Com incerteza fiscal, dólar sobe e supera os R$ 5,70
Dólar amplia ritmo de alta com ameaça de greve de servidores do Banco Central e valorização da moeda no exterior
04/01/2022O dólar ampliou o ritmo de alta nesta terça-feira, 4, superando as marcas de R$ 5,70 no mercado à vista e R$ 5,74 no futuro. Profissionais do mercado afirmam que a alta é uma combinação entre o fortalecimento do dólar no exterior e a cautela com questões fiscais domésticas, agravada desde que o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, sugeriu uma revisão no teto de gastos.
“Os dois motores (interno e externo) dão fôlego ao dólar hoje. De um lado a perspectiva de elevação de juros nos Estados Unidos. De outro está a percepção de que o teto de gastos não é algo apreciado por nenhum dos principais candidatos à presidência”, afirma José Raymundo de Faria Junior, diretor da Wagner Investimentos.
Com o dólar de volta ao patamar dos R$ 5,70, as mesas de negociação voltam a ficar em alerta com a possibilidade de o BC ofertar moeda no mercado à vista.
Às 10h58 desta terça, o dólar à vista era negociado a R$ 5,6933, em alta de 0,54%, depois de ter registrado máxima em R$ 5,7093. Já a divisa para liquidação em fevereiro perdia fôlego e oscilava perto da estabilidade, aos R$ 5,7285 (+0,09%), pouco depois de ter registrado máxima em R$ 5,7445.
Segundo apurou o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. o Banco do Brasil está fazendo um roadshow para lançar bonds de 7 anos no mercado internacional. De acordo com fontes, o banco poderá captar ao menos US$ 500 milhões.
Ibovespa cai e dólar volta aos R$ 5,70
Apesar da alta moderada dos índices futuros de Nova York, o Ibovespa firma-se em território negativo e segue renovando mínimas. Além disso, o dólar acelerou a alta para a casa dos R$ 5,70. Conforme Rodrigo Friedrich, head de renda variável da Renova Invest, estão no radar dos investidores a perspectiva de alta dos juros nos Estados Unidos, bem como o aumento no ritmo de retirada do “tapering”, que já começou.
“E internamente, há preocupações fiscais, à medida que servidores de outras categorias planejam paralisar suas atividades para conseguirem aumento salarial. Os do Banco Central ameaçam paralisação e entrega de cargos, é pressão sobre o governo federal”, explica. Isso porque no fim do ano passado o governo incluiu um reajuste salarial de R$ 1,7 bilhão apenas para policiais federais no Orçamento de 2022, o que gerou descontentamento em outras categorias.
Às 10h50 desta terça, o Ibovespa caía 0,42%, aos 103.483,79 pontos, ante mínima diária aos 103.467,12 pontos (-0,44%).
O mercado ainda monitora o estado de saúde do presidente Jair Bolsonaro, que está internado em hospital de São Paulo por causa de obstrução intestinal. Por ora, uma cirurgia está descartada pela equipe médica e Flávio Bolsonaro, filho do mandatário, disse que ele pode receber alta a “qualquer momento.”.
Além disso, temores fiscais seguem no radar. A decisão do governo de editar uma Medida Provisória revogando a necessidade de a União compensar ao INSS o valor da desoneração da folha de pagamentos para 17 setores pode acabar indo para a Justiça.
Técnicos do Tribunal de Contas da União (TCU) alertam que o fim da compensação poderá ser questionado judicialmente ou junto à própria Corte de Contas caso o teto de gastos não seja recalculado desde 2016. Além disso, pesa sobre os negócios a informação de que o sindicato que representa os servidores do Banco Central iniciou movimento de entrega de cargos de chefia na autarquia, por reivindicação salarial.
O que ajuda a conter a queda do índice são perspectivas de crescimento na demanda em algumas partes do globo, especialmente na China, dado que a avaliação é de que os efeitos da variante Ômicron não serão tão devastadores. (AE)
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