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Comer menos carne ajuda mesmo o meio ambiente?

Enquanto ONGs defendem o vegetarianismo, a 'Lancet' relativiza benefícios planetários com a mudança de hábito

Carne bovina e o impacto no meio ambiente

Pesquisas de universidades tiram o peso da decisão alimentar das populações que não comem carne em excesso | Foto: Getty Images

Este ano, a Semana sem Carne no Brasil não tem o apoio do Greenpeace, um dos grandes incentivadores da mudança de hábito como contribuição para as metas planetárias de redução de emissões de carbono. Com a pandemia e a fome se alastrando pelo Brasil, a ONG achou melhor tirar o foco do prato do cidadão brasileiro, que já está mais vazio.

A Sociedade Vegetariana Brasileira manteve a campanha, que segue até o dia 20. Apoiada pela Mercy For Animals, a ONG defende que a cada dia que um indivíduo se abstém de consumir proteína animal, ele salva 24 metros quadrados de floresta, evita a emissão de 11 quilos de CO2 na atmosfera, poupa 60 litros de água doce (limpa) e preserva 8 quilos de sementes nativas.

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A Mercy, com o Greenpeace (articulador da Segunda sem Carne, também “suspensa” na pandemia) levam em conta o efeito nocivo multiplicador da cadeia da agropecuária irresponsável, que, nas suas visões, podem ser definidas no prato do consumidor. Se a pessoa não comprar carne no açougue, nem pedir bife no restaurante, o pastos deixariam de ser abertos na Amazônia.

Diminuiriam, assim, a derrubada florestas, para a ampliação dos pastos, cobertos apenas com soja para alimentar os animais, empobrecendo o solo e poluindo ar e água com o efeito na atmosfera da alta emissão de metano pelos bovinos.

Lógica do consumo de carne não é a mesma para países que comem pouco, diz estudo

Um relatório do ano passado publicado pela revista científica The Lancet, porém, propõe uma revisão dessa lógica que, de fato, perde um pouco o sentido para um país, como o Brasil, que pouco come da carne que produz.

Há 25 anos, o Brasil não consumia tão pouca carne como em 2021, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento, Conab.

O levantamento publicado pela Lancet diz que o controle do impacto da pecuária no meio ambiente só pode fazer sentido em países de alto consumo. “Reduzir bastante a carne vermelha para as pessoas que consomem muita, como os americanos ou os canadenses, pode sim fazer diferença. Mas não para os pobres do mundo, que precisam de mais proteína animal para melhorar a saúde”, afirma a publicação científica mais respeitada do mundo.

Para deixar de consumir proteína animal, é preciso que se substitua o alimento por outras proteínas e vitaminas encontradas nas carnes de origem animal. A indústria e o varejo dos centros urbanos oferecem uma gama cada vez maior de substitutos baseados em plantas. Mas, na calculadora de emissões de carbono Universidade da Colúmbia Britânica – e isso vale para todos os países – é preciso ficar sem comprar alimentos embalados por 11 anos para ter o mesmo efeito que um ano sem comer carne, em termos de emissão de carbono.

De acordo com os relatórios do Greenpeace, a produção de carne, emite, no mundo, o mesmo volume de Gases do Efeito Estufa (GEEs) que todos os carros, caminhões, aviões e navios do planeta juntos. O Brasil tem hoje mais de 200 milhões de cabeças de gado, a maior parte destinada à exportação.

O Greenpeace afirma que 80% das áreas desmatadas são ocupadas pela criação de gado. As recentes ocorrências de queimadas na Amazônia são, de acordo com as publicações da ONG, intencionais e têm como objetivo de abrir novas áreas para pastagens.

As diferentes medidas das pegadas de carbono

“Não vivemos em um mundo onde todo mundo tem uma espécie de orçamento de carbono, como um cartão de crédito de carbono, onde só podemos gastar X toneladas de CO2 por ano”, disse ao New York Times Shahzeen Attari, professora-associada na Universidade de Indiana em Bloomington, que estuda percepções climáticas e tomada de decisões.

As chamadas pegadas de carbono individuais, na visão dos pesquisadores da Universidade de Columbia devem contar nos países mais ricos. As emissões familiares, incluindo uso de energia, compras de alimentos e transporte, representam, por exemplo, um quinto de todas as emissões dos Estados Unidos.

De acordo com a universidade canadense, a escolha individual de maior impacto ambiental é ter menos filhos. As três seguintes são viver sem carro, evitar viagens aéreas e fazer uma dieta vegetariana de alimento obtido de cadeias sustentáveis. Para evitar mudanças de vida que causem a ilusão de estar sendo ambientalmente correto o estudo recomenda mais informação e o enfoque em atividades de alto impacto, assim como rótulos indicando a pegada de carbono nos produtos de consumo, semelhantes aos rótulos nutricionais nos alimentos.

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