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Times de futebol fecham 2020 com prejuízo R$ 1 bi

Estudo mostra déficit bilionário conjunto dos 20 principais clubes do país. Veja os resultados e o tamanho das dívidas

Três jogadores do Cruzeiro em campo por jogo do campeonato mineiro

Com R$ 226,5 milhões de déficit, Cruzeiro foi o time que mais teve perdas financeiras no ano passado | Foto: Bruno Haddad/Cruzeiro

O futebol sofreu para não fechar as contas no vermelho em 2020, mas a realidade foi cruel com os clubes brasileiros. Juntos, os 20 principais times do país tiveram um prejuízo de R$ 1,03 bilhão.

O Cruzeiro, com R$ 226,5 milhões de déficit, foi o time que mais teve perdas financeiras no ano passado. Palmeiras (-R$ 151 milhões) e Botafogo (-R$139 milhões) completam o pódio.

Os dados foram compilados dos balanços dos times e divulgados pela consultoria de marketing esportivo Sports Value.

O resultado geral atingiu a marca de R$ 1 bilhão pela primeira vez para um ano na história do futebol brasileiro.

O número representa aumento de 39% sobre o prejuízo total de 2019, de R$ 721 milhões. Em 2018, as perdas chegaram a R$ 35 milhões. Já as dívidas ultrapassaram pela primeira vez a casa de R$ 10 bilhões.

Mais do que resultados financeiros negativos, o ano de 2020 deixou em evidência as boas e más administrações do futebol. Somente seis clubes brasileiros fecharam as contas no azul no ano passado.

“A pandemia explodiu a má administração. A gente tinha clubes que já eram má administrados, tanto que o déficit (dos 20 principais clubes) já era de mais de R$ 700 milhões e aí vem o corte de receitas. Fecha estádio, corta TV e patrocínios”, explica Amir Somoggi, sócio diretor da Sports Value.

20 principais clubes brasileiros – maiores prejuízos 2020

Time – (prejuízo) / lucro – em milhões R$

  1. Cruzeiro – (226,5)
  2. Palmeiras – (151)
  3. Botafogo – (139)
  4. São Paulo – (129,6)
  5. Corinthians – (123)
  6. Santos – (119,8)
  7. Flamengo – (106,9)
  8. Internacional – (91,9)
  9. Vasco da Gama – (64,4)
  10. Bahia – (50,6)
  11. Coritiba – (22,2)
  12. Fortaleza – (9,8)
  13. Goiás – (3,1)
  14. Fluminense – (2,9)
  15. Ceará – 0,4
  16. Atlético-GO – 2,7
  17. Red Bull Bragantino – 13,4
  18. Atlético-MG – 19,2
  19. Grêmio – 37,5
  20. Athlético-PR – 134,4

20 principais clubes brasileiros – dívidas 2020

Time – dívida – em milhões R$

  1. Atlético-MG – 1.208,5
  2. Cruzeiro – 962,5
  3. Corinthians – 949,2
  4. Botafogo – 946,2
  5. Internacional – 882,9
  6. Vasco da Gama – 830,6
  7. Flamengo – 680,8
  8. Fluminense – 649,1
  9. São Paulo – 575,1
  10. Palmeiras – 565,2
  11. Santos – 539,7
  12. Grêmio – 396,1
  13. Coritiba – 299,5
  14. Bahia – 267,9
  15. Athletico-PR – 200,3
  16. Red Bull Bragantino – 144,0
  17. Goiás – 60,4
  18. Fortaleza – 38
  19. Atlético-GO – 33,3
  20. Ceará – 26,5

Queda de receitas

Os cortes nas receitas dos clubes brasileiros variaram de 19,5% a 26% em relação a 2019. As maiores reduções foram provenientes dos direitos de TV e bilheteria.

O motivo principal é mais que conhecido: a pandemia de covid-19, que forçou medidas de isolamento social em todo o mundo.

Os top 20 clubes brasileiros, que geraram a maior receita da história em 2019 (R$ 6,1 bilhões), viram o valor cair para R$ 5,1 bilhões na última temporada.

Segundo a Sports Value, a redução só não foi maior devido ao crescimento de receitas de muitos clubes com transferências de atletas.

Mesmo assim, essas receitas caíram 5,6% de 2019 (R$ 1,6 bilhão, valor recorde) para 2020 (R$ 1,5 bilhão).

Dívidas e impacto nas contas

Com fontes de recursos secas, os clubes brasileiros buscaram financiar suas dívidas de curto prazo com – novos – empréstimos junto a instituições financeiras. O processo pode gerar a popular “bola de neve” do endividamento.

Segundo a Sports Value, o Atlético-MG estabeleceu um novo recorde de endividamento para um único clube: R$ 1,2 bilhão.

Rival do Cruzeiro, o Atlético-MG registrou recorde de dívida no futebol brasileiro em 2020 | Foto: Pedro Souza / Atlético

O clube mineiro foi um dos poucos que registraram aumento de receitas de 2019 para 2020, de R$ 354,1 milhões a R$ R$ 404,4 milhões.

No entanto, grande parte das receitas do Atlético-MG veio pela venda da participação do time no shopping Diamond Mall, em Belo Horizonte, por R$ 258 milhões.

Para sair da dependência de receitas tradicionais, como direitos de TV e bilheteria, Somoggi propõe que os clubes passem a investir mais em sua própria digitalização.

“A saída da crise é pela transformação digital. Não tem bilheteria, mas poderia ter receitas do digital. Não tem jogo, como aconteceu na parada dos campeonatos, podia ter implementado o desenvolvimento de projetos para entregar documentários, ações com patrocinadores, para sair somente do dia de jogo.”

Bons exemplos

Entretanto, há bons exemplos de clubes brasileiros com contas acumuladas no azul há seis anos, como Athletico-PR, Grêmio e Ceará.

Os três clubes brasileiros fecharam as contas com lucros, sendo o Athletico-PR o grande destaque, com R$ 134,4 milhões.

O Grêmio fechou o ano passado com lucro de R$ 37,5 milhões, enquanto o registro positivo do Ceará foi de R$ 400 mil.

Na visão de Somoggi, a principal boa prática destes clubes o controle de gastos com o futebol e o cuidado ao gerenciar as dívidas, as mantendo em um nível saudável, de acordo com o potencial de cada clube.

“O Grêmio serviria como exemplo para Flamengo, Palmeiras e Corinthians, que fechou com lucro porque gasta R$ 310 milhões, enquanto os outros gastam R$ 600 milhões, quase”.

“O Ceará é um baita exemplo para clubes pequenos e médios. Está performando bem, investindo nas categorias de base e tem poucas dívidas. E o Athletico-PR tem teto salarial, não faz loucura financeira e acumula sempre superávit”, explica Somoggi.

O estudo completo sobre as finanças dos clubes brasileiros em 2020 está disponível por este link.

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