Banco Central acelera aperto monetário e eleva a Selic para 12,25% ao ano
Comitê de Política Monetária do BC decide realizar um ajuste de maior magnitude que as anteriores, de um ponto percentual, e pode repetir a dose nas próximas duas reuniões
11/12/2024O Comitê de Política Monetária do Banco Central anunciou uma elevação de 1 ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic, que passou de 11,25% para 12,25% ao ano. O Copom informou que decidiu realizar um ajuste de maior magnitude para cumprir seu objetivo de assegurar a estabilidade de preços, e informa que pode promover mais duas elevações da Selic da mesma magnitude nas próximas reuniões.
“Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões”, diz o comunicado.
A decisão de subir 1 ponto percentual (p.p.) era esperada por 24 das 117 instituições financeiras e consultorias consultadas pelo Valor Data. Já outras 89 instituições projetavam elevação de 0,75 p.p. e apenas quatro viam uma alta de 0,5 p.p.
A reunião encerrada nesta quarta-feira foi a última com a participação do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, que ficou quase seis anos no cargo. A partir de 2025, o atual diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, assume a função.
O Comitê avaliou que o cenário da economia mostra-se menos incerto e mais adverso do que na reunião anterior. E destaca riscos de alta para o cenário de inflação, com a piora de expectativas, além de uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que levam a uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.
O comunicado também cita o risco de desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e impactos do aperto monetário sobre a desinflação global.
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Comunicado do Copom sobre a elevação da taxa Selic para 12,25%
“O ambiente externo permanece desafiador, em função, principalmente, da conjuntura econômica nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo segue exigindo cautela por parte de países emergentes.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo, com destaque para a divulgação do PIB do terceiro trimestre, que indicou abertura adicional do hiato. A inflação cheia e as medidas subjacentes têm se situado acima da meta para a inflação e apresentaram elevação nas divulgações mais recentes.
As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se de forma relevante e encontram-se em torno de 4,8% e 4,6%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o segundo trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 4,0% no cenário de referência (Tabela 1).
Em função da materialização de riscos, o Comitê avalia que o cenário se mostra menos incerto e mais adverso do que na reunião anterior. Persiste, no entanto, uma assimetria altista no balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se:
- (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado;
- (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e
- (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.
Entre os riscos de baixa, ressaltam-se:
- (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e
- (ii) os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
O Comitê tem acompanhado com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio. Avaliou-se que tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa.
O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, dinamismo acima do esperado na atividade e maior abertura do hiato do produto, o que exige uma política monetária ainda mais contracionista.
O Copom então decidiu realizar um ajuste de maior magnitude, elevando a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 12,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões. A magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira”.