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Energia eólica terá nova expansão com leilões

Leilões nos próximos anos devem atrair investimentos para ampliar a participação da energia eólica na matriz brasileira, hoje de 9%

Moinhos de vento para geração de energia eólica

A energia eólica responde por 9% da matriz energética brasileira e em breve chegará a 12%. Foto: Getty Images

Em pouco mais de uma década, a geração de eletricidade com base na energia eólica saiu de quase nada para uma participação de atuais 9% na matriz brasileira de eletricidade. De 2021 a 2023, o setor deve viver um novo salto, com multiplicação dos parques de aerogeradores a partir da realização de uma série de leilões no setor.

O objetivo é aproveitar o enorme potencial dos ventos no Brasil, especialmente na região Nordeste e no extremo Sul. Apenas com usinas eólicas em terra, estima-se que o país possa gerar 362 gigawatts (GW).

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Hoje a capacidade total das usinas no Brasil, de todas as fontes de energia, é de 170 GW. Cada gigawatt proporciona o abastecimento de aproximadamente 1,8 milhão de pessoas.

Além disso, ainda há por explorar a geração com cataventos no mar, algo que já existe em países como Dinamarca, Alemanha, Holanda e Reino Unido. Nessa frente, o potencial brasileiro é calculado em outros 700 GW.

Assim, o potencial eólico pode superar os 1 mil gigawatts, o equivalente a seis vezes a capacidade atual de produção de energia elétrica no país.

A Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), projeta que a nova década transformará a forma de se comercializar energia no Brasil. A expectativa se firma sobre o plano do governo federal batizado de “Modernização do Setor Elétrico”, concebido para beneficiar projetos sustentáveis e transparentes.

“Os próximos dez anos serão de crescimento da energia eólica. A cadeia produtiva continuará eficiente. Mas teremos muitas mudanças nas formas de contratação que podem fazer deste próximo período algo completamente diferente”, diz Elbia Gannoum, presidente executiva da Abeeólica.

Empresas investem bilhões

O Brasil conta com grandes empresas que produzem energia elétrica com base nos ventos. Parte delas tem ações negociadas na Bolsa de Valores e algumas são analisadas pela Safra Corretora.

Os investimentos do setor têm se mantido na casa de bilhões de reais por ano. Recentemente, algumas companhias do setor elétrico anunciaram mais aporte em novos projetos de parques eólicos.

A Neoenergia, que planeja investir R$ 5 bilhões em energia eólica até 2024, constrói dois complexos no Nordeste: Chafariz (Paraíba) e Oitis (Piauí e Bahia). Juntas, as estruturas terão capacidade de gerar 1,6 GW em 2022.

A Engie também investe em energia eólica no Nordeste e deve finalizar a construção do Conjunto Campo Largo, na Bahia, no início deste ano. O investimento total do projeto é de R$ 1,6 bilhão.

Já a italiana Enel anunciou que deve aportar R$ 5,6 bilhões neste ano em quatro parques eólicos, além de um complexo de energia solar.

“A expansão dessas empresas corrobora a visão que temos para o setor como um todo. Se olharmos para o horizonte de cinco anos, o volume de investimentos em energias renováveis tem tudo para aumentar”, afirma Daniel Travitzky, analista do setor de energia da Safra Corretora.

Leilões a caminho

As novas oportunidades de investimento estão evidentes no número de leilões de compra de energia com fonte eólica que já estão programados. Parte deles é de projetos que o governo federal teve de postergar no ano da pandemia.

Em dezembro, o Ministério de Minas e Energia (MME) publicou portaria no Diário Oficial da União que estabeleceu um novo cronograma estimado para oito certames de fontes renováveis.

Inicialmente, estão programados para este ano quatro leilões para projetos de energia oriunda de fonte eólica. Dois devem ocorrer em junho (A-3 e A-4) e outros dois em setembro (A-5 e A-6). Em 2022 e 2023, outras duas rodadas serão realizadas por ano.

Evolução da energia eólica

Dados da Abeeólica, mostram que o Nordeste responde por quase 89% do total produzido por aerogeradores eólicas. A eólica, uma fonte renovável e limpa, já abastece mais da metade da necessidade de energia elétrica dos consumidores nordestinos.

De acordo com Daniel Travitzky, “além de geograficamente favorável, com ventos da região equatorial, o Nordeste se torna atrativo para projetos eólicos devido aos incentivos fiscais”. Estes são providos pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, a Sudene.

Se concretizados os investimentos, a fatia de participação da energia eólica vai crescer no país. O Plano Decenal 2024, publicado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao Ministério das Minas e Energia, projeta uma fatia de 11,6% em quatro anos.

Atualmente, a fonte mais importante no abastecimento do país é a hidrelétrica, com 64% da capacidade instalada. Seguem-se as usinas termelétricas – de gás, óleo ou biomassa –, que somam 23% do potencial de geração.

Quando se analisa o panorama mundial, o Brasil ocupa a sétima posição em geração de energia eólica, segundo o GWEC, sigla em inglês para Conselho Global de Energia Eólica.

O número de usinas de energia eólica tem apresentando crescimento acelerado no país. Já são quase 640 unidades no território brasileiro.

Em 2005, a capacidade instalada das primeiras usinas era de apenas 22 megawatts (MW). Hoje, as unidades podem gerar cerca de 16 gigawatts – ou 16 mil MW –, capacidade pouco superior à da usina de Itaipu, a principal hidrelétrica do Brasil e a segunda maior do mundo.

Segundo a EPE, em 2024 a capacidade de geração provida pelas eólicas no país deve chegar a 24 mil megawatts.

O potencial de abastecimento das residências é expressivo. Segundo a Abeeólica, a média de geração de energia dessa fonte no país em 2019 representava o equivalente a iluminar quase 29 milhões de lares, beneficiando mais de 86 milhões de brasileiros.

Como efeito de comparação, todos os estados nordestinos, juntos, abrigam 57 milhões de habitantes.

Sustentabilidade

A característica principal da energia eólica é ser renovável. Como sua origem é de uma fonte tecnicamente inesgotável, pode-se dizer que ela é uma “energia verde”. Ou seja, é 100% sustentável.

Uma vantagem competitiva que confirma essa definição é o apoio que a opção por eólica dá à queda dos níveis de emissão de dióxido de carbono (CO2), um dos principais gases que causam o efeito estufa.

O total de emissões de CO2 evitado no Brasil com a geração de energia eólica em 2019 foi de quase 23 milhões de toneladas, de acordo com a associação do setor. Isso equivale à emissão anual realizada por 21,7 milhões de automóveis.

Outro benefício socioambiental é a possibilidade de o dono da terra onde está instalado o sistema de geração de energia eólica seguir com atividades como a agricultura e a pecuária, ampliando sua renda.

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