço da realização desse sonho varia de acordo com o perfil da pessoa e do valor afetivo. “Muitos colecionadores gastam mais do que será possível recuperar algum dia, e eles nem pensam em vender”. Se o carro está na família há muito tempo, ou pertenceu a um parente, a venda só acontece em caso de verdadeira necessidade.

Mas não é apenas a emoção que movimenta este mercado. Existem muitas pessoas que conhecem bem o assunto e fazem bons negócios, garimpando ofertas e depois procurando peças para a restauração. Até grandes empresas já perceberam o potencial das raridades automotivas.

Land Rover entra no ramo de restauração

A Land Rover, por exemplo, acaba de anunciar a abertura de uma oficina em sua unidade de Itatiaia, no Estado do Rio, especializada na restauração dos seus modelos clássicos. A Clínica de Restauração Jaguar Land Rover vai atender até 12 veículos de cada vez. Os carros serão totalmente desmontados, reparados e repintados de forma artesanal e de acordo com os padrões originais de qualidade da marca.

“Os modelos clássicos da Jaguar Land Rover têm histórias únicas e relacionadas a experiências vividas pelos seus donos” diz Wiliam Oliveira, gerente responsável pela Clínica de Restauração. “Esse trabalho cuidadoso de restauração também visa preservar essas histórias”, complementa.

O príncipe Philip, que morreu em abril, gostava tanto da marca que cuidou pessoalmente da restauração de uma picape Land Rover TD5 130 para transportar o caixão no seu próprio funeral. Pensando nos que sonham com um Land Rover restaurado, a empresa também abre sua fábrica e a Clínica de Restauração para visitas guiadas.

Cuidados na hora de fazer negócio

Um carro em mau estado de conservação, necessitando de reparos de funilaria e pintura, recuperação de tapeçaria e mecânica pode acabar custando caro. Há oficinas que fazem reforma, mais barata que a restauração, mas o resultado não é o mesmo para os que conhecem o assunto. O carro pode ficar bonito com uma boa reforma, mas o valor é maior quando o veículo recupera plenamente sua originalidade em detalhes como a cor da carroceria, estofamento e forração. E são importantes os detalhes como rádio, rodas, calotas e para-choques.

O fotógrafo Douglas Nascimento, pesquisador da história de São Paulo e editor do site São Paulo Antiga, tem uma pequena frota de dez veículos antigos restaurados. Ele conta que começou a coleção em 2011, quando comprou um Volkswagen 1600, conhecido como “Zé do Caixão”, o carro que seu pai tinha quando ele era criança. Sua esposa Heloísa comprou em seguida um Ford 1929. Hoje ele tem também uma Mercedes 230 vermelha fabricada em 1966, um Plymouth 1948, um Corcel 1970 e diversas outras raridades.

De tanto ser procurado por pessoas interessadas em alugar os veículos, ele acabou criando uma empresa de locação, mas é ele quem dirige os automóveis. Para casamentos, ele cobra R$ 1.200,00. Segundo ele, os carros são muito procurados pelos noivos para dar à festa um ar de distinção social e garantir boas fotografias como recordação.

Ford modelo A 1929: sucesso em casamentos e filmagens | Foto: Arquivo pessoal

Sucesso e distinção em festas de casamento

O fotógrafo cita exemplos de bons negócios que já fez vendendo carros que comprou e restaurou. Ele pagou R$ 20 mil por um “Fusca Itamar” (modelo fabricado entre 1993 e 1996) e vendeu por R$ 44 mil. Também já ajudou conhecidos a fazer boas compras e conta que até já exportou três Kombis e um Fusca para Áustria e Bélgica. Segundo ele, esses modelos são muito valorizados na Europa, onde os programas oficiais de reciclagem da frota de veículos tiram do mercado os modelos antigos.

Mas, se alguns modelos dão lucro, outros dão apenas despesas, mas são custos que o proprietário paga por prazer. Um exemplo é um modelo DeSoto que ele comprou “destruído” e no qual já investiu mais de R$ 90 mil, e ainda não concluiu a restauração.

Conhecer o mercado é o segredo do negócio

Segundo Douglas, o segredo para se fazer um bom negócio com carros antigos é o conhecimento do mercado, a pesquisa de preços e muita paciência para correr atrás de peças originais. Os modelos antigos são isentos de IPVA em muitos Estados, como São Paulo e Rio de Janeiro. Mas é preciso considerar os custos de manutenção, estacionamento e seguro, que podem encarecer o hobby.

O consultor financeiro José Vignoli, que também coleciona modelos clássicos, mas não vende e nem aluga, compara o investimento em carros antigos à compra de um imóvel, guardadas as proporções. “Se calcular todos os gastos com manutenção e restauração e descontar a inflação no período desde a compra até a venda, o ganho é menor do que parece à primeira vista”.

Do ponto de vista do investimento, também é preciso considerar que o carro de coleção tem liquidez relativa, ou seja, pode ser difícil encontrar comprador no preço desejado. Outro conselho do especialista é pesquisar a mecânica e se informar se existem peças de reposição disponíveis para a restauração. Os custos de mecânicos especializados em restauro não são baratos.

Em resumo, é um tipo de investimento que faz sentido para quem realmente gosta não apenas de dirigir, mas também de cuidar de carro. Sempre haverá um detalhe a mais para restaurar, pintar ou apenas polir.

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