Data centers crescem e impulsionam empresas e ações; confira quais
Especialistas do Banco Safra analisam o atual estágio de expansão dos data centers e os efeitos positivos para ações de serviços de tecnologia, energia e bens de capital
14/04/2025
Data centers são instalações físicas que fornecem energia estável, com boa conectividade e alta segurança para armazenar servidores de computadores usados por organizações para armazenamento remoto, processamento ou distribuição de grandes quantidades de dados | Foto: Getty Images
Os data centers desempenham um papel cada vez mais importante no setor de tecnologia, fornecendo a infraestrutura necessária para aplicativos em nuvem, cargas de trabalho de Inteligência Artificial e análise de dados. O crescimento exponencial deste setor foi analisado em um relatório dos especialistas do Banco Safra.
Os analistas avaliam os impactos da expansão dos centers em outras áreas, como a demanda crescente por eletricidade, os benefícios para distribuidoras e geradoras de energia e os investimentos em soluções de estabilidade de rede, armazenamento em baterias e expansão de linhas de transmissão para conectar usinas renováveis a centros de demanda. Fabricantes de geradores e transformadores também são beneficiados, assim como diversas outras empresas com ações listadas na Bolsa de Valores.
O relatório foi elaborado após uma visita, no dia 2 de abril, a um grande centro de processamento de dados no estado de São Paulo. O objetivo da investigação foi avaliar a dinâmica estrutural do setor e a novas oportunidades, como a adoção de Inteligência Artificial (IA).
O relatório do banco avalia o impacto da expansão dos data centers nas empresas de serviços de utilidade pública (energia), tecnologia e bens de capital.

O que são data centers
Os data centers são instalações físicas que fornecem energia de modo estável, com boa conectividade e alta segurança para armazenar servidores de computadores usados por organizações para armazenamento remoto, processamento ou distribuição de grandes quantidades de dados.
Grandes corporações no setor de tecnologia (provedores de serviços em nuvem, por exemplo) geralmente possuem seus próprios data centers. Porém, existem data centers que oferecem esses serviços (energia, conectividade e segurança) 24 horas por dia, 7 dias por semana, para diferentes clientes (inquilinos de segmentos diversos, como bancos, empresas de telecomunicações e e-commerce e até mesmo grandes companhias de tecnologia, por exemplo), que geralmente pagam um aluguel mensal para usar as instalações, denominadas data centers de colocação compartilhada.
Os data centers são avaliados pela quantidade de energia (em MW, relacionada apenas ao consumo por atividades de TI) disponível para uso no local, pois a energia é um recurso essencial para manter os servidores funcionando.
Os grandes data centers, com instalações de última geração em áreas mais extensas e que fornecem acesso a uma maior capacidade de energia, são chamados de data centers em hiperescala.

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A arquitetura de um data center
Como mencionado acima, a disponibilidade de energia é essencial para data centers, que consomem energia para manter todos os servidores e chips funcionando 24 horas por dia, 7 dias por semana, e para resfriar a temperatura nas salas, pois o funcionamento constante dos servidores produz calor.
A localização também é importante. Tradicionalmente, esses data centers são conectados à rede de distribuidoras de energia por linhas de transmissão de alta tensão, embora também possuam seus próprios transformadores no local para garantir que a energia flua com a tensão correta para o equipamento. Além disso, as instalações também possuem sistemas de reservas de energia, como baterias no local, assim como geradores térmicos independentes a diesel, caso o fornecimento da rede falhe.
Os edifícios também consomem energia para seu sistema de resfriamento (a ar ou líquido), o que permite que os servidores operem em condições ideais de temperatura (sem superaquecimento).
Conectividade boa também é importante, pois uma das muitas funções dos servidores é solicitar e/ou enviar dados pela Internet, e a velocidade de resposta dos servidores é essencial para certos segmentos.
Fundamentos econômicos dos data centers
Durante a visita a um grande data center na região de São Paulo, os analistas foram informados de que a demanda para TI é responsável por aproximadamente 65% do consumo de energia total. Os custos de energia representam cerca de 60% das despesas operacionais totais da instalação.
Dependendo dos padrões tecnológicos e do design, o investimento exigido varia de US$7mi a US$11mi por MW instalado. Cerca de 30% do investimento desembolsado em instalações de data center (do shell, que é a estrutura) é destinado à infraestrutura de energia.
A parcela restante se refere, principalmente, a equipamentos e componentes adquiridos para serem instalados nas dependências. Nos data centers destinados à IA, os investimentos totais podem ser três vezes maiores.
