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Vento a favor das commodities deve perder fôlego em 2023

Economistas consideram em seus cenários de médio prazo uma perda de fôlego nas cotações no próximo ano, o que vai afetar o crescimento

exportação de soja

Relatório do Banco Mundial projeta alívios nas cotações das matérias-primas em 2023 e 2024 | Foto: Getty Images

O choque de alta das commodities nos últimos meses deve servir de impulso para a economia do Brasil neste ano, por causa das exportações e seus efeitos financeiros. O vento, no entanto, poderá mudar em 2023. Vários economistas consideram em seus cenários de médio prazo uma perda de fôlego nas cotações no próximo ano.

Relatório do Banco Mundial projeta alívios nas cotações das matérias-primas em 2023 e 2024. Nas projeções do banco, as commodities energéticas deverão recuar, em média, 12,4% em 2023 e 11,9% em 2024. Já o preço das “commodities não energéticas” deverão cair, em média, 8,8% no próximo ano e 3,2% em 2024.

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Na mesma linha, o Bradesco projeta um quadro de preços de commodities pressionados no curto prazo, mas com um alívio no médio prazo. Nas contas dos economistas Thiago Angelis e Myriã Bast, que assinam o relatório, os preços globais das matérias-primas estão em média 35% acima dos valores indicados pelos fundamentos da economia global, como oferta e demanda.

Recentes revisões de cenário citaram a moderação nas cotações de commodities a partir de 2023. No mês passado, o Itaú revisou a projeção de crescimento econômico no Brasil em 2022 para 1%, ante 0,2% estimado anteriormente, mas baixou a estimativa de 2023 para 0,2%, ante 0,5% anteriormente, “considerando os juros mais elevados e a expectativa de alguma queda de preços de commodities”.

A MB Associados fez movimento semelhante. Elevou a projeção de crescimento deste ano de zero para 0,5%, mas cortou a estimativa de 2023 também para 0,5%, ante o 1,2% projetado anteriormente. A perda de força esperada nas cotações de commodities é um dos elementos que levaram o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, a reduzir a projeção para o próximo ano.

“Tem dois elementos centrais, um doméstico e um externo, para justificar esse crescimento fraco no ano que vem. O externo é um crescimento mais fraco, uma economia americana talvez em recessão. Isso já jogaria preço de commodity para baixo”, afirmou Vale. “Aqui dentro, a gente tem um cenário de juros.”

Normalização

Mais otimista, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima crescimento econômico de 1,1% em 2022, seguido de um avanço de 1,7% em 2023. O cenário considera a normalização dos preços de commodities após a resolução do conflito na Ucrânia, a manutenção da sustentabilidade da dívida pública e a melhora da pandemia, explicou Francisco Luna, diretor do Ipea.

“O cenário de 2022 considera que a guerra da Ucrânia tenha efeito (de alta) sobre preços de commodities. Em 2023, consideramos como cenário de referência que a guerra vá acabar. Nossa projeção considera commodities com preços normais”, diz. Segundo Luna, o arrefecimento nos preços das commodities deixa de alavancar segmentos produtores e exportadores, mas, por outro lado, pode permitir que a inflação convirja para a meta perseguida pelo Banco Central em 2023, abrindo espaço para reduções na taxa básica de juros.

Seguindo esse raciocínio, Bráulio Borges, economista da LCA, vê um saldo positivo, no médio prazo. No curto prazo, diz ele, a correção para baixo nas cotações é desfavorável para a atividade, mas, depois, pode favorecer o crescimento se vier acompanhada de alívio na política monetária. (AE)

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