Taxa básica de juros sobe para 14,25%, a mais alta desde outubro de 2016
Comitê de Política Monetária do Banco Central volta a elevar os juros para conter o consumo e a inflação, e anuncia mais uma elevação 'de menor magnitude' no início de maio
19/03/2025O Ibovespa engatou a sexta alta seguida nesta quarta-feira, horas antes do anúncio do Comitê de Política Monetária (Copom) | Foto: Getty Images
O Comitê de Política Monetária (Copom) voltou a elevar a taxa básica de juros (Selic), que agora passa a ser de 14,25% ao ano, patamar mais elevado desde outubro de 2026, após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Foi a quinta alta seguida da taxa de juros, dentro da estratégia do BC para conter a inflação.
O comunicado do Copom informa que o Banco Central deve desacelerar os juros na próxima reunião, com um ajuste de menor magnitude: “Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, da elevada incerteza e das defasagens inerentes ao ciclo de aperto monetário em curso, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de menor magnitude na próxima reunião”.
A decisão era amplamente esperada desde dezembro do ano passado, quando o Banco Central anunciou um choque de juros para ancorar as expectativas do mercado e conter a depreciação dos preços dos ativos domésticos.
O mercado aguardava o comunicado para avaliar os rumos da política monetária. O texto divulgado, porém destaca que isso deve depender da conjuntura: “Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.
Após acelerar a alta da Selic com elevação de um ponto percentual na última reunião do ano passado, o Copom comunicou ao mercado a necessidade de mais duas elevações da mesma magnitude. Assim, os juros voltaram a subir em janeiro e novamente nesta superquarta de março, no mesmo dia em que o Federal Reserve voltou a manter os juros na faixa entre 4,25% a 4,50%, também dentro da expectativa do consenso dos analistas.
A reunião desta semana do Copom foi a segunda sob a presidência de Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula para comandar o Banco Central, mas a elevação da Selic já estava decidida desde a gestão do ex-presidente, Roberto Campos Neto.
Saiba mais
- Itaúsa é a principal escolha do Safra no setor bancário
- Safra é o melhor banco em fundos de ações, segundo a FGV
- Como operar na bolsa de valores com a segurança da Safra Corretora
Os especialistas do Banco Safra avaliam que o aperto monetário deve afetar o consumo e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve encerrar 2025 em apenas 1,5% neste ano, o que contribuirá para a redução da inflação ao longo do segundo semestre. O crescimento projetado pelo Safra é de menos da metade do PIB do ano passado, de 3,4%.
Segundo a análise dos especialistas do Safra, a desaceleração do consumo já observada nos últimos meses de 2024 deve se agravar nos próximos meses, o que deve reduzir a pressão dos preços. O banco projeta que a inflação oficial medida pelo IPCA deve fechar o ano de 2025 em 5,2%.
Taxa Selic deve voltar a cair só no fim de 2025
A inflação deve continuar pressionada no primeiro semestre, com os efeitos secundários da desvalorização do real frente ao dólar e choques ocorridos ao longo do segundo semestre do ano passado.
A acomodação da atividade econômica ao longo do ano e a maior dificuldade das empresas em repassar aumentos de custos para o consumidor no segundo semestre poderá permitir que o Banco Central inicie um novo ciclo de redução dos juros ainda no final de 2025, segundo o Banco Safra.
Mercado financeiro reage às decisões da superquarta
O Ibovespa engatou a sexta alta seguida nesta quarta-feira, horas antes do anúncio do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central e após a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sobre juros. O índice encerrou em alta de 0,79%, aos 132.508 pontos. Esse é o nível de fechamento mais alto desde 2 de outubro, quando o índice terminou aos 133.515 pontos.
Durante o pregão, o Ibovespa oscilou entre os 131.451 pontos e 132.508 pontos. A queda mais expressiva dos juros futuros durante a tarde ajudou o Ibovespa, em meio à coletiva do presidente do Fed, Jerome Powell, assim como a subida de boa parcela das ações de bancos, com destaque para as ON do Bradesco, que subiram 1,16%.
Os papéis da Petrobras voltaram a registrar movimento misto durante o pregão. As PN fecharam em queda de 0,08%, enquanto as ON avançaram 0,48%. Quando as ações ordinárias apresentam alta e as preferenciais recuam, operadores citam que há indícios de compra de investidor estrangeiro. A explicação é que os recibos de ações (ADRs) da ação ordinária da estatal costumam ser mais líquidos. Já as ações da Vale amargaram queda de 0,17%.
Ações domésticas foram destaque entre as maiores, caso dos papéis da Vivara, que subiram 7,57%. Na ponta contrária ficaram as ações da SLC agrícola, que caíram 3,52%.
O volume financeiro do índice na sessão chegou a R$ 18,2 bilhões e de R$ 25,6 bilhões na B3. Já em Wall Street, o movimento foi positivo: Nasdaq subiu 1,41%; S&P 500 teve alta de 1,08% e Dow Jones subiu 0,92%.
Opções de investimentos no atual cenário de juros
O Banco Safra mantém a preferência pela classe de juros reais (IPCA+) que continua mostrando taxas atrativas e que raramente foram vistas nos últimos 10 anos, principalmente aquelas com vencimentos entre 7 a 10 anos.
Apesar da redução dos spreads de crédito, o Safra continua vendo alternativas interessantes em dívida privada e isentas de imposto de renda para pessoas físicas.
Na renda variável, o banco continua com uma visão cautelosa para o Ibovespa, apesar do valuation descontado frente à sua média histórica. Para os especialistas do Safra, os riscos tanto externos quanto internos devem continuar impactando os preços dos ativos. O banco segue preferindo estratégias mais conservadoras e de capital protegido dentro da classe.
No âmbito internacional – os índices norte-americanos apresentaram desempenho negativos, influenciados por diversos fatores econômicos e
geopolíticos.
Os especialistas do Safra reforçam que a diversificação é o melhor caminho para garantir bons resultados nas decisões de investimentos. Investimentos Internacionais em dólares, de renda fixa e renda variável, continuam entre as preferências do Safra, como alternativas para diversificação e captura de oportunidades. (Com informações do Valor Econômico e Agência Brasil)
Íntegra do comunicado do Copom
Eis a íntegra do comunicado do Copom: “O ambiente externo permanece desafiador em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente pela incerteza acerca de sua política comercial e de seus efeitos. Esse contexto tem gerado ainda mais dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed e acerca do ritmo de crescimento nos demais países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo segue exigindo cautela por parte de países emergentes.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo, ainda que sinais sugiram uma incipiente moderação no crescimento. A inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação e novamente apresentaram elevação nas divulgações mais recentes.
As expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se de forma relevante e situam-se em 5,7% e 4,5%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o terceiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,9% no cenário de referência (Tabela 1).
Persiste uma assimetria altista no balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) impactos sobre o cenário de inflação de uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada; e (ii) um cenário menos inflacionário para economias emergentes decorrente de choques sobre o comércio internacional e sobre as condições financeiras globais.
O Comitê segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes.
O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista.
O Copom então decidiu elevar a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 14,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, da elevada incerteza e das defasagens inerentes ao ciclo de aperto monetário em curso, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de menor magnitude na próxima reunião. Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Gabriel Muricca Galípolo (presidente), Ailton de Aquino Santos, Diogo Abry Guillen, Gilneu Francisco Astolfi Vivan, Izabela Moreira Correa, Nilton José Schneider David, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.”

