Copom eleva a taxa Selic em 0,25 ponto para 10,75% ao ano
Os motivos da elevação do juro foram a aceleração da já aquecida atividade econômica, a desvalorização do real frente ao dólar e o aumento das expectativas de inflação
18/09/2024O comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) elevou a taxa básica de juros (taxa Selic) em 0,25 ponto porcentual. Com isso a taxa passa de 10,50% para 10,75% ao ano.
Os motivos da elevação do juro foram a aceleração da já aquecida atividade econômica, a desvalorização do real frente ao dólar e as expectativas de inflação que ameaçam romper o teto da meta. O Copom tambem faz referência aos gastos públicos, e reafirma que “uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”.
O Banco Safra revisou recentemente a projeção para a taxa Selic no fim de 2024, para 11,00%.
Segundo a análise do banco, o aumento da expectativa de inflação capturado pelo Relatório Focus ao longo dos últimos meses e o pequeno desvio da projeção de inflação do modelo do Banco Central devem levar o Copom a aumentar a Selic em 0,50 p.p. neste ano, levando-a para 11,00% a.a. até dezembro. A redução das pressões inflacionárias permitirá a retomada do ciclo de redução da taxa Selic em 2025, segundo as projeções do Safra.
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A Selic caiu de 13,25% em outubro do ano passado para 10,50% junho desde ano. A alta para 10,75% vem após duas reuniões seguidas em que a taxa foi mantida.
O Banco Safra espera que o segundo semestre seja mais favorável para o noticiário fiscal, visto que muitas despesas já
foram antecipadas no primeiro semestre, o que deve criar condições para a queda dos juros reais mais longos no Brasil.
Apesar das mudanças nos juros no Brasil e nos Estados Unidos, os especialistas do Safra ainda não identificam gatilhos críveis que motivem a alteração dos portfolios recomendados de agosto para setembro.
Recomendações de investimentos no atual cenário de juros
Na Renda Fixa, o Safra segue com um viés favorável para a classe de juros reais (IPCA+) com vencimentos entre 7 e 10 anos, enquanto enxerga oportunidades táticas nas alternativas pós e prefixadas.
Na “pós”, os investimentos recomendados conseguem capturar os juros ainda elevados, além de contar com potencial migração futura para outras classes de investimento, enquanto na “pré”, diante da curva de juros futuros que precifica taxas mais altas do que o banco acredita que devem ocorrer, o Safra vê oportunidades em vencimentos mais curtos (2 anos).
Adicionalmente o banco destaca opções de investimento internacional como um caminho de oportunidade e diversificação tanto nas ações como na renda fixa. O Safra destaca que, como são opções de investimento com maior volatilidade potencial, produtos estruturados com capital inicial protegido e, em muitos casos, com retorno mínimo garantido, são alternativas seguras para o atual momento de mercado.
Íntegra do comunicado do Copom
“O ambiente externo permanece desafiador, em função do momento de inflexão do ciclo econômico nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo, também marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países, segue exigindo cautela por parte de países emergentes.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo maior do que o esperado, o que levou a uma reavaliação do hiato para o campo positivo. A inflação medida pelo IPCA cheio assim como medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.
As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,4% e 4,0%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,5% no cenário de referência* (Tabela 1).
O Comitê avalia que há uma assimetria altista em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se
- (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado;
- (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e
- (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.
Entre os riscos de baixa, ressaltam-se:
- (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e
- (ii) os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal, junto com outros fatores, tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.
O cenário, marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, demanda uma política monetária mais contracionista. Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 10,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira”.
- No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de R$5,60/US$, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “amarela” em dezembro de 2024 e de 2025. O valor para o câmbio foi obtido pelo procedimento usual.