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Ensine seu cérebro a funcionar melhor

A neurocientista Carla Tieppo ensina como aumentar a qualidade da cognição e o desempenho de pessoas e equipes

Cérebro

O cérebro pode ter funções cognitivas potencializadas por exercícios e atenção às emoções | Foto: Getty Images

Durante muito tempo a ciência acreditou que o cérebro humano fosse um órgão imutável.  As pessoas nasceriam com toda a sua capacidade cognitiva definida e seguiriam com ela até o envelhecimento começar a levá-la embora.

A ciência estava errada. O cérebro pode ser aprimorado na infância, na vida adulta e também na velhice. Isso quer dizer que é possível melhorar seu raciocínio, concentração, memória e criatividade criando e fixando novos circuitos neuronais apenas com treinamento.

A neurocientista Carla Tieppo enche palestras e salas de aula (no momento, on-line) com executivos, empresários, gestores e profissionais que se impressionam com a simplicidade das estratégias frente ao tamanho dos ganhos. “De faturamento e receita, inclusive”, completa a professora e pesquisadora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Neurociência aplicada a empresas

A habilidade de aplicar as inovações neurocientíficas ao mundo real aproximou a pesquisadora de empresas.

Entre seus clientes, estão companhias como Petrobras, Honda, Braskem, Suzano e Ambev, a primeira do Brasil a ter uma diretoria dedicada à saúde mental. E também multinacionais como a anglo-sueca AstraZeneca, responsável pela produção de um dos imunizantes que estão combatendo a pandemia da covid-19 no mundo.

Uma das bases do trabalho que leva da universidade para as empresas é a importância dos fatores emocionais para o melhor desempenho da cognição, hoje um consenso entre os especialistas.

“As emoções, e só elas, podem sustentar uma mudança de comportamento que traga ganhos cognitivos e, então, melhorias de desempenho e produtividade”, diz a pioneira em cursos de extensão em Neurociência no Brasil.

O contrário também vale. “Desprezar fatores emocionais na composição de uma equipe é um erro tão grave quanto ignorar conhecimentos técnicos, formação e experiência”, afirma a cientista.

“Profissionais de alto desempenho pessoal e baixa ou nenhuma capacidade emocional são desagregadores, não servem para times muito menos para lideranças”, diz Tieppo.

“Estamos tratando de indivíduos que, para validar suas competências, sacrificam sem piscar pessoas, projetos e propósitos e invariavelmente causam prejuízos de toda natureza para as companhias até que se perceba o estrago.”

Como treinar o cérebro

O cérebro evoluiu buscando estabilidade: é naturalmente avesso a novidades. Toda decisão de mudança precisa ser apresentada de maneira processual (para si mesmo, como começar uma dieta, ou para uma equipe, ao apresentar uma mudança de projeto).

Evitar mudanças “no susto” ajudam as funções cerebrais trabalhem a favor dos objetivos desejados.

Pratique o que você quer melhorar. A atenção tem duas naturezas: a dividida e a sustentada. Vivemos hoje uma crise anterior à pandemia, a crise de atenção sustentada, justamente a necessária para realizar tarefas que exigem foco e concentração.

Treine. Tirar todos os dias algo como uma hora para se dedicar a uma tarefa que exija concentração até chegar ao limite do cansaço e então parar por alguns minutos antes de retornar pode ampliar a concentração até a capacidade máxima do seu cérebro.

Como no método Pomodoro (técnica do Italiano Francesco Cirillo), pare entre as tarefas e cronometre. Dedique-se por alguns poucos minutos a uma atividade que acione circuitos cerebrais diferentes dos usados no exercício: não adianta sair do relatório e ir responder os e-mails. Levante, olhe pela janela, leia ou veja algo divertido. Ou simplesmente relaxe e preste atenção no que você está sentindo. Então retome a tarefa.

A sensação de prazer será reconhecida pelo órgão central do sistema nervoso e ele começará a entender que “está tudo bem” permanecer focado numa mesma tarefa por tanto tempo. No dia seguinte, aumente os minutos de concentração e mantenha os minutos de distração.

Atenção aos gatilhos de estresse

Preste atenção aos gatilhos de estresse. A tensão embota não só a clareza de raciocínio, mas todas as outras tarefas cerebrais. E o estresse prolongado pode comprometer a saúde mental.

As práticas meditativas, mesmo mais simples, beneficiam de fato as funções cerebrais, já se tem Nobel a respeito (Elizabeth Blackburn, Nobel de Medicina em 2009).

Escolha uma lembrando que o importante aqui não é fazer muito, mas fazer sempre, de preferência diariamente, para obter resultados sensíveis.

Celebre as tarefas concluídas. A recompensa funciona muito bem para criar e fixar circuitos neurais novos que farão com que a concentração, o raciocínio e todas as funções demandadas na tarefa sejam otimizadas.

Estímulos certos fazem equipes de sucesso

O mesmo vale para equipes. O líder que reconhece e premia entregas mantém a equipe estimulada neurologicamente também para entregar resultados de forma sustentada e comprometida. O contrário também vale.

Trabalhe com a maior clareza que puder sobre suas capacidades e dificuldades ao assumir tarefa, cargo ou missão. Todos nós temos limites e o único problema a respeito é não conhecê-los ou ignorá-los. Sentir-se não desempenhando sistematicamente por ter abraçado algo fora das capacidades provoca a queda de todos os demais desempenhos cerebrais.

O mesmo vale para os times. Saiba os pontos fortes e fracos de cada profissional sob a sua gestão. E forneça o que cada um precisa para realizar o que você delegou. Os sucessos e seu reconhecimento fortalecem as químicas necessárias para manter uma estimulada a operar no máximo de suas capacidades individuais e de grupo por muito tempo.

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