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A força feminina presente na ArcelorMittal

Tatiana Nolasco, diretora do complexo Sul Fluminense, é a primeira mulher a liderar uma unidade no Brasil e na América Latina

Tatiana Nolasco, diretora da ArcelorMittal Sul Fluminense

Engenheira de produção, Nolasco começou a carreira na siderurgia como estagiária-trainee. Hoje, lidera 800 funcionários | Foto: Divulgação/ArcelorMittal

Em um setor onde a presença masculina é predominante, a diretora de negócios da ArcelorMittal Sul Fluminense, Tatiana Nolasco, 40 anos, é a expoente de uma mudança cultural iniciada no ramo da siderurgia.

A engenheira de produção se tornou no ano passado a primeira mulher a dirigir uma unidade industrial da empresa no Brasil e na América Latina.

A liderança de Nolasco representa o esforço da empresa para eliminar o rótulo masculino que envolve o setor siderúrgico.

Nesta segunda-feira, 8, a ArcelorMittal divulgou a meta de ter ao menos 30% de mulheres entre seus funcionários até 2030, no Brasil. Atualmente, elas representam 14% do efetivo da empresa de cerca de 17 mil trabalhadores em todo o país.

A executiva, que está há 20 anos no segmento, lidera hoje 800 funcionários diretos, sendo 90% deles homens. Nolasco é casada e mãe de dois filhos (Rafael de 6 anos e Paula de 4 anos ).

Em entrevista ao portal O Especialista, Nolasco explica as ações de equidade de gênero e diversidade que ajudou a implementar na ArcelorMittal e a responsabilidade que sente em ser um espelho às futuras profissionais.

A executiva também fala sobre os planos de negócio da companhia com alinhamento à pauta de sustentabilidade ambiental, social e de governança (ESG).

Estudo e confiança

Nolasco iniciou a carreira há 20 anos como estagiária-trainee na antiga Votorantim Siderurgia de Barra Mansa (RJ), adquirida posteriormente pela ArcelorMittal.

A então estudante da Universidade Estadual do Rio de Janeiro iniciou a caminhada na siderurgia na área de Planejamento e Controle de Produção.

Fez um MBA em Economia e Gestão Empresarial e em 2008 assumiu o primeiro posto de gerência, na área de Gestão. Liderou ainda os setores de Planejamento e Logística, Suprimentos, Técnica e Qualidade e Laminação até se tornar diretora.

Hoje, a unidade Sul Fluminense dirigida por ela engloba os complexos de Barra Mansa e Resende. As fábricas produzem juntas 1,8 milhão de toneladas de aço bruto por ano.

Nolasco diz que a capacitação e o autoconhecimento foram fundamentais para que ela vencesse barreiras impostas pela desigualdade de gênero e preconceito.

Transformar “dificuldades em motivação” é outro ponto-chave mencionado por ela.

“Ao abraçar grandes oportunidades nos tornarmos pessoas melhores, mais capazes, nos sentimos mais empoderadas e ganhamos autoconfiança”.

Igualdade e sustentabilidade

O investimento da ArcelorMittal no combate à desigualdade entre homens e mulheres o alinhamento à agenda ESG tem evoluído de dois anos para cá.

Em 2019, a companhia lançou um programa de ações internas e externas de diversidade e inclusão, com foco em quatro vertentes: equidade de gênero, diversidade racial, pessoa com deficiência e LGBTI+.

“Com o programa, buscamos a construção de um ambiente de trabalho mais diverso e inclusivo, onde o respeito e a tolerância são a essência de tudo”, diz Nolasco.

No ano passado, a ArcelorMittal aderiu à ONU Mulheres, entidade da Organização das Nações Unidas que incentiva a promoção de oportunidades para elas.

Neste sentido, a companhia também entrou para outras ações como o Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, a Rede Empresarial de Inclusão Social e a Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero.

Em 2020, a ArcelorMittal registrou crescimento de 15% no número de mulheres inscritas em um programa que forma jovens para a operação em fábricas. A ação tem a parceria do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).

Pelo lado da sustentabilidade ambiental, a empresa tem o compromisso de neutralizar suas emissões globais de carbono em 2050.

Para alcançar a meta, a companhia desenvolveu uma estratégia derivadas dos 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Entrevista: Tatiana Nolasco, da ArcelorMittal Sul Fluminense

Passