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Engie prepara expansão em energias renováveis

Companhia tem 61 usinas de geração de energia e entrou recentemente no mercado de gás com a aquisição da TAG

Maurício Bähr, presidente da Engie Brasil

Maurício Bähr, da Engie, diz que a empresa deve construir um novo conjunto eólico no nordeste, onde já opera, neste ano | Foto: Divulgação/Engie

Para diversificar as fontes de energia da matriz elétrica brasileira – hoje dominada pela força das hidrelétricas –, as empresas do setor têm investido pesado em energias renováveis. É o caso de companhias como a Engie, que iniciou 2021 colocando o conjunto eólico Campo Largo 2, na Bahia, para operar em fase de testes.

Além da estrutura que já está de pé, um novo conjunto eólico deve ser erguido neste ano, no Rio Grande do Norte.

Em entrevista ao portal O Especialista, o presidente da Engie Brasil, Maurício Bähr, detalhou a estratégia da companhia para seguir o que chama de “transição energética” do país.

Em 2019, a empresa que tem atualmente 61 usinas de geração de energia no país passou a atuar no mercado de gás natural.

Em uma operação de R$ 32 bilhões, adquiriu a TAG (Transportadora Associada de Gás) junto com um fundo de investimentos canadense.

Bähr afirmou que a empresa segue a tendência global de investimentos no do setor energético, que aposta em projetos que levem questões ESG (sustentabilidade ambiental, social e de governança) em consideração.

“Podemos afirmar que é impensável elaborar estratégias no setor energético sem que elas estejam em conformidade com a agenda de sustentabilidade e com as melhores práticas globais”.

Vento a favor

Neste ano, a Engie deve dar o pontapé inicial na construção de um novo conjunto de energia a partir dos ventos, no Rio Grande do Norte. Batizado de Santo Agostinho, o conjunto eólico terá 434 MW (megawatts) de capacidade instalada em sua primeira fase, com investimento de R$ 2,2 bilhões.

O projeto mais recente inaugurado pela Engie, o conjunto eólico Campo Largo 2, teve aporte de R$ 1,6 bilhão e já entrega energia ao Sistema Interligado Nacional (SIN). A capacidade instalada da operação é de mais de 360 MW.

A companhia liderada por Maurício Bähr vê seus pares indo na mesma direção sobre a energia eólica.

A Neoenergia, que planeja investir R$ 5 bilhões em energia eólica até 2024, constrói dois complexos também no nordeste: Chafariz (Paraíba) e Oitis (Piauí e Bahia).

Já a italiana Enel anunciou que deve aportar R$ 5,6 bilhões em 2021 em quatro parques eólicos, além de um complexo de energia solar.

Novos negócios da Engie

Diversificando negócios no Brasil, a Engie entrou recentemente no mercado de gás. Em uma operação de R$ 32 bilhões, a companhia adquiriu a TAG (Transportadora Associada de Gás) junto com o fundo canadense Caisse de Dépôt et Placemente du Québec.

Bähr afirma que a empresa entra nesse nicho com a vantagem de ter expertise mundial na operação.

A companhia deve colocar em prática um plano de expansão dentro do mercado de gás, uma vez que monitora oportunidades nos ramos de estocagem e biogás. 

Modernização do setor elétrico

Neste ano, o setor de energia deve ter novidades à medida que deve avançar o plano do governo federal de abrir o mercado de geração de energia elétrica.

A Engie acredita que 2021 será um ano promissor, com a retomada de discussões sobre o Projeto de Lei 232/2016, que tramita no Senado, sobre o novo modelo comercial para o setor.

Maurício Bähr mencionou ainda outras iniciativas do poder público, como a entrada em vigor do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) Horário, que torna o cálculo do preço da energia elétrica mais real, e a consolidação da Medida Provisória (MP) 988, que busca atenuar aumentos tarifários.

Confira a entrevista completa com Maurício Bähr, presidente da Engie Brasil:

O Especialista – Observamos na última década um grande avanço da pauta ESG no mundo corporativo. Como a agenda sustentável se aplica ao setor energético no Brasil e no mundo?

Maurício Bähr – O setor energético, por sua natureza, é uma atividade que causa impactos. Por isso, o cuidado da Engie com as boas práticas vem de longa data, tendo em vista que temos 61 usinas espalhadas no país, 4.500 quilômetros de gasoduto e linhas de transmissão em construção, abrangendo 250 municípios. Entendemos que nenhuma empresa adere às práticas de ESG do dia para a noite. É necessário estabelecer uma série de objetivos ambiciosos e a longo prazo, o que passa por criar essa cultura dentro da empresa também.

É preciso ter transparência com os stakeholders e mostrar que tudo o que gira em torno de ética, governança e sustentabilidade tem ressonância estratégica envolvendo toda a cúpula corporativa. Dessa forma, toda decisão de investimentos é acompanhada obrigatoriamente por uma avaliação ESG. Um padrão global de empresa sustentável também começa em casa, com a aderência dos colaboradores, e passa pela linha de produtos e serviços, para que o cliente tenha o benefício de comprar energia com a possibilidade de compensação das suas emissões de gases de efeito estufa.

