Dr. Consulta avança na baixa renda
Startup foi destaque com telemedicina durante a pandemia
27/11/2020Embora tenha uma rede pública reconhecida em todo o mundo, o Brasil carece de serviços mais eficientes na saúde. E o setor privado, aliado nessa batalha, ainda está fora do alcance da maior parte da população. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde 2019, divulgada em setembro deste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 74% dos brasileiros dependiam exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). Ou seja: mais de 150 milhões de pessoas não tinham acesso a um convênio médico.
Para mudar essa história, startups têm surgido com alternativas que ampliam o acesso à saúde. Entre as chamadas health techs está a Dr. Consulta. Com nove anos de existência, tornou-se um dos expoentes em acessibilidade aos serviços médicos no país. Em março de 2019, no início da pandemia de covid-19, a empresa se destacou por lançar um serviço via WhatsApp para ajudar no atendimento de pacientes com sintomas da doença.
Oferecendo consultas e exames a valores que giram em torno de R$ 100, a empresa tem 1.400 médicos cadastrados em sua plataforma. Os profissionais realizam atendimentos em 55 [U1] centros médicos espalhados pela Grande São Paulo, cidade do Rio de Janeiro e em Belo Horizonte[U2] . Além disso, a Dr. Consulta também oferece telemedicina para todo o país.
Segundo o presidente da empresa, Renato Velloso, um dos fatores que atrapalham o desenvolvimento de serviços médicos mais baratos é a dificuldade em fazê-los chegar até o paciente. Isso contribuiu para onerar a operação. Ele destaca um fator essencial que permite à startup entregar consultas e exames ambulatoriais a preços mais baixos: a tecnologia.
“A gente nasceu como uma health tech, investimos em uma série de aplicações e hoje somos um ecossistema de saúde. Para levarmos um serviço com toda essa eficiência e qualidade para as pessoas, se você não fizer em cima de uma plataforma tecnológica, é impossível”, diz Velloso.
No médio e longo prazo, a Dr. Consulta, que segundo ele cresce de 30% a 40% ao ano, planeja expandir a operação presencial com novos centros médicos pelo país, deixando a telemedicina como opção secundária de atendimento. Entretanto, essa tecnologia que impulsionou o crescimento na região sudeste continuará como ponto focal da estratégia.
“A telemedicina é benéfica, mas tem limites. A medicina requer humanização. O médico precisa tocar o paciente. É uma troca de energia e de confiança”, afirma Velloso.
Ecossistema tech
Fundada em 2011 e com operações iniciadas em favelas da capital paulista, a Dr. Consulta cresceu com o foco nas pessoas que não poderiam pagar por um plano de saúde privado. No entanto, na outra ponta, havia a preocupação de remunerar os médicos de maneira competitiva. Por isso, a empresa investiu pesadamente em inovação. Desse investimento surgiram dois sistemas próprios de gestão de dados, que foram preponderantes para o crescimento exponencial do negócio: o Sistema I e o prontuário eletrônico.
O Sistema I é o responsável por enquadrar a Dr. Consulta na definição de ecossistema de saúde. Utiliza inteligência artificial para prever e organizar com 15 dias de antecedência as agendas dos médicos, de acordo com as solicitações registradas na plataforma. O objetivo é preencher sempre 100% dos horários disponíveis, evitando que o médico fique de braços cruzados, seja por desistências ou por falta de marcações.
“Se o médico atende pouco, cada paciente tem de pagar mais caro para completar a hora do médico. Se eu coloco uma ocupação maior na hora, consigo pagar menos unitariamente, mas dentro de uma hora o médico recebe bem”, afirma Velloso.
No caso do prontuário, as velhas fichas de papel e a caneta deram vez a um cadastro digital, que é atualizado a cada passagem do paciente pelas consultas e exames nas unidades da Dr. Consulta. Além do histórico, o prontuário eletrônico tem um algoritmo que ajuda o médico em tomadas de decisão, propondo exames com base no desenrolar do quadro clínico do paciente.
Renato Velloso afirma que o prontuário eletrônico agrega outra vantagem competitiva, que é a necessidade de menos procedimentos para alcançar um diagnóstico. Segundo ele, em no máximo uma semana é possível que o paciente já tenha o mapeamento bem definido. Com menos exames, o tempo de tratamento é encurtado e os custos caem consideravelmente.
“Na saúde complementar no Brasil, a quantidade de exames pedidos para chegar no diagnóstico varia de 4 a 10. No nosso caso, a média está em 2,7 exames por consulta para chegar no melhor diagnóstico.”
Benefícios para as duas pontas
Fora as ferramentas de gestão e organização de informações, a Dr. Consulta criou também um indicador de caráter preventivo, o health score. Os pacientes que utilizam os serviços passam a ter uma espécie de pontuação quanto ao nível da própria saúde. Os pontos são definidos por meio de um algoritmo, que cruza os dados fornecidos pelo próprio paciente e os registrados pelo médico. Quanto maior a pontuação, maior a tendência de a pessoa estar numa linha saudável.
Para os médicos, o health score é mais uma ferramenta de avaliação do panorama do paciente. De quebra, é também uma forma do profissional ser mais bem pago. Além da remuneração básica, os médicos recebem variáveis por indicadores de qualidade e um bônus pelo desfecho clínico bem-sucedido.
“Hoje o paciente fez exame de glicose, colesterol e triglicérides. Se daqui a seis meses, quando ele refizer os exames, os indicadores melhorarem, eu pago mais para o médico”, diz Velloso.
Ele destaca ainda que a pontuação da saúde é bem vista pelos médicos, uma vez que eles mesmos podem avaliar seu trabalho, que acaba sendo muitas vezes solitário. “Os médicos adoram isso. É uma profissão solitária. Quando ele está no consultório, não tem ninguém avaliando o trabalho dele, além do paciente. Agora, ele e nós conseguimos monitorar tudo.”
[U1]Atualizar números com o CEO em janeiro