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Taxa básica de juros tem 12ª alta consecutiva e chega a 13,75%

No comunicado sobre a decisão, Comitê de Política Monetária diz que vai avaliar necessidade de ajuste de menor magnitude na próxima reunião

COPOM

O mercado já esperava esta alta juros e o ciclo de elevação da Selic deve se manter, apesar da desaceleração da inflação em julho | Foto: Getty Images

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou a taxa básica de juros pela 12ª vez consecutiva. A Selic subiu 0,5 ponto percentual e passa a ser de 13,75% ao ano. Para a próxima reunião, o Comitê antevê um novo ajuste, de menor magnitude.

O mercado já esperava esta alta e alguns analistas afirmam que a autoridade monetária brasileira deve manter o ciclo de elevação da Selic, para conter a inflação, apesar da desaceleração do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) com a queda dos preços dos combustíveis, em julho. 

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A prévia da inflação, o IPCA-15, desacelerou para 0,13% em julho, 0,56 ponto percentual (p.p.) abaixo da taxa de junho (0,69%). Trata-se da menor variação mensal do IPCA desde junho de 2020 (0,02%).

No ano, o IPCA-15 acumula alta de 5,79% e, em 12 meses, de 11,39%, abaixo dos 12,04% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em julho de 2021, a taxa foi de 0,72%. 

Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, disse que existem vários pontos que seguem pressionando a inflação, apesar da melhora na escalada dos preços. “O BC foi mais dovish, já que vemos melhora significativa em vários fatores que pressionam a inflação como por exemplo o preço das commodities”, disse. “Não deve ser a última alta, apesar de que o Brasil ter se adiantadato nesse processo de aperto monetário, e isso contribuiu para terminarmos o ciclo antes das demais economias e, também, porque ja temos nivel de juros excessivamente elevado.”

Para Jorge, o BC va muito além do que está sendo precificado no mercado entre 13,5% e 14% ao ano. “Vai deixar a porta aberta e acompanhar indicadores de inflação”, afirmou o especialista. “Quando começarmos a ver indicadores de inflação em processo descendente vamos poder afirmar a interrupção dos juros”, ressaltou.

Fabio Louzada, economista, analista CNPI, também afirma que a inflação, apesar de ter desacelerado em julho, não firmou em uma trajetória negativa firme. “Neste ano, não devemos ter uma inflação dentro da meta e o BC não vai interromper o ciclo agora”, disse Louzada. ”A taxa deve ser de pelo menos 14% neste ano, o que é influenciado pelo cenário de deterioração da expectaiva de inflação para 2023.”

Segundo o último Boletim Focus, a expectativa é de redução de inflação para este ano. De acordo com o documento o IPCA deve ficar em 7.15% e não 7,30% como na pesquisa anterior, quinta queda seguida do indicador.

Para 2023, a estimativa do mercado é de uma alta nos preços de 5,33%, a perspectiva anterior era de que a inflação fosse de 5,30%. “Esta elevação das estimativas pode ser influenciado pelos efeitos das medidas do governo que devem estimular o consumo nos próximos meses, como o Auxílio Brasil que aumentará de R$ 400 para R$ 600”, afirmou Louzada.

Íntegra do comunicado do Copom

“Em sua 248ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 13,75% a.a.

A atualização do cenário do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

O ambiente externo mantém-se adverso e volátil, com maiores revisões negativas para o crescimento global em um ambiente inflacionário ainda pressionado. O processo de normalização da política monetária nos países avançados tem se acelerado, impactando o cenário prospectivo e elevando a volatilidade dos ativos;

Em relação à atividade econômica brasileira, o conjunto dos indicadores divulgado desde a última reunião do Copom seguiu indicando crescimento ao longo do segundo trimestre, com uma retomada no mercado de trabalho mais forte do que era esperada pelo Comitê;

A inflação ao consumidor continua elevada, tanto em componentes mais voláteis como em itens associados à inflação subjacente;

As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;

As expectativas de inflação para 2022, 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 7,2%, 5,3% e 3,3%, respectivamente; e

No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 5,30*, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). Esse cenário supõe trajetória de juros que termina 2022 em 13,75% a.a., reduz-se para 11,00% em 2023 e 8,00% em 2024. Supõe-se que o preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “amarela” em dezembro de 2022, de 2023 e de 2024. Nesse cenário, as projeções de inflação do Copom situam-se em 6,8% para 2022, 4,6% para 2023 e 2,7% para 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de -1,3% para 2022, 8,4% para 2023 e 3,6% para 2024. As projeções do cenário de referência incorporam o impacto das medidas tributárias recentemente aprovadas. Para o horizonte de seis trimestres à frente, que suaviza o efeito ano-calendário, mas incorpora os impactos secundários das medidas tributárias que incidem entre 2022 e o primeiro trimestre de 2023, a projeção de inflação acumulada em doze meses situa-se em 3,5%. O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais adicionais que impliquem sustentação da demanda agregada, parcialmente incorporados nas expectativas de inflação e nos preços de ativos. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local; e (ii) uma desaceleração da atividade econômica mais acentuada do que a projetada. O Comitê pondera que a possibilidade de que medidas fiscais de estímulo à demanda se tornem permanentes acentua os riscos de alta para o cenário inflacionário. Por outro lado, nota que o aumento do risco de desaceleração da economia global também acentua os riscos de baixa. O Comitê avalia que a conjuntura ainda particularmente incerta e volátil requer serenidade na avaliação dos riscos.

Notou-se que as projeções de inflação para os anos de 2022 e 2023 estavam sujeitas a impactos elevados associados às alterações tributárias entre anos-calendário. Assim, o Comitê optou neste momento por dar ênfase à inflação acumulada em doze meses no primeiro trimestre de 2024, que reflete o horizonte relevante, suaviza os efeitos diretos decorrentes das mudanças tributárias, mas incorpora seus impactos secundários sobre as projeções de inflação relevantes para a decisão de política monetária.

Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 13,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2023 e, em grau menor, o de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

O Comitê avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião. O Copom enfatiza que seguirá vigilante e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas. Nota ainda que a incerteza da atual conjuntura, tanto doméstica quanto global, aliada ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional em sua atuação.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes.”

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