Copom eleva taxa de juros a 13,25% na primeira decisão da era Galípolo
Para as próximas reuniões, o mercado aposta que o ciclo de aperto dos juros pode levar a taxa Selic para 15% ao ano, acima dos 14,25% previstos pelo Banco Central
29/01/2025Nova alta dos juros foi decidida na primeira reunião de política monetária na gestão do novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, nomeado por Lula | Foto: Getty Images
O Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom) elevou a taxa básica de juros (taxa Selic) em 1 ponto porcentual, para 13,25%. No comunicado sobre a decisão unânime, o Comitê acena com um novo ajuste de mesma magnitude na próxima reunião, dia 19 de março, “em se confirmando o cenário esperado”. Foi a primeira reunião do Copom na gestão do novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, nomeado pelo presidente Lula.
Para as próximas reuniões, a leitura da ampla maioria é de que o ciclo de aperto dos juros pode chegar a 15%, acima dos 14,25% indicados pelo Banco Central, por causa da pressão da inflação. Os analistas do Safra destacam que o Copom não divulgou a orientação (guidance) para as reuniões seguintes, e informou apenas que a decisão dependerá da evolução da inflação, das expectativas e da atividade.
Nesta mesma superquarta, na primeira reunião de política monetária na segunda gestão de Donald Trump, o Federal Reserve manteve a taxa de juros no atual patamar entre 4,25% e 4,50% ao ano. A decisão unânime veio poucos dias após a declaração de Trump de que vai “exigir” taxas de juros mais baixas no país.
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Primeira reunião do Copom com Galípolo no comando do BC elava Selic para 13,25%
A deliberação do Copom já era esperada pelo mercado. Em dezembro, o comitê de política monetária já havia antecipado a decisão desta quarta-feira. Após elevar a taxa de 11,25% para 12,25% ao ano na época, o Copom informou que iria promover mais duas elevações da Selic da mesma magnitude, de 1 ponto porcentual, nas próximas reuniões.
Uma pesquisa do jornal Valor Econômico com 120 instituições mostrou que todas esperavam a elevação da taxa básica de juros em um ponto percentual.
A mediana das respostas para a taxa de juros no fim de 2025 está em 15% – 0,75 ponto percentual acima dos 14,25% já sinalizados pela orientação futura do Copom emitida em dezembro. Apenas 13 das 120 instituições esperam que a Selic termine o ano abaixo de 14,25%, ou seja, a maioria do mercado vê pouco espaço para um afrouxamento monetário neste ano.
Íntegra do comunicado comunicado do Copom
“O ambiente externo permanece desafiador em função, principalmente, da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, o que suscita mais dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo segue exigindo cautela por parte de países emergentes.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo. A inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação e novamente apresentaram elevação nas divulgações mais recentes.
As expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se de forma relevante e situam-se em 5,5% e 4,2%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o terceiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 4,0% no cenário de referência (Tabela 1).
Persiste uma assimetria altista no balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) impactos sobre o cenário de inflação de uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada; e (ii) um cenário menos inflacionário para economias emergentes decorrente de choques sobre o comércio internacional e sobre as condições financeiras globais.
O Comitê segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida seguem impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes.
O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista.
O Copom então decidiu elevar a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 13,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de mesma magnitude na próxima reunião. Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Gabriel Muricca Galípolo (presidente), Ailton de Aquino Santos, Diogo Abry Guillen, Gilneu Francisco Astolfi Vivan, Izabela Moreira Correa, Nilton José Schneider David, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.”

