Estagflação: o que é e como ela pode afetar a economia
Termo cunhado em 1965 define um momento de estagnação econômica e inflação alta. Entenda como o processo ocorre e quais os riscos atuais
24/07/2022Em um cenário pós-pandemia de covid-19 e com uma guerra em curso no Leste Europeu, o Banco Mundial fez um alerta sobre o risco de uma estagflação, processo econômico que pode assolar o mundo por anos.
Resultante da união das palavras “estagnação” e “inflação”, o termo é usado para designar uma situação econômica que combina crescimento econômico baixo ou nulo com inflação elevada.
Em períodos de crescimento econômico acelerado, a expansão do mercado de trabalho e a consequente elevação da renda disponível para consumo tende a causar elevação dos preços, como resultado da lei da oferta e da procura.
Porém, com a economia em baixa e desemprego elevado, os preços tendem à estabilidade ou até redução, por queda na procura.
Se há outros fatores capazes de pressionar a inflação mesmo em um período recessivo, a economia corre o risco de entrar em estagnação. A pressão de preços dos combustíveis, por exemplo, pode ter efeito cascata em outros setores, como o de transportes, e isso dificulta a recuperação da economia, o que tende a agravar a recessão – quando um país registra queda do Produto Interno Bruto (PIB) por dois trimestres consecutivos.
Na definição do Dicionário de Economia do Século XXI, do economista Paulo Sandroni, “estagflação é a situação em que o produto nacional não mantém nível de crescimento à altura do potencial econômico do país”. Como exemplo o dicionário cita a situação das economias da Inglaterra e dos Estados Unidos no início dos anos 1980.
O que é estagflação
O termo foi criado pelo político britânico Ian Macleod, em 1965, para um discurso sobre o momento econômico do Reino Unido.
À época, a intenção de Macleod era definir o que seria “o pior dos dois mundos” para o país – recessão ou inflação.
A palavra stagflation (stagnation + inflation) ganhou popularidade durante a crise mundial do petróleo, na década de 1970.
Durante esse período, os Estados Unidos viveram a estagflação após uma forte expansão do crédito e demanda agregada na década anterior.
Isso resultou no alto endividamento da população, das empresas e do governo estadunidense.
As restrições impostas por países produtores de petróleo fizeram os preços aumentarem de forma expressiva, e o alto nível de alavancagem das empresas impediu a continuidade dos investimentos.
O resultado foi a estagflação, situação que volta a ter temida atualmente, conforme alerta do Banco Mundial, tendo em vista o efeito perverso da guerra na Ucrânia sobre os preços internacionais da energia, com o mundo ainda em recuperação após dois anos de pandemia de covid-19.
Preocupação com o cenário atual
O alerta de estagflação foi feito pelo Banco Mundial no mês passado. “A guerra na Ucrânia, lockdowns na China, interrupções na cadeia de suprimentos e o risco de estagflação estão prejudicando o crescimento. Para muitos países, a recessão será difícil de evitar”, disse o presidente da instituição, David Malpass.
Os lockdown na China resultaram da política de 'covid zero' do governo, que enfrentou com medidas rigorosas o risco de nova onda de contágio da covid-19.
Como segunda maior potência econômica mundial, a suspensão de atividades no país tem impactos em todo o mundo, uma vez que afeta importações e exportações.
Saiba mais
- O que é reflação e como ela afeta a sua vida
- OCDE corta projeção para o PIB global em 2022, de 4,5% para 3%
- Inflação tende a cair e Bolsa pode surpreender, afirma Joaquim Levy
A guerra na Ucrânia tem feito o preço do petróleo subir drasticamente. A Rússia, acusada pelos países ocidentais de iniciar o conflito, é um dos grandes produtores mundiais do produto. Após 100 dias de conflito, o preço da commodity subiu mais de 20%.
Além disso, outros setores também estão sendo afetados, como o da agricultura, uma vez que a Ucrânia é um grande produtor e exportador de grãos.
O Banco Mundial acredita que a inflação deve arrefecer no próximo ano, porém, ainda estará longe da meta dos bancos centrais das principais economias. No Brasil, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em junho, o BC estimou que o IPCA deve ficar em 4% em 2023 – ano que é o foco atual da autoridade monetária no combate à alta dos preços. Já o mercado financeiro agora projeta que o índice deve fechar o ano em 5,2%, segundo o mais recente Boletim Focus.