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Cepa indiana acende alerta de vigilância sanitária

Brasil começa a monitorar passageiros entre estados e São Paulo faz triagem de viajantes; cepa preocupa pelo número de casos na Índia

Triagem de passageiros aeroporto

Triagem de viajantes começa em São Paulo e deve ser realizada em outras cidades e estados para evitar a circulação da variante | Foto: Getty Images

São Paulo começou nesta terça, 25, uma barreira sanitária destinada a fazer a triagem de pessoas que chegam do Maranhão, numa tentativa de barrar a entrada de contaminados com a cepa indiana do novo coronavírus, a B.1.617. Outros estados e municípios estudam medidas semelhantes.

A variante foi detectada no Estado em 6 dos 23 tripulantes do navio MV Shandong da Zhi. A embarcação está ancorada no litoral maranhense desde o dia 14. A tripulação permanece isolada e em observação. Um dos viajantes, testado positivo para a cepa indiana, teve de ser hospitalizado e está intubado há uma semana, na capital, São Luís.

Por que a preocupação com a variante

A Organização Mundial da Saúde classificou a cepa, descoberta no ano passado, como variante de preocupação global. Ela é a responsável, junto com a cepa britânica, pelos recordes diários de contaminações e mortes por covid-19 na Índia.

O país contava, na segunda-feira, 24, 26,7 milhões de casos e 303 mil óbitos. No mesmo dia, o Brasil ultrapassou 450 mil mortes.

A velocidade com que a Índia saiu de uma situação de controle para o patamar trágico deixa claro que a B.1.617 tem capacidade de transmissão maior e mais veloz que o Sars-Cov-2 antes das mutações.

“O fato de uma variante ter eficácia maior de contaminação é indício de que seu impacto no organismo será mais sério. Isso porque o vírus se multiplica com mais eficiência também dentro do corpo”, diz o virologista José Eduardo Levi, pesquisador que descobriu a presença da variante britânica no Brasil, a B1.1.7. A variante divide com a B.1.617, a cepa indiana, as causas da escalada de contágio e mortes do país asiático.

A cepa foi notificada na Índia em outubro de 2020. Agora, nações em estágio avançado de imunização, como a Inglaterra e o Japão, têm registrado aumento de casos por contaminação da B.1.617. A cepa está presente em pelo menos 50 nações, segundo a Cov-lineages.org. O Brasil ainda não entrou nessa conta.

Cepa indiana concorre com a variante de Manaus

O esforço da federação, estados e municípios com os controles de chegada de viajantes é o primeiro do tipo no Brasil. Tanto a variante britânica como a sul-africana foram encontradas no país antes de qualquer medida sanitária de controle. Nenhuma das duas prevaleceu.

Segundo a Prefeitura de São Paulo, a triagem vai ocorrer por 14 dias e fará verificação de temperatura e questionários a passageiros. As empresas deverão apresentar o cadastro de todos os ocupantes dos voos e viagens de ônibus para facilitar o controle e a comunicação em caso de transmissões suspeitas ou confirmadas. A ação tem a fiscalização da Anvisa.

Passageiros da Argentina, que tem notificações da variante, não estão passando por triagem.

O também coordenador de pesquisas do laboratório DASA acredita que a força da variante P.1, predominante hoje no Brasil, não deixou espaço para o espalhamento das duas cepas estrangeiras anteriores.

Em março, o pesquisador anteviu a onda de contaminações por P.1. Como a circulação dessa variante segue alta, a cepa da Índia encontra menos opções de contágio do que em seu país de origem. “A Índia está vivendo hoje a sua primeira onda com uma variante mais eficaz do que a da nossa, lá atrás, com o Sars-Cov-2 antes das mutações”, explica Levi.

Saiba mais

Virologista alertou em março para a proliferação da P.1, hoje variante prevalecente no Brasil.

Coronavac é eficaz contra P.1

Variante de Manaus ainda é o maior problema do Brasil

“O nosso maior problema hoje é parar a proliferação da P.1”, diz o pesquisador, que acompanha todas as ocorrências de novas cepas desde o começo da pandemia.

Segundo ele, a P.1 pode sofrer mutações que darão origem a cepas mais nocivas do que a indiana. Além de não conseguir o isolamento social nos picos da pandemia, os atrasos na campanha de imunização no Brasil criam oportunidades para o que ele chama de “variações de escape vacinal”: variantes que não podem ser barradas pelas vacinas disponíveis no Brasil

O atraso da segunda dose, por exemplo, que vem crescendo no país, cria um período de imunidade parcial do organismo. Segundo Levi, o ambiente favorável para que prevaleçam variações resistentes à vacina.

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