Estudos indicam que os investidores preferem alocar recursos em empresas que apresentem comprovados investimentos em sustentabilidade, e que não tenham esse objetivo como um discurso vazio, sem ações efetivas. Por todos esses motivos, podemos afirmar que é impensável elaborar estratégias no setor energético sem que elas estejam em conformidade com a agenda de sustentabilidade e com as melhores práticas globais.

A Engie está próxima de colocar o Conjunto Eólico Campo Largo 2, na Bahia, que tem investimento total de R$ 1,6 bilhão, em operação de forma definitiva. Há previsão de novos investimentos para o Brasil, no curto e médio prazo, em energias renováveis como a solar e a própria eólica?

O Conjunto Eólico Campo Largo 2, formado por 86 aerogeradores, possui capacidade total instalada de 361,2 MW e começou a operar em testes, no início de janeiro, nos municípios Umburanas e Sento Sé, na Bahia. A energia gerada já está sendo entregue na Subestação Campo Largo e distribuída pelo Sistema Interligado Nacional – SIN através da Subestação Ourolândia II. Esses testes mostram o bom funcionamento dos aerogeradores e representa um grande marco alcançado pela Engie, que está orgulhosamente escrevendo o nome na história da transição energética do país, investindo em fontes de energias renováveis.

Vale lembrar que esses municípios recebem ainda projetos sociais, essenciais para contribuir com mudanças e melhorias diretas nas realidades dos moradores locais.  A Engie tem como um dos objetivos ampliar os investimentos em energias renováveis, seguindo uma estratégia mundial. Por isso, em 2021, pretendemos iniciar a construção do conjunto eólico de Santo Agostinho, no novo Cluster de energia eólica da EBE, no Rio Grande do Norte, que terá 434 MW de capacidade instalada em sua primeira fase, com investimento de R$ 2,2 bilhões.

Recentemente, a Engie adquiriu a TAG e entrou para o setor de gás. Qual é a estratégia por trás desse movimento?

Adquirimos a Transportadora Associada de Gás (TAG) junto com o fundo canadense Caisse de Dépôt et Placemente du Québec (CDPQ), por R$ 32 bilhões. Foi a maior operação de fusão e aquisição da América Latina em 2019 e um marco importante da confiança no processo em curso de abertura do mercado de gás natural do país, um segmento no qual a Engie tem larga experiência internacional.

Essa operação reforçou o nosso interesse em continuar investindo em infraestrutura no país e representou a nossa porta de entrada no mercado brasileiro de gás. A Engie continua monitorando outras oportunidades no setor, como na estocagem e biogás. 

A fonte hídrica é a com maior presença na matriz elétrica brasileira, com 64% de participação. Qual é a previsão da Engie para essa fonte nos próximos anos? A fonte hídrica continuará a liderar a matriz no longo prazo?

A Engie tem hidrelétricas em operação em todo o território nacional, fonte na qual mais crescemos nesses quase 25 anos de presença no país. Essa é a mais importante fonte da matriz energética Brasileira por ser limpa, renovável, confiável e de custo competitivo, além dos recursos hídricos serem abundantes no país.

Aos poucos, o Brasil caminha para uma matriz energética mais diversificada como avanço de fontes como eólica, solar, bem como a geração a gás natural. Porém, a fonte hídrica deve permanecer com uma preponderância, garantindo segurança energética para um país de dimensões continentais como o nosso. Mas para que sejam implementadas novas usinas de porte, os atributos das hidrelétricas e sua contribuição para a segurança do sistema interligado precisam ser reconhecidos e remunerados.

A Engue continuará investindo em todas as fontes limpas e renováveis de geração de energia elétrica no Brasil.

Desde 2019, o governo federal vem trabalhando sobre o plano batizado de Modernização do Setor Elétrico. Quais os benefícios percebidos por essa iniciativa até aqui e quais as mudanças que devem ocorrer no setor em 2021?

O ano de 2021 será intenso em discussões e novidades no setor elétrico, incluindo a retomada das discussões do Projeto de Lei do Senado 232/2016, sobre o novo modelo comercial do setor elétrico e a entrada em vigor do PLD Horário, além da consolidação da MP 998, que tem como meta reduzir o curso de tarifas de energia elétrica, por meio da redução dos subsídios e dos encargos setoriais, consolidando o ambiente regulatório e trazendo estabilidade.

A abertura do mercado é um dos maiores benefícios da “Modernização do Setor Elétrico”. Estima-se que nos últimos 16 anos, os consumidores do Mercado Livre de Energia economizaram R$118 bilhões nas contas de energia elétrica, com ofertas do preço da energia cerca de 29% menores que as tarifas reguladas das distribuidoras. A redução dos limites para contratação livre de energia elétrica projeta eficiência e competitividade ao mercado, alinhando os padrões internacionais de liberdade de escolha do consumidor ao cenário nacional.

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