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Inflação desacelera e Brasil cresce ‘moderadamente’ em 2022, diz Levy

Diretor de estratégia e relações com o mercado do Banco Safra analisa inflação, juros e crescimento econômico na live 'Conjuntura Safra'

Joaquim Levy analisa a conjuntura econômica em entrevista conduzida pelo jornalista Marcelo Poli | Foto: Reprodução

Na avaliação de Joaquim Levy, diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados no Banco Safra, a inflação no Brasil tende a desacelerar e o Banco Central pode voltar a reduzir os juros antes do fim do ano. E a economia tem condições de enfrentar o início da alta dos juros nos Estados Unidos.

“Hoje temos a atividade com o consumo moderado, investimento relativamente bem, com impulso da construção civil, que vai continuar com as obras já contratadas, mesmo com lançamentos diminuindo. Acho que temos condições de enfrentar essa mudança das condições financeiras, até porque o Banco Central se antecipou, e hoje o Brasil tem uma taxa de juros que nos protege dessas mudanças”, afirma.

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Levy fez uma análise da inflação, juros e crescimento no Brasil em vista do atual cenário externo em entrevista para o programa Conjuntura Safra, transmitido pelo Youtube. Segundo ele, os brasileiros podem ter confiança de que o país vai alcançar o objetivo de uma inflação abaixo de 5% neste ano, o que cria boas condições inclusive para investimentos. Mas isso só será possível se a economia estiver equilibrada, condição indispensável para garantir a confiança dos investidores, o que tem efeito positivo para o valor dos ativos brasileiros.

“O crescimento em 2022 será bastante modesto, depois de um crescimento estimado pelo banco Safra de 4,5% no ano de 2021, mas a economia brasileira vem se desenvolvendo relativamente bem, embora com baixo crescimento, padrão deve continuar ao longo de 2022”, afirma.

Inflação fica na meta, se não houver incerteza fiscal

Levy não acredita em retração significativa, mas também não vê perspectiva de crescimento muito vigoroso. “Nossa projeção para 2022 é de crescimento de 0,2%, bastante modesto”.

A inflação em 2022, segundo ele, vai ser menor do que a de 2021, que foi muito elevada, ficando acima de 10% no ano, puxada principalmente por fatores externos.

Ele destaca a alta da gasolina, que subiu 47%. “Para 2022, mesmo que o petróleo chegue a US$ 100 o barril, o reajuste vai ser bem menor. A perspectiva para o câmbio também é de relativa estabilidade”, afirma.

No conjunto, Levy diz que o Safra projeta inflação abaixo de 5% neste ano. A previsão do banco é de 4,7%. “Existe um nível de incerteza nessa projeção, mas temos a chance de conseguir manter a inflação abaixo do teto da meta do Banco Central, de 5%”.

Para que isso ocorra, além da estabilidade dos derivados do petróleo, espera-se aumentos menores para a energia elétrica, já que o período de chuvas está ajudando a melhorar o nível de água dos reservatórios das hidrelétricas.

Reservatórios mais cheios melhoram perspectivas para as tarifas de energia

Os reservatórios do Sudeste estão com 40% da capacidade, podendo chegar a 60%, o que permitiria uma queda substantiva do preço da energia elétrica em maio, e talvez no segundo semestre a volta da bandeira tarifária verde, segundo Levy.  Este fator deve tirar alguns pontos da inflação, explica ele.

A análise considera alguns indicadores que já apontam nessa direção, como a inflação medida pelo IPCA-15 de janeiro. O índice veio mais baixo do que em dezembro, embora um pouco mais alto do que a maior parte dos analistas estava estimando, em parte pelo impacto do IPVA. “O índice mostra uma inflação relativamente bem comportada”, comenta.

Já houve aumento de gasolina em janeiro, que deve se refletir mais em fevereiro. A falta de chuvas no Sul pode afetar a safra, mas os preços não subiram significativamente, até o momento.

“Em fevereiro a inflação deve subir mais um pouco, provavelmente em torno de 0,8%, em parte pelos aumentos do início do ano, como as mensalidades escolares, que também vieram mais baixo do que se temia há algum tempo”, comenta Levy.

Segundo ele, o primeiro trimestre deve ter inflação de 0,6%, pela questão sazonal das despesas de início de ano, mas no segundo trimestre poderá ter inflação bem mais baixa, com ajuda da queda dos preços da energia elétrica, segundo a análise do Safra.

“Vemos o ano começando com indicadores que melhoram a confiança, mas tem muita gente cética, prevendo inflação até de 6% ou 7%”, observa Levy. “Desinflação é difícil, mas temos vários fatores caminhando nessa direção, inclusive uma política monetária bastante forte”.

Aperto monetário tem efeito defasado

Levy destaca que os juros e a política monetária em geral têm um efeito defasado. O juro que sobe hoje provoca efeito nos meses seguintes. “A taxa de juros estava em um nível muito baixo para um inflação alta no mundo inteiro. Isso chegou a preocupar o Federal Reserve, com a inflação chegando a 7% ao ano nos Estados Unidos”.

No Brasil, desde o segundo trimestre do ano passado o Banco Central começou a apertar os juros. Mas esse aperto, segundo Levy, já está chegando ao seu limite. “Tem gente que acha que a Selic continuará subindo até maio, mas no Safra acreditamos que em março haverá mais um aumento entre meio ponto e 0,75, elevando a Selic até 11,25% ou 11,75%, e isso tende a continuar enquanto os resultados vão aparecendo até chegar ao fim do ano, com uma redução em dezembro ou até antes, no final de outubro, quando o Banco Central poderá ter a capacidade até de reduzir a Selic para algo em torno de 10,25%”.

“A atividade econômica funciona assim, e não é possível apertar demais os juros em um momento em que a atividade econômica já está bastante devagar, com uma renda familiar moderada, e elevar a Selic longe demais pode agravar a situação da atividade econômica”, acrescenta. “Um aperto muito forte pode trazer uma deflação e prejudicar bastante a atividade econômica, agravando o quadro até para 2023”.

O cenário externo está mudando muito rápido

Até novembro, segundo Levy, o Federal Reserve estava numa posição de acomodação, com a inflação crescendo, mas com expectativa de que era uma situação passageira. “A ênfase era para reduzir o desemprego, mas o mercado de trabalho está literalmente pegando fogo, com muita gente trocando de emprego e com as empresas apresentando um grande número de vagas abertas sem conseguir repor os profissionais que se desligam”.

Atualmente, o Federal Reserve fala em vários aumentos dos juros ao longo do ano, talvez até com ajustes de 0,5 ponto, ao invés de 0,25. O Fed também promete ser mais rápido e agressivo nesse processo. “O importante disso é saber qual pode ser a repercussão no Brasil, e o importante é estar com a economia equilibrada”, destaca Levy.

“Mesmo que a taxa de juros de longo prazo cresça nos Estados Unidos, isso não necessariamente vai provocar uma depreciação do real ou fuga de capitais, porque nossa economia está relativamente equilibrada. O maior risco é se houver muita novidade na questão fiscal, com aumento de despesas ou corte de receita por redução de impostos, o que pode trazer alguma desorganização e aumento da incerteza, o que arrisca trazer impacto no câmbio e outros problemas”, adverte Levy.

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