A receita estimada para data centers brasileiros ultrapassa US$1bilhão anualmente, e pares globais de capital aberto registram margens LAJIDA de até 40%.
O mercado brasileiro
Uma das pioneiras (e ainda uma das maiores) companhias neste segmento na América Latina é a Ascenty, um consórcio entre a Digital Realty (não coberta; uma das maiores operadoras de data center do mundo) e a Brookfield (não coberta), que iniciou suas operações em 2010.
Os data centers começaram a crescer na América Latina em 2019 devido à expansão dos serviços de nuvem e ao início das operações de diversos novos players no mercado latino-americano (Elea, Scala, ODATA, Equinix, etc.). De acordo com a Associação Brasileira de Data Center (ABCD), o mercado brasileiro de data centers atingiu cerca de 580 MW instalados no fim de 2024 (o consumo total de eletricidade no Brasil está atualmente perto de 75 GW) e espera-se que ultrapasse 2 GW até 2028.
De acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), as solicitações de acesso à rede vinda de novos data centers até 2035 somam 9 GW. As estimativas de crescimento da capacidade dos data centers no Brasil estagnaram em 2024, o que participantes do setor atribuíram a uma fase de transição à medida que o mercado se prepara para a próxima geração de infraestrutura focada em IA, o que aumentaria os requisitos de infraestrutura.
Os treinamentos da IA estão impulsionando uma mudança fundamental no design de data centers. Enquanto os racks (estantes em que os servidores são colocados) de nuvem
tradicionais consomem cerca de 7 kW, o consumo por racks de IA pode exceder 100 kW, o que exige dez vezes mais densidade de potência de energia e torna o data hall (sala de data center) padrão de 2 MW inadequado para expansão.
Essas implantações também exigem sistemas de resfriamento personalizados, os quais variam entre fornecedores de chips como a NVIDIA (não coberta), o que aumentaria o risco de retrofits caros em caso de mudança de padrão. Devido a essa incerteza, as companhias hiperescaladoras estão concentrando as construções iniciais de infraestruturas para IA nos EUA, onde podem aperfeiçoar as configurações antes de se expandir globalmente. Além disso, o país concentrou internamente o treinamento de IA tanto para controle estratégico quanto para soberania de dados.
No entanto, estão surgindo questões com limitações de energia, particularmente em regiões de alta demanda, levando a considerações sobre o uso de energia nuclear e térmica – ainda que a receptividade de clientes permaneça incerta, especialmente daqueles com foco em ESG (critérios de impacto ambiental, social e de governança de uma empresa).
Embora o treinamento de IA possa ocorrer em qualquer lugar devido à menor sensibilidade à latência, a inferência requer proximidade com os usuários finais, o que enfatiza a necessidade de data centers avançados e regionais.
Os polos de data center no Brasil
A região de São Paulo, especialmente áreas como Barueri, tornou-se um polo de atração de data center importante devido à baixa latência e à forte concentração de players em hiperescala.
Apesar do interesse em construir usinas de energia perto dessa região, o principal gargalo não é apenas o fornecimento de energia, mas também a conectividade. Os principais projetos para novos data centers estão localizados em áreas já conectadas a grandes cabos submarinos, o que mostra como essa infraestrutura é importante para o design da instalação.


O Brasil poderia se tornar um novo polo global de IA?
O Brasil é cada vez mais visto como um forte concorrente na corrida global de data centers, competindo com regiões como Índia, África e Ásia. Com energia limpa abundante e conectividade sólida, ele atende os principais requisitos necessários para infraestrutura de IA – na qual a latência durante o treinamento é menos crítica.
Grandes clientes já estão estabelecidos no país, com equipes e escritórios instalados, posicionando o Brasil para aumentar rapidamente a escala. A energia limpa se tornou um fator decisivo em novos contratos, e os players do setor acreditam que os próximos três anos serão cruciais para definir se o Brasil emergirá ou não como um polo global de data centers.
As Figuras 5 e 6 mostram uma análise para avaliar o posicionamento global do Brasil no cenário de data centers.


