Fed pausa ciclo de cortes e mantém juros na primeira reunião da era Trump
Juros nos Estados Unidos começaram a cair em setembro do ano passado, mas a piora do cenário forçou o Fed a uma pausa no ciclo de cortes
29/01/2025
Federal Reserve manteve as taxas de juros, mesmo após a ameaça de Trump de que vai “exigir” taxas de juros mais baixas | Foto: Getty Images
A primeira reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto do Federal Reserve em 2025 manteve as taxas de juros no atual patamar entre 4,25% e 4,50% ao ano, em decisão unânime.
Foi a primeira decisão de política monetária nos EUA após a posse do presidente Donald Trump. Ele vem criticando as taxas de juros e chegou a declarar, em discurso por vídeo no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, que vai “exigir” taxas de juros mais baixas no país.
O Federal Reserve elevou os juros agressivamente em 2022 e 2023 para combater um aumento na inflação, e iniciou o ciclo de flexibilização em setembro do ano passado, mas a piora do cenário de inflação levou a autoridade monetária a fazer uma pausa no ciclo de baixa.
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O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, declarou após a decisão que a autoridade monetária não está com pressa para reduzir a taxa de juros. Ele afirmou que o Federal Reserve decidiu fazer uma pausa para ver mais progressos na inflação após uma série de reduções das taxas no fim de 2024.
“Com nossa postura política significativamente menos restritiva do que vinha sendo e a economia permanecendo forte, não precisamos ter pressa para ajustar nossa postura política”, disse Powell em entrevista
Mercado de trabalho pressiona juros nos EUA
Nos Estados Unidos, os dados de mercado de trabalho vieram mais fortes em dezembro. O crescimento do número de posições ocupadas reportado pelas empresas excluindo o setor agrícola (pesquisa payrolls) foi de 256 mil, valor mais alto que a mediana das previsões de mercado e do que os 212 mil do mês de novembro, que já havia sido mais forte por devolver os fatores climáticos e de greves que haviam prejudicado o saldo em outubro.
Essa métrica é importante, pois reflete o nível da atividade do ciclo econômico. O fato de ter permanecido em patamar baixo foi destacado por membros do Fed para justificar a menor preocupação com o risco de desaquecimento excessivo do mercado de trabalho.
O número de postos em aberto também voltou a aumentar na divulgação mais recente da pesquisa JOLTS, referente ao mês de novembro. Esse número voltou a ficar acima de oito milhões, embora muito dessa alta tenha sido concentrada na categoria de serviços profissionais, segundo relatório do Banco Safra. Dessa forma, o excesso de demanda por mão de obra voltou a subir, contrariando a tendência de queda que sugeria esse excesso vir a desaparecer no final do ano.
A política imigratória mais restritiva tende a diminuir a oferta de mão de obra, com possíveis reflexos em salários e na inflação. O impacto na oferta de trabalho pode ser ainda maior com o plano de deportação maciça de imigrantes irregulares. Também há a possibilidade de que um endurecimento no combate à imigração ilegal seja acompanhado de alguma facilitação para a imigração legal de trabalhadores altamente qualificados.
Para os especialistas do Banco Safra, os dois meses após o início do governo em 20 de janeiro poderão dar mais clareza aos rumos da economia dos Estados Unidos, facilitando que o Fed anuncie eventuais ajustes na trajetória de juros por volta da reunião programada para março.
Comunicado do FOMC
O comunicado do Comitê de mercado Aberto do Federal Reserve afirma:
“Indicadores recentes sugerem que a atividade econômica continuou a se expandir em um ritmo sólido. A taxa de desemprego se estabilizou em um nível baixo nos últimos meses, e as condições do mercado de trabalho permanecem sólidas. A inflação continua um tanto elevada.
O Comitê busca atingir o máximo de emprego com inflação em 2% ao ano no longo prazo. O Comitê julga que os riscos para atingir suas metas de emprego e inflação estão aproximadamente em equilíbrio. A perspectiva econômica é incerta, e o Comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu mandato duplo.
Em apoio às suas metas, o Comitê decidiu manter a faixa-alvo para a taxa de fundos federais em 4,25% a 4,50%. Ao considerar a extensão e o momento de ajustes adicionais à faixa-alvo para a taxa de fundos federais, o Comitê avaliará cuidadosamente os dados recebidos, a perspectiva em evolução e o equilíbrio de riscos. O Comitê continuará reduzindo suas participações em títulos do Tesouro e títulos lastreados em dívidas de agências e hipotecas de agências. O Comitê está fortemente comprometido em apoiar o emprego máximo e retornar a inflação ao seu objetivo de 2% ao ano.
Ao avaliar a postura apropriada da política monetária, o Comitê continuará monitorando as implicações das informações recebidas para a perspectiva econômica. O Comitê está preparado para ajustar a postura da política monetária conforme apropriado se surgirem riscos que possam impedir a obtenção das metas do Comitê. As avaliações do Comitê levarão em conta uma ampla gama de informações, incluindo leituras sobre as condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação, e desenvolvimentos financeiros e internacionais”.
Votaram a favor da ação de política monetária Jerome H. Powell, presidente; John C. Williams, vice-presidente; Michael S. Barr; Michelle W. Bowman; Susan M. Collins; Lisa D. Cook; Austan D. Goolsbee; Philip N. Jefferson; Adriana D. Kugler; Alberto G. Musalem; Jeffrey R. Schmid; e Christopher J. Waller.

