Emprego e salários desaceleram nos EUA e derrubam inflação
A acomodação do mercado de trabalho e desaceleração do crescimento dos salários reduz pressão de custos das empresas e garante continuidade do processo de desinflação
16/05/2024A economia americana criou 167 mil empregos em abril, menos que a média de 206 mil vagas no primeiro trimestre, e abaixo da expectativa do mercado de criação de 240 mil vagas. Além da menor criação de empregos na pesquisa com as empresas (CES, que gera os dados do payroll), a pesquisa com as famílias (household survey) mostrou estabilidade na população ocupada, o que combinado à elevação da força de trabalho elevou a taxa de desemprego de 3,8% para 3,9%.
A pesquisa JOLTS divulgada para o mês de março também mostrou sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho. O número de vagas em aberto, que no auge superou 12 milhões, caiu para pouco menos de 8,5 milhões, o menor valor em quase três anos e cerca de apenas um milhão acima da média 2018-19.
Além disso, os pedidos de demissão voluntária também caíram para 3,1 milhões, abaixo da média de 3,3 milhões verificada no ano de 2019. Esses pedidos costumam ser um bom termômetro para o dinamismo do mercado de trabalho, já que em um ambiente de menos oportunidades de emprego as pessoas tendem a permanecer onde estão trabalhando em vez de procurar outras ocupações em busca de salários mais altos.
O menor ritmo de contratações e a redução dos postos em aberto indicam uma estabilidade da demanda por trabalho. Enquanto isso, a oferta segue em recuperação, beneficiada pela maior presença de imigrantes na força de trabalho. O excesso de demanda por trabalhadores caiu de 2,6 milhões em dezembro para 2,1 milhões em março, em contraste com 6,2 milhões na saída da pandemia.
O índice de expectativa de contratação divulgado pela Federação Nacional de Pequenos Negócios (NFIB) permanece em nível baixo e a sondagem com empresários do setor de serviços elaborada pelo Instituto para Gestão de Oferta (ISM) esteve pelo terceiro mês consecutivo em terreno contracionista (abaixo de nível 50), indicando menos empresas dispostas a aumentar suas vagas. Esses resultados apontam que os empresários pretendem ser mais conservadores em suas decisões de ampliar o número de funcionários.
A difusão da criação de emprego entre os setores também aponta esfriamento do mercado de trabalho. Apenas 60% dos segmentos de atividade que reportam as informações de sua folha de pagamentos ao Departamento de Estatísticas do Trabalho (BLS) registraram crescimento das vagas na média móvel trimestral (Gráfico 5), contra mais de 70% na saída da pandemia e perto de 65% um ano atrás.
Além disso, só o setor de saúde mostra maior vigor na contratação, com saúde e assistência social sendo responsável por 36% do aumento de posições ocupadas em toda a economia, apesar do setor responder por pouco mais de 14% do total de empregos no país.
Também, excluindo-se saúde, o número de postos em aberto no setor de serviços já se encontra praticamente no patamar pré-pandemia (Gráfico 6). Parte do emprego no setor público, que também vem crescendo forte, é associada a serviços de saúde.
Acompanhando a moderação do mercado de trabalho, os salários têm avançado mais lentamente. O salário médio por hora trabalhada, que no primeiro trimestre subiu a um ritmo médio de 0,33% ao mês, cresceu apenas 0,2% em abril. Essa desaceleração tem ocorrido na maioria dos segmentos do setor de serviços, que é o mais intensivo em mão de obra e o que mais emprega.
A inesperada desaceleração do crescimento do PIB no primeiro trimestre de 2024, por outro lado, provocou um maior aumento no custo unitário do trabalho após dois períodos de aumento zero, mas a média anual de crescimento desse indicador segue muito próxima ao padrão histórico.
A acomodação no mercado de trabalho e consequente desaceleração do crescimento dos salários diminui a pressão de repasse de custos das empresas para o consumidor, o que deve se traduzir na continuidade do processo desinflacionário.
Esse desaquecimento da demanda pode ser atribuído à política monetária restritiva, sem prejuízo de fatores de oferta, e é entendido como um dos canais de transmissão dessa política para os preços com intenção de convergência da inflação para a meta de 2% anuais adotada pelo Fed.