Impacto nas companhias sob cobertura do Banco Safra
Serviços de utilidade pública: a expansão do setor de data centers pode aumentar a demanda por eletricidade, beneficiando tanto distribuidoras quanto geradoras de energia. A solicitação de 9 GW feita por data centers para acesso à rede até 2035 se compara à demanda por energia estimada em cerca de 90 GW para o mesmo ano no Brasil. Dado que a IA consome ainda mais energia (aproximadamente dez vezes mais densidade de potência), o crescimento da demanda pode ser exponencial. Como mencionado, a necessidade de localização próxima à fibra e de conexão fácil a cabos submarinos e próxima à rede limita as áreas onde as instalações podem ser construídas.
São Paulo se destaca como o polo principal, o que pode beneficiar unidades de distribuição controladas pela CPFL (CPFE3; Neutra; PA R$37,50), Enel (não listada) e EDP (não listada). Outras regiões como Rio de Janeiro (Light, não coberta), Ceará (Coelce, não coberta) e Bahia (NEOE3; Compra; PA R$30,90) também estão conectadas à rede internacional de cabos e podem ser beneficiadas.
Entre os fornecedores de energia renovável em larga escala, a Eletrobras (ELET3/ELET6; Compra; PA R$45,7/R$51,5) e a Copel (CPLE3/CPLE6; Compra; PA R$10,00/R$11,10) possuem energia disponível para venda e podem se beneficiar de potenciais aumentos de preços decorrentes da pressão adicional da demanda.
Por fim, o crescimento dos data centers pode ser um catalisador de investimentos em soluções de estabilidade de rede, como armazenamento em baterias, expansão de linhas
de transmissão para conectar usinas renováveis a centros de demanda e contratos de compra e venda de energia de longo prazo, revertendo a tendência recente de contratos de curto prazo.
Impactos em Bens de Capital: espera-se que a expansão contínua de data centers impulsione a demanda estrutural por várias linhas de produtos da WEG (WEGE3; Neutra; PA R$63,40). Essas instalações dependem de geradores, o que, por sua vez, aumenta a necessidade de transformadores, que é um dos principais produtos oferecidos pela WEG. Além disso, os sistemas de resfriamento por ar usados em data centers tradicionais em nuvem exigem bombas, outra área em que a WEG tem forte atuação.
Os analistas do Safra informam que a crescente adoção de carga de trabalho da IA está acelerando uma mudança para resfriamento líquido, especialmente para racks de alta densidade. Esses sistemas dependem de motores elétricos para circulação de água, que também são fornecidos pela WEG.
Essa nova demanda aumenta – e não substitui – as necessidades existentes de resfriamento por ar. Dada sua presença global, a WEG está bem-posicionada para se beneficiar desse crescimento potencial nos mercados brasileiro e internacional, principalmente fora da China, onde o investimento em hiperescala continua forte.
Impactos em Tecnologia
Os data centers desempenham um papel cada vez mais importante na habilitação do ecossistema de tecnologia do Brasil, fornecendo a infraestrutura necessária para dar suporte a aplicativos em nuvem, cargas de trabalho de IA e análise de dados.
Para companhias de software como a TOTVS (TOTS3; Neutra; PA R$36,00), que estão se concentrando em soluções SaaS (software como serviço) em nuvem e modelos de nuvem
híbrida, o acesso a uma infraestrutura escalável, segura e altamente disponível é essencial para garantir desempenho, integração e continuidade.
À medida que a capacidade de data centers de grande porte e colocation crescer – principalmente em regiões com forte conectividade e baixa latência –, as plataformas de tecnologia poderão acelerar a migração de clientes de ambientes locais para ambientes nativos em nuvem, integrar mais funcionalidades intensivas em uso de IA e reduzir o atrito operacional.
Além disso, a possibilidade de acessar data centers locais em moeda local é uma vantagem relevante para o setor de tecnologia, o que ajudaria as empresas a mitigar o risco cambial e gerenciar melhor os custos. Em nossa opinião, essa expansão contínua fortalece os fundamentos das empresas domésticas de software ao viabilizar escala regional e ampliar as oportunidades de monetização em um mercado cada vez mais orientado por dados.
Riscos e desafios
Apesar das excelentes oportunidades e boas perspectivas para data centers, os analistas do Safra chamam a atenção para os riscos que podem dificultar um crescimento
significativo do segmento de data centers no Brasil, como:
- (i) riscos regulatórios para o setor de energia, pois os data centers precisam investir em linhas de transmissão de alta tensão, que depois são transferidas para unidades distribuidoras;
- (ii) tributação;
- (iii) disponibilidade de equipamentos a custos competitivos;
- (iv) burocracia e tempo para importação de determinados equipamentos; e
- (v) competição com países próximos que oferecem energia renovável a custos competitivos.

