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Pressão dos juros nos EUA faz o dólar fechar mês de abril em alta de 3,81%

Com ambiente externo conturbado, marcado por redução de posições em ativos de risco, dólar fecha semana em alta, cotado a R$ 4,94

dólar em alta

Dólar termina a semana em alta de 2,86% e abril com valorização de 3,81% | Foto: Getty Images

Após uma tarde de muita oscilação, com trocas constantes de sinal, o dólar encerrou a sessão desta sexta-feira, 29, em ligeira alta, cotado a R$ 4,94. O pregão de sexta foi marcado por disputa pela formação da última Ptax de abril e pela rolagem de vencimento de posições futuras, o que fez o dólar se descolar em diversos momentos do sinal predominante de queda da moeda norte-americana no exterior, tanto em relação a divisas fortes quanto as dos emergentes.

A moeda oscilou quase dez centavos entre a mínima (R$ 4,86) e a máxima (R$ 4,9586). No fim do dia, com tombo das bolsas em Nova York e do Ibovespa, o sinal positivo prevaleceu e o dólar fechou a R$ 4,9427 (+0,06%). A divisa termina a semana em alta de 2,86% e abril com valorização de 3,81%. Depois de subir 4% na sexta-feira, 22, o dólar experimentou altas expressivas nos pregões de segunda (1,47%) e de terça (2,36%) – o que acabou selando o destino da moeda na semana. No ano, a divisa ainda acumula baixa de dois dígitos (-11,36%).

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O principal indutor da onda de compra expressiva no início da semana foi o ambiente externo marcado por redução das posições em ativos de risco. A corrida global ao dólar foi amparada em três fatores: perspectiva de alta mais intensa e rápida nos Estados Unidos, alimentada por declarações duras do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell; escalada da guerra na Ucrânia e aumento das tensões entre Ocidente e Rússia, que cortou fornecimento de gás para Polônia e Bulgária; e temores de uma desaceleração mais forte da economia chinesa, dadas as medidas restritivas para conter a covid-19.

Ambiente externo induz corrida por compra e eleva cotação do dólar

“O principal gatilho para esse movimento foi a fala mais dura de Powell. Já está claro que o Fed vai elevar a taxa em 0,50 ponto porcentual. A novidade é que a possibilidade de alta de 0,75 ponto, com discurso de outros dirigentes, foi colocada na mesa. Essas sinalizações aumentaram muito a volatilidade aos preços dos ativos”, afirma o diretor de tesouraria do Banco Fator, Bruno Capusso.

Fatores técnicos realimentaram a onda compradora vinda do exterior. Como o mercado cambial doméstico é bem líquido e o real apresentava ganhos robustos, foi o palco ideal para uma realização de lucros. Além disso, analistas relataram desmonte agressivo de posições vendidas no mercado futuro (que ganham com a queda do dólar) por parte de fundos locais, o que teria adicionado pressão maior sobre a taxa de câmbio.

A semana também foi marcada por saída de investidores estrangeiros da bolsa doméstica e pela divulgação de dados do fluxo cambial em março revelando saldo negativo de US$ 4 bilhões pelo canal financeiro – um atestado da diminuição do apetite externo por ativos locais. Segundo dados da B3, investidores estrangeiros retiraram da bolsa R$ 854,9 milhões (dia 25), R$ 2,498 bilhões (26) e R$ 1,002 bilhão (27). Em abril, as saídas já somam US$ 5,325 bilhões, diminuindo o saldo positivo no ano para R$ 60 bilhões.

“O real era a melhor entre as grandes moedas. Quando veio essa preocupação com a alta dos juros nos Estados Unidos, houve um movimento mais forte de realização de lucros”, diz Capusso, do Fator, ressaltando que a moeda brasileira tende a apresentar oscilações mais fortes tanto para cima quanto para baixo, já que o mercado brasileiro tem volume e liquidez elevados.

Para Capusso, após o ajuste pesado entre o fim da semana passada e os dois primeiros pregões desta semana, período em que saiu da casa de R$ 4,60 para o patamar de R$ 4,90, o dólar parece não ter forças para quedas ou altas mais expressivas por aqui. “É mais provável que o real nesse intervalo entre R$ 4,70 e R$ 5”, diz.

Fluxo e capital estrangeiro desacelera em ambiente externo conturbado

De um lado, há uma desaceleração do fluxo de recursos estrangeiros para ativos locais, em meio ao ambiente externo mais conturbado. De outro, contudo, a taxa real de juros gorda e o diferencial entre juros internos e externos elevados – mesmo com a possibilidade de postura mais dura do Fed e fim do ciclo de aperto doméstico – dão certa sustentação ao real ao tornar caras posições compradas em dólar.

Após subir nos últimos dias, nesta sexta a moeda americana perdeu força lá fora. O índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – teve nesta sexta um dia de alívio, embora permanece perto dos 103,000 pontos. O euro, que chegou ao menor nível em cinco anos durante a semana, se recuperou nesta sexta, na esteira do avanço de 5% do PIB da Zona do Euro no primeiro trimestre (comparação anual) e da inflação ao consumidor de 7,5% em março, em linha com o esperado, mas no maior nível da história.

As divisas emergentes avançaram em bloco com certo desafogo no cenário para commodities após autoridades chinesas afirmarem que vão adotar medidas adicionais para sustentar a economia. O preço do minério de ferro subiu 2,29% no porto chinês de Qingdao. Divisas pares do real, com o peso chileno, mexicano e, em especial, o rand sul-africano fecharam em queda firme. O grande destaque foi rublo, com valorização de quase 2%, em meio à decisão do BC da Rússia de cortar a taxa básica do país em três pontos porcentuais, para 14% ao ano.

Nos Estados Unidos, o índice de preços de gastos com consumo (PCE), medida de inflação preferida pelo Fed, subiu 0,9 em março e 6,6% na comparação anual. O núcleo, que exclui itens voláteis como energia e alimentos, teve alta mensal de 0,3%, em linha com o esperado. Na comparação anual, subiu 5,2%, ligeiramente abaixo das previsões (5,3%). Chamou a atenção o avanço de 1,1% dos gastos com consumo em março, enquanto a expectativa era de +0,07%. Já a renda pessoal subiu 0,5%, ante previsão de 0,4%.

As taxas dos Treasuries subiram em bloco com investidores realinhando as expectativas para os próximos passos do Fed. É dada como certa uma alta de 0,50 ponto porcentual na taxa básica na quarta-feira, 4, em um comunicado duro. Há especulações em torno de eventual indicação de que a elevação em junho seja maior, de 0,75 ponto, na próxima reunião e da possibilidade da política monetária ir para campo restritivo até o fim do ano. (AE)

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