Como fica o mercado de ações no Brasil após o tarifaço de Donald Trump
Relatório destaca a B3 com características de valor e qualidade, desconto em relação à média histórica, bons dividendos e alto crescimento de lucros nos próximos 3 anos
04/04/2025
Como os EUA têm superávit comercial com o Brasil, o país está entre os menos afetados pelas tarifas de Trump e a B3 oferece boas oportunidades | Foto: Getty Images
A decisão do presidente norte-americano Donald Trump, de impor tarifa de 10% sobre todas as importações dos EUA, com alíquotas recíprocas (ainda maiores) para as nações
que impõem barreiras comerciais mais elevadas contra os EUA, terá impacto no mercado de ações. A data é 5 de abril para a tarifa mínima e 9 de abril para as tarifas recíprocas.
Estima-se que a tarifa de importação média dos EUA passará dos atuais 2,5% para 18,8%, um grande salto que terá impacto negativo, amplo e direto sobre a economia do país, desacelerando o crescimento e gerando inflação, segundo análise dos especialistas do Banco Safra.
A medida terá também consequências diretas sobre o crescimento econômico mundial, especialmente na Alemanha e nos países asiáticos, que são mais dependentes de exportações para os EUA e foram afetados com a imposição das maiores alíquotas.
De acordo com o governo dos EUA, as tarifas podem ser revisadas a qualquer momento caso países ou blocos, como China e Europa, decidam retaliar ou remover tarifas (a exemplo de Israel), o que poderia alterar a magnitude dos efeitos da medida sobre a economia norte-americana e/ou mundial. Países que adotarem uma abertura maior da economia ao exterior e/ou negociações bilaterais poderiam se beneficiar do atual cenário.
Saiba mais
- 5 ações para aproveitar o desconto de 35% no valor da Bolsa brasileira
- Lançamentos das construtoras crescem 48% em 12 meses em SP
- Como operar na bolsa de valores com a segurança da Safra Corretora
Como a política de tarifas de Donald Trump afetam o Brasil?
Como os EUA têm superávit comercial com o Brasil, o país está entre os menos afetados pelas tarifas de Trump e terá seus produtos taxados pela alíquota mínima de 10%,
uma alta em comparação aos atuais 3%. As exportações brasileiras para os EUA representam 2% do PIB do Brasil. Portanto, o impacto na economia nacional será bastante limitado.
A primeira e mais óbvia consequência dessa situação seria uma possível retaliação chinesa contra os produtos do agronegócio norte-americano, caso em que o Brasil poderia se sair como beneficiário.
Uma segunda — e menos óbvia — consequência seria a migração para o Brasil de indústrias de países asiáticos, que foram os mais afetados pelas tarifas. Um exemplo seria a produção calçadista, que concentra grande parte das fábricas em países como o Vietnã, cujas tarifas de exportação aos EUA foram aumentadas para 46%. Embora a migração de indústrias para o Brasil não seja uma consequência óbvia, o impacto das tarifas sobre empresas norte-americanas já é visto: as ações da Nike caíram 14,4% no pregão após o anúncio.
Qual o impacto das tarifas no mercado de ações?
Os especialistas do Banco Safra avaliam que em um cenário de intensificação da desaceleração da economia norte-americana – em meio a inflação e juros elevados, a um posicionamento significativo dos investidores e a múltiplos de negociação esticados das bolsas nos EUA – deveremos ver a continuidade da rotação dos investimentos para bolsas com perfil defensivo e/ou de valor, que é o caso da B3, conforme o último relatório do Safra sobre oportunidades na bolsa brasileira.
Nessa linha, os especialistas do Safra entendem que as escolhas das carteiras Top 10 Ações e Carteira Dividendos parecem bastante adequas para o atual momento.

Como fica o cenário para as BDRs?
O S&P 500 é negociado a um múltiplo preço/lucro (P/L) de 20,4x, patamar 10,2% acima de sua média histórica, e parece não embutir uma potencial desaceleração significativa da economia norte-americana em virtude dos impactos das tarifas.
Sob esse cenário de incerteza quanto aos impactos sobre a economia e seus reflexos nos resultados das empresas, acreditamos que investidores deveriam priorizar ações defensivas versus cíclicas e de valor versus crescimento.
Considerando esses fatores, neste mês o comitê de alocação de investimentos do Banco Safra optou por reduzir a exposição a nomes de crescimento e/ou tecnologia na Carteira BDR, que já carregava exposição acima da média a setores que seriam menos impactados pelas tarifas, como consumo básico e utilidades básicas.
Apesar da forte queda apresentada no pregão após o “Liberation’s Day” e do beta da carteira ser de 1,01, a carteira apresentou uma performance +2,15p.p. acima do S&P500, que por sua vez teve uma queda de 4,84% no dia. A Carteira BDRs também superou em +2,73 pontos porcentuais o desempenho do Nasdaq.
Observando diferentes bolsas, como estamos posicionados?
Os especialistas do Safra continuam vendo a bolsa brasileira num patamar interessante de desconto comparado com o de pares de países emergentes e desenvolvidos. Enquanto o Ibovespa negocia a um desconto de 28% sobre a média histórica de 10 anos olhando para o múltiplo P/L 2025e, o múltiplo da Índia, de 20,1x P/L 2025e, já está esticado se
comparado com o de outros emergentes.
Além disso, México e China estão no cerne da discussão sobre tarifas dos EUA, Chile é um mercado pequeno e Argentina ainda precisa normalizar sua economia.
O Safra vê a bolsa brasileira com características de valor e qualidade, ou seja, múltiplos atrativos (desconto em relação ao valor histórico), bons dividendos (registrou o maior yield entre os pares abaixo) e crescimento composto elevado de lucros de 21,6% para os próximos 3 anos.

