close

Clima ameaça produção agrícola do Brasil, alerta Painel da ONU

Brasil pode perder espaço no agronegócio por causa do aquecimento acelerado do planeta, alerta relatório da ONU sobre o clima

Lago ressecado pela seca

O desmatamento reduz as chuvas e aumenta as temperaturas, colocando também em risco a produção de alimentos | Foto: Getty Images

O Brasil deve enfrentar queda da produção agrícola em consequência do aquecimento global acima do previsto, alerta o novo relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima da ONU (IPCC), apresentado nesta segunda-feira, 9.

Segundo o relatório, caso as metas do Acordo de Paris (pacto climático que quase todos os países assumiram em 2015 para conter o aquecimento global) não sejam cumpridas e o planeta atinja 2ºC acima dos níveis pré-industriais ainda neste século, regiões como o Centro-Oeste do Brasil e a Amazônia serão fortemente afetadas.

A postura de governos como o de Jair Bolsonaro (sem partido), que minimiza os impactos do desmatamento e fragiliza a fiscalização ambiental, tem preocupado especialistas.

Secas e desertificação ameaçam setor agrícola

Conforme o IPCC, na região central do continente, sob influência climática da chamada Monção Sul-americana, que sofreria forte alteração, as projeções apontam para o aumento das secas em meados do século 21. Isso afetará a produção agrícola, um dos principais motores da economia brasileira. Cenários com a maior frequência de incêndios e desertificação são também considerados de alta probabilidade.

Na gestão Bolsonaro, o número de focos de incêndios em regiões como Amazônia, Pantanal e Cerrado disparou. Em 2020, o Cerrado brasileiro, assim como o Pantanal, registraram as piores queimadas já captadas pelos satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia

O Cerrado desempenha papel essencial no apoio ao ciclo da água no Brasil, já que é fonte de oito das 12 bacias hidrográficas do País.

Desmatamento reduz chuvas e eleva temperaturas

O desmatamento contínuo reduz as chuvas e aumenta as temperaturas, colocando também em risco a vegetação remanescente e a produção de alimentos. Em 2020, por exemplo, a estiagem atrapalhou o início do plantio de soja.

Neste ano, o País ainda vive estiagem histórica, que coloca no horizonte o risco de racionamento energético.

“O negacionismo ambiental desse governo é muito parecido com o negacionismo na pandemia, que produziu quase 600 mil mortes. Esse negacionismo na saúde a gente está vendo o que gera. Frente ao meio ambiente, vemos escassez hídrica, aumento das emissões, produção de alimentos ficando mais cara”, diz Mauricio Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil.

No Cerrado, os alertas do Inpe indicam 661 km² de desmate em julho, totalizando 5.102 km² entre agosto de 2020 e o último mês -alta de quase 24% ante o ano anterior (2019-2020). Maranhão, Bahia e Tocantins lideram o ranking dos Estados com maior área desmatada no último ano.

Áreas da Amazônia já emitem mais carbono do que absorvem

Na Amazônia, o Inpe registrou 8.712 km² em alertas de desmate entre agosto de 2020 e julho de 2021. Isso coloca o período atrás apenas dos 9.216 km² devastados entre agosto de 2019 e julho do ano passado, conforme os números dos últimos seis anos.

Algumas áreas da Floresta Amazônica já emitem mais dióxido de carbono do que absorvem, segundo estudo publicado em julho na revista científica Nature. Fatores como o desmatamento causado pelo homem e os efeitos das mudanças climáticas parecem ter influenciado a capacidade do bioma de atuar como “filtro” de um dos principais gases responsáveis pelo efeito estufa.

O estudo analisou centenas de amostras de ar coletadas na parte mais baixa da atmosfera terrestre, entre 2010 e 2018, e constatou que o sudeste da Amazônia se tornou grande fonte de emissão de CO2.

Durante os últimos 50 anos, as plantas e o solo absorveram mais de 25% das emissões de gás carbônico. Já as emissões aumentaram em até 50%. A inversão dessa capacidade de absorver CO2 em determinadas regiões é também uma das conclusões gerais do relatório do IPCC.

No cenário analisado, as secas se tornariam um problema ainda maior no Nordeste. No Sudeste, o aumento das inundações causadas pelas chuvas, que já castigam cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, devem se tornar ainda mais constantes.

Assine o Safra Report, nossa newsletter mensal

Receba gratuitamente em seu email as informações mais relevantes para ajudar a construir seu patrimônio

Invista com os especialistas do Safra