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Ciclo de aperto dos juros será longo e terá nova alta em junho, diz Levy

O ex-ministro Joaquim Levy analisa a piora da economia e vê PIB de 0,8% em 2022, inflação acima de 8% e ciclo de juros altos mais longo

O Brasil tem portunidades para crescer aproveitando potencialidades sustentáveis, afirma Joaquim Levy | Foto: Reprodução

O atual ciclo de alta de juros deve se prolongar por mais tempo do que o previsto, com mais uma elevação da taxa básica (Selic) em junho, segundo avaliação de Joaquim Levy, diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados no Banco Safra. Em análise transmitida pelo Youtube no programa Conjuntura Safra, ele analisa os fatores que estão forçando aperto monetário nas principais economias do mundo.

O momento atual é de grande movimentação nos mercados e enormes desafios para investidores, que precisam avaliar todas as mudanças em curso e suas consequências em diferentes pontos do planeta. É consenso entre os economistas que o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central deve anunciar, nesta quarta-feira, uma nova alta de 1 ponto percentual da taxa básica de juros (Selic), de 11,75% para 12,75% ao ano. Mas existem divergências em relação à extensão do atual ciclo de aperto monetário.

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Segundo o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, no cenário atual ainda persiste o ciclo de ajuste entre oferta e demanda nos Estados Unidos, para corrigir desequilíbrios existentes e enfrentar pressões inflacionárias. Além disso, o agravamento da crise na Europa, com a guerra na Ucrânia, apresenta uma série de consequências para a política energética e abastecimento de grãos. “Isso sem falar nos riscos das tensões geopolíticas, que são imprevisíveis”, afirma Levy.

Outra questão que muda o cenário para investimentos é a situação da covid na China, que tem tido uma resposta muito forte por parte do governo, com lockdowns e uma série de outras restrições que afetam a economia chinesa e criam ainda mais confusão nas cadeiras de produção e no cenário da economia mundial.

“A preocupação por parte dos investidores também está relacionada às respostas de política monetária dos diferentes países em relação ao agravamento da inflação”, destaca Levy.

Taxa de juros sobe no Brasil e nos Estados Unidos nesta quarta-feira

Nesta quarta-feira, 4, além da alta de juros no Brasil, o Federal Reserve inicia um ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos. O governo dos Estados Unidos anunciam combate duro à inflação, e o Federal Reserve admite certa leniência na política monetária e promete lançar mão de todas as medidas disponíveis. “Por outro lado, no Japão, a autoridade monetária adota a postura de que a inflação não chegou até lá e não há razão para apertar a política monetária”, comenta Joaquim Levy.

“Anunciaram a intenção de controlar toda a curva de juros, desde os preços dos títulos de longo prazo, o que desvalorizou o iene. Isso cria mais uma pressão na China, levando a uma depreciação da moeda chinesa, que teve repercussões muito rápidas no preço doas commodities e nas moedas de todos os emergentes, inclusive o Brasil”, analisa o diretor do Banco Safra.

Joaquim Levy enumera focos de tensão na economia

“Temos quatro focos de tensão, alguns estruturais, com efeitos conjunturais, como a covid, e a piora das tensões na Europa, fator que ainda não afetou tanto os mercados, e espera-se que ainda venha a afetar”, diz Levy. Os investidores estão reavaliando as consequencias de curto e médio prazo em relação à Ucrânia, na avaliação dele.

Sobre o crescimento do Brasil, ele considera que o PIB de 2022 deve ficar ao redor de 0,7% ou 0,8%, seguindo um pouco o padrão do ano passado.

O investimento continua forte na construção civil, desacelerou um pouco na área de máquinas, e no conjunto não há uma contração maior, segundo Levy. No consumo, pelo efeito da inflação e do crescimento lento, a renda das famílias e o crédito estão limitados, com menor capacidade de consumo.

Com os programas de baixa renda, como a liberação do saque FGTS e o Auxílio Brasil, além de e medidas de estímulo ao crédito, talvez dê para sustentar o crescimento do consumo em torno de 1%, diz Levy.

“As exportações seguem relativamente estáticas, o investimento ainda negativo, embora maior do que na pandemia. No setor externo um pouco mais de importação, mas ainda em situação de equilíbrio”.

Surpresas negativas na inflação

Tem havido uma sequência de surpresas nos preços, todas elas altistas, ressalta Joaquim levy. No começo do ano havia expectativa de estabilização dos preços das commodities (petróleo e grãos), mas isso não ocorreu, por causa da guerra na Ucrânia.

“Há um mês, esperava-se que a situação no Leste Europeu se resolvesse, o que não ocorreu, e isso afeta o petróleo e eleva os preços dos grãos. A safra na Ucrânia será muito menor, por causa da guerra”.

Por algumas semanas o real se valorizou no Brasil, mas a conjuntura dos emergentes levou a uma inversão do câmbio, e o real votou a perder valor frente ao dólar. Com isso, o Safra elevou a previsão da inflação para cerca de 8% ao ano, mas existe a possibilidade de a inflação ir um pouco além, admite Joaquim Levy.

“O Copom está querendo chegar ao fim do ciclo de alta dos juros, mas todos esses fatores devem prolongar o ciclo, – não muito, pois já estamos em um patamar restritivo com taxas de juros altas, mas o Copom deve promover mais um aumento dos juros em junho, talvez menor do que o desta semana”, avalia o ex-ministro.

Para Levy, o Banco Central do Brasil não vai conseguir encerrar o ciclo de aperto monetário neste momento, como era previsto. “A grande pergunta é por quanto tempo a Selic vai ficar nesses níveis, pois isso só vai mudar quando a inflação realmente der sinais de queda”, afirma Levy.

“Hoje, apesar do beneficio da redução da tarifa de energia, ainda teremos uma inflação muito alta, ao redor de 1% em abril, completamente incompatível com a meta de 3,5%, então o desafio do Banco Central continua grande”, conclui.

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