close

Inflação baixa favorece corte de juros nos EUA em setembro e dezembro

Desaceleração da inflação favorece corte nos juros de 0,25% na segunda metade de setembro e corte adicional de mesma magnitude em dezembro

Juros nos EUA

O resultado favorável do mês de junho facilita o ajuste da mensagem do Fed sobre a dinâmica e perspectivas da inflação americana | Foto: Getty Images

A inflação americana caiu mais do que o esperado, mas em linha com a dinâmica que vem se desenvolvendo desde o começo do ano. Essa dinâmica foi mascarada pelo ajuste de preços relativos (serviços, incluindo saúde e seguros) que vieram recuperando terreno ainda na esteira da Covid-19, segundo análise macroeconômica dos especialistas do banco Safra.

Também contribuíram para a menor clareza daquela dinâmica questões estatísticas, tais como o cálculo dos aluguéis implícitos, o OER. Esse tem grande inércia e seus pesos foram mudados em janeiro com uma ponderação maior para residências mais caras.

Saiba mais

O Índice de Preços ao Consumidor americano (CPI) apresentou a primeira deflação em mais de dois anos, recuando 0,06% na variação mensal, com ajuste sazonal. Já o núcleo, que exclui os itens voláteis de alimentação e energia, subiu 0,06% pela mesma métrica.

Com a divulgação de junho, a inflação acumulada do núcleo no segundo trimestre do ano foi de 0,5%, um progresso importante em relação ao trimestre anterior, quando acumulou 1,1%.

A parte de bens registrou deflação (-0,12%). Esta foi puxada principalmente pelos preços de automóveis, que após a forte alta registrada ao longo de 2021 estabilizaram e nos últimos trimestres caíram marginalmente. Os preços de veículos novos caíram 0,16% no mês, enquanto os dos usados cederam 1,53%.

A inflação de serviços também desacelerou, passando de 0,22% em maio para 0,13% em junho. Esse recuo foi beneficiado pelo arrefecimento da inflação dos aluguéis, com o OER e os aluguéis médios começando a refletir com mais força o fato de que os novos aluguéis pararam de crescer há algum tempo, como mostram as coletas de preços dos sites de locação de imóveis Zillow e Apartment List.

Considerando que a soma dos pesos do aluguel e do OER corresponde a 34,2% do núcleo do CPI, sua gradual convergência para patamares mais baixos vai beneficiar a inflação como um todo, facilitando a convergência da inflação para a meta do Fed.

Inflação em queda favorece corte de juros nos EUA em setembro

O resultado favorável do mês de junho facilita o ajuste da mensagem do Fed sobre a dinâmica e perspectivas da inflação americana.

Os três meses de inflação mais alta no início do ano levaram os membros de seu comitê de política monetária (FOMC) a temer que o processo desinflacionário estivesse se exaurindo, o que levou a ratificar a mensagem dos juros “altos por mais tempo”, com alguns participantes considerando que o bom desempenho da atividade indicaria a necessidade até de eventual aumento dos juros para segurar o consumo e a inflação.

As repercussões desse ajuste de perspectiva foram fortes nos mercados de juros, na bolsa e no câmbio, nos EUA e no resto do mundo. A recuperação da confiança na continuidade do processo desinflacionário só foi indicada com mais clareza a partir da ata da reunião do FOMC do dia 12 de junho, publicada em 3 de julho. Nela, deu-se mais destaques aos vários indícios de esfriamento da economia presentes nas edições Livro Bege dos últimos meses e incorporou-se a observação de que a inflação havia voltado a progredir e a economia a esfriar, ainda que de forma modesta, à luz inclusive da divulgação do CPI de maio ocorrida no próprio dia 12 de junho.

As indicações qualitativas reportadas no Livro Bege já começam a se traduzir nos índices de preço. Há vários meses essa publicação tem apontado que as famílias têm se mostrado mais moderadas nos seus gastos discricionários e os consumidores mais resistentes a aumentos de preços, além do gradual alívio no mercado de trabalho. Com menor pressão de custos e uma demanda menos vigorosa, a inflação tende a perder fôlego. No CPI de junho, por exemplo, vários serviços com contornos discricionários, como passagens aéreas e hospedagens, tiveram quedas de preço.

A evolução da inflação no ano e da comunicação do Fed tem correspondido a ajustes importantes na curva de juros e nos preços de ativos financeiros americanos (Gráfico 4).

A queda da inflação no segundo semestre de 2023, combinada a uma percepção de mais otimismo na superação dos riscos inflacionários na comunicação do Fed na virada do ano, levou a uma forte subida da bolsa americana (de vários trilhões de dólares) e a uma precificação de queda de juros acelerada no mercado de renda fixa.

No começo do ano a curva futura indicava a expectativa de corte de mais de 150 pontos (1,5%) na taxa de juros ao longo de 2024, o equivalente a mais de seis cortes de 0,25%. Entre janeiro e abril essa expectativa foi fortemente revisada, primeiro pelo ajuste da comunicação do Fed de que não pretendia cortar os juros em março e pelas surpresas altistas nos índices mensais de preço no primeiro trimestre.

Essa redução na expectativa de cortes foi tão significativa que a curva futura em fins de abril sugeria que o mercado duvidava de que o Fed viesse a dar mais do que um corte até dezembro. A diversidade de opiniões dentro do FOMC provavelmente contribuiu para a volatilidade da curva de juros, visto que os quadros com a expectativa dos diretores do Fed com respeito à taxa de juros em final de 2024 mostravam grande dispersão, com a mediana dessas expectativas ao longo do primeiro semestre deixando de apontar três cortes e passando a apontar apenas um até dezembro.

A persistência de divulgação do CPI com variação mensal abaixo de 0,2% deve dar confiança suficiente para o FOMC fazer um primeiro corte nos juros de 0,25% na segunda metade de setembro e seguir com um movimento adicional de mesma magnitude em dezembro. Essa expectativa voltou a estar refletida nos preços mais recentes dos ativos financeiros americanos.

Abra sua conta no Banco Safra.

CTA Padrão CTA Padrão

Assine o Safra Report, nossa newsletter mensal

Receba gratuitamente em seu email as informações mais relevantes para ajudar a construir seu patrimônio

Invista com os especialistas do Safra