Início do ciclo de corte de juros nos EUA favorece bolsas globais
Histórico dos ciclos de afrouxamento monetário nos EUA nos últimos 30 anos mostra impacto positivo nas bolsas globais; inflação controlada indica pouso suave
17/09/2024O Banco Safra analisou o desempenho das bolsas norte-americanas, dos setores do S&P 500 e de mercados emergentes durante os ciclos de cortes de juros realizados pelo Federal Reserve. Os dados analisados referem-se ao período de seis meses após o fim dos ciclos de cortes de juros, e entre o último corte e o início do ciclo de alta nos juros.
Nos períodos analisados, o estudo mostra que:
- i) na média, as bolsas dos EUA e de emergentes apresentaram desempenho negativo de 10% nos últimos cinco ciclos de cortes nos juros, quando os mercados foram impactado pelas crises econômicas de 2001, 2008 e 2020 (se excluirmos esses anos, o desempenho teria sido positivo em 11,3%);
- ii) o período de seis meses que sucede o fim de um ciclo de cortes de juros costuma ser positivo para os mercados, em especial para as bolsas de países emergentes (Índia e Brasil se destacam com valorizações médias de 34,5% e 31,4%, respectivamente);
- iii) considerando o período em que os juros ficaram baixos (do fim do ciclo de corte até o próximo ciclo de alta), todas as bolsas tiveram performances positivas.
Expectativa de pouso suave nos EUA
O Banco Safra espera que a inflação nos Estados Unidos deverá atingir a meta estabelecida pela autoridade monetária sem provocar uma desaceleração brusca na atividade econômica, abrindo espaço para redução da taxa de juros.
Nos EUA, a renda pessoal disponível desacelerou a preços constantes, levando a uma moderação no consumo das famílias e nas encomendas das empresas. A combinação entre estabilização da demanda por trabalhadores e aumento da oferta de mão de obra tem ajustado o mercado de trabalho (a taxa de desemprego atingiu patamar superior a 4% no mês passado, ante 3,5% há um ano).
Assim, a contenção dos custos trabalhistas deve ajudar a reduzir a inflação ao consumidor, viabilizando o início do ciclo de redução da taxa de juros na reunião do FOMC de 18 de setembro. Os últimos dados econômicos divulgados nos EUA mostraram sinais de desaceleração mais intensa em determinados segmentos, o que preocupou o mercado inicialmente, mas um cenário de recessão parece improvável.
Apesar de alguns dados recentes terem levantado preocupações quanto à velocidade da desaceleração da economia nos EUA, o indicador da Bloomberg que mensura a possibilidade de uma recessão na economia norte-americana ao longo dos próximos 12 meses mostra 30% de probabilidade de recessão, o menor nível do último ano.
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A baixa probabilidade de recessão reforça a perspectiva positiva para o desempenho dos mercados acionários durante o ciclo de cortes de juros que deve se iniciar na quarta-feira, dia 18.
Setorialmente, nos últimos cinco ciclos de queda nos juros, Consumo Básico foi o mais resiliente do S&P 500. No entanto, nos períodos em que os juros estavam estabilizados em patamares mais baixos, os setores de Consumo Discricionário e Tecnologia apresentaram as melhores performances, já que o mercado estava em busca por alternativas mais arriscadas, enquanto Energia, Construção e Utilidades Básicas registraram as piores performances.
Cortes de juros ajudaram na recuperação econômica, mas impactos sobre a performance da bolsa variam
Analisando a evolução do múltiplo de negociação do S&P 500 durante os ciclos de cortes de juros, houve contração de múltiplos (de 19,6x para 17,9x).
Porém, desconsiderando os períodos de crise mundial e/ou nos EUA (2001, 2007/08 e 2019/20), houve expansão (de 20x para 21,7x). Além disso, se olharmos para períodos mais longos após a redução de juros começar (seis meses após o último corte de juros; e entre o último corte e o início da alta nos juros do ciclo seguinte), o múltiplo preço/lucro (P/L) do S&P apresentou expansão (de 17,9x P/L para 21x no primeiro caso; e para 21,7x, no segundo).
Assim, os especialistas do Safra acreditam que o início da queda nos juros norte-americanos vai beneficiar os mercados acionários.
Além disso, dentre os setores que mais se beneficiaram durante o ciclo de cortes, o destaque ficou com Consumo Básico; e olhando para janelas mais longas, Consumo Discricionário e Tecnologia.
Expectativa de pouso suave nos EUA
O Safra espera que a inflação no país atingirá a meta sem provocar uma desaceleração brusca na atividade econômica, abrindo espaço para redução da taxa de juros na reunião do FOMC de 18 de setembro.
A atividade econômica e a inflação estão desacelerando ao redor do mundo, e os principais bancos centrais devem reduzir suas taxas básicas de juros neste semestre.
Nos EUA, a renda pessoal disponível desacelerou a preços constantes, levando a uma moderação no consumo das famílias e nas encomendas das empresas.
A combinação entre estabilização da demanda por trabalhadores e aumento da oferta de mão de obra tem ajustado o mercado de trabalho, ocasionando um aumento da taxa de desemprego para um patamar superior a 4% no mês passado, ante 3,5% há um ano.
Assim, a contenção dos custos trabalhistas ajuda a reduzir a inflação ao consumidor, o que viabiliza o início do ciclo de redução da taxa de juros amanhã.
Expectativas do mercado para a inflação
A expectativa de consenso de mercado Bloomberg aponta para uma desaceleração da inflação ao consumidor de 4,1% em 2023 para 2,9% e 2,3% em 2024 e 2025, respectivamente, abrindo espaço para cortes de juros de 0,75 ponto percentual em 2024 e 1,25 ponto percentual em 2025, levando o juro a 3,6% ao final de 2025.
As expectativas de consenso de mercado Bloomberg apontam que a atividade econômica deve sofrer moderação no crescimento em 2025, passando a crescer 1,7% (de 2,5% em 2024).
Cenário mais agressivo de corte de juros
A curva de juros nos EUA indica 97% de chance de um ciclo de afrouxamento monetário de 2,5 pontos percentuais até o fim de 2025, levando os juros a 3,0% ao final do ciclo.
Para 2024, há 94% de probabilidade de cortes de 1,25 ponto percentual e 100% de probabilidade de cortes de 1,25 ponto percentual precificados para 2025.
Nos últimos 30 anos, Fed promoveu cinco ciclos de corte de juros
Os últimos ciclos de cortes duraram entre três e 30 meses e os cortes variaram de 0,75 ponto percentual (em 1995 e 1998) a 5,0–5,5 pontos percentuais (2001 e 2007). As projeções de consenso de mercado Bloomberg apontam para um ciclo de cortes de 2 pontos percentuais a partir de setembro de 2024, levando a taxa dos atuais 5,5% (intervalo de 5,25% a 5,5%) para 3,5% ao fim de 2025.
O que aconteceu na economia durante os últimos ciclos de cortes de juros nos EUA?
O Safra analisou o desempenho histórico do PIB dos EUA ao longo dos últimos 30 anos e destaca que os ciclos de corte de juros normalmente aconteceram em momentos de desaceleração da atividade econômica.
Em apenas dois dos cinco eventos houve recessão econômica: em 2009 por conta da Crise do Subprime nos EUA; e em 2020, por conta da pandemia de covid-19.
Os últimos dados econômicos divulgados nos EUA têm mostrado sinais de desaceleração mais intensa em determinados segmentos, o que preocupou inicialmente o mercado, mas um cenário de recessão parece improvável.
Apesar de alguns dados recentes terem levantado preocupações quanto à velocidade da desaceleração da economia nos EUA, o indicador da Bloomberg que mensura a possibilidade de uma recessão na economia norte-americana ao longo dos próximos 12 meses mostra 30% de probabilidade de recessão, o menor nível do último ano.
A baixa probabilidade de recessão reforça a perspectiva positiva para o desempenho dos mercados acionários durante o ciclo de cortes de juros que deve se iniciar nesta semana.
Analisando os últimos cinco ciclos de cortes de juros pelo banco central norte-americano, o Safra nota que, dentre esses períodos, quatro ocorreram em momentos de crise econômica mundial. Apenas o ciclo de afrouxamento monetário que ocorreu em 1995 aconteceu em um momento mais calmo para a economia mundial e norte-americana.
Esse cenário se assemelha com o momento atual, em que o movimento de corte de juros está sendo impulsionado por uma inflação comportada e uma economia em desaceleração nos Estados Unidos.
Desempenho do Ibovespa nos ciclos de quedas de juros
No Brasil, excluindo da análise o período em que a taxa ficou baixa por um período mais longo e instabilidades internas impediram que a bolsa brasileira performasse na mesma intensidade do que seus pares emergentes –, o Ibovespa se destaca com a melhor performance dentre as outras bolsas emergentes, subindo 46%, em média.
Impacto das eleições norte-americanas
O cenário para as eleições norte-americanas se tornou mais disputado após a desistência de Joe Biden e a assunção de Kamala Harris como candidata à disputa pela presidência do país. Independentemente do resultado, a expectativa é de
um desfecho inflacionário diante das propostas dos candidatos, que adotam posturas mais populistas, com programas de governo fiscalmente expansionistas.
A corrida para a presidência dos Estados Unidos costuma trazer volatilidade para as bolsas, e as diferentes propostas dos candidatos poderiam ter algum tipo de influência no ritmo de afrouxamento monetário.
Análise do programas de governo de oposição
O programa de governo de Trump indica elevação das tarifas de produtos importados de todos os países e, em especial, das mercadorias vindas da China. Se implementada, essa medida poderia ter impactos significativos sobre o PIB dos EUA, trazer
algum choque para a inflação, além de aumentar os conflitos com o país asiático.
Por outro lado, medidas mais permissivas ao setor de petróleo poderiam aumentar a oferta da commodity e levar a uma redução de seus preços. Porém, o controle do preço do petróleo vai além dos poderes do presidente norte-americano e essas medidas podem não ter o efeito esperado.