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Joaquim Levy analisa o mercado global de carbono definido na COP-26

Para ex-ministro e diretor do Safra, itens deixados de fora do documento final poderiam ajudar o Brasil a ser protagonista

Joaquim Levy, de frente, com os braços cruzados e livros atrás

Ficaram à parte das discussões a inclusão de projetos de preservação florestal de países em desenvolvimento (REDD+) no mercado de carbono, além dos créditos com mudanças no uso e cobertura do solo (LULCC) | Foto: Divulgação

O ex-ministro e diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados do Banco Safra, Joaquim Levy, avaliou os resultados para o Brasil das questões tratadas na COP-26, a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU).

Em artigo publicado no portal Americas Quarterly (íntegra em inglês), Levy destacou os avanços no acordo entre os países para a criação de um mercado global de carbono (CO2). Levy participou do painel “ESG no Brasil”, organizado pelo governo federal em Glasgow, na Escócia.

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O economista pondera que alguns itens deixados de fora no documento final da COP-26 poderiam ajudar o País a ter um maior protagonismo quanto à negociação de créditos.

Ficaram à parte das discussões a inclusão de projetos de preservação florestal de países em desenvolvimento (REDD+) no mercado de carbono, além dos créditos com mudanças no uso e cobertura do solo (LULCC).

Na visão do executivo, o LULCC pode incentivar a regeneração florestal e na expansão de os programas de agricultura de baixo carbono existentes, incluindo o armazenamento de carbono no solo.

“As oportunidades tecnológicas são abundantes, desde medir a remoção de carbono até encurtar o ciclo de produção de carne e restaurar terras degradadas”, argumentou Joaquim Levy.

“Isso poderia reduzir os incentivos para a preservação das florestas para países que já possuem uma matriz de energia limpa – e tem uma forte influência sobre a importância dos mercados regulados de carbono para países como o Brasil”.

Créditos de carbono gerados com a energia eólica podem ser úteis ao Brasil, caso sejam reconhecidos pela comunidade internacional | Foto: Getty Images
Créditos de carbono gerados com a energia eólica podem ser úteis ao Brasil, caso sejam reconhecidos pela comunidade internacional | Foto: Getty Images

Contribuições determinadas e o mercado de carbono

A conferência da ONU buscou regulamentar o mercado de créditos de CO2 previsto no Artigo 6 do Acordo de Paris, de 2015.

No entanto, o diretor do Safra aponta um gargalo no artigo, que determina que “os países podem autorizar a venda de créditos apenas se reduzirem suas emissões além das metas estabelecidas em seus Contribuição Nacionalmente Determinada (NDCs).

As NDC são metas voluntárias apresentadas pelos países para contribuir com a redução de emissões de gases do efeito estufa.

Nesse sentido, Levy aponta que a inclusão dos itens mencionados acima na criação do mercado ajudariam o Brasil a ser tornar uma liderança em créditos, uma vez que tem NDCs ambiciosos.

Por outro lado, os países asiáticos, cujas NDCs são mais modestas e amplamente embasadas em reduções no uso de combustíveis fósseis, poderiam acabar se beneficiando mais do mercado de carbono.

“Se os créditos do LULCC fossem integrados ao mercado, por outro lado, países como Brasil e Colômbia poderiam se tornar grandes vendedores de créditos de carbono, provavelmente a um custo menor do que a Ásia, pelo menos na primeira fase”, disse Levy.

Mesmo com a ausência de um debate mais amplo sobre o LULCC, o ex-ministro defendeu todas as soluções que ajudem a capturar o carbono da atmosfera de forma rápida.

“Adiar o aquecimento global, agindo hoje, evita mudanças ambientais irreversíveis e dá tempo para encontrar métodos e soluções permanentes de armazenamento para setores de difícil descarbonização”.

Proteção à Amazônia e mais investimentos

No artigo, Joaquim Levy também diz que o a criação do mercado global de carbono é uma grande oportunidade para o País receber ajuda internacional para proteger a Floresta Amazônica.

Adicionalmente, o sistema mundial de negociação “criaria grandes oportunidades para parceiros comerciais e de investimento”.

Isso, segundo o executivo, vai ajudar o Brasil a “acelerar sua jornada para se tornar uma economia líquida zero antes de 2050”.

Energia limpa

Outras frentes destacadas por Joaquim Levy como catalisadores de valor para o Brasil no mercado de carbono foram a de biocombustíveis e geração de energia elétrica.

Para o ex-ministro, “o reconhecimento mundial da redução do CO2 gerado pelos biocombustíveis pode estimular seu uso em carros elétricos, uma vez que o etanol pode ser uma fonte barata e fácil de manusear hidrogênio para alimentar células de combustível”.

Sobre eletricidade, Levy vê um enorme potencial sobre a geração de energia eólica e solar, que já representam quase 13% da matriz energética brasileira.

Isso caso os créditos de emissões a partir dessas fontes renováveis sejam reconhecidos pela comunidade internacional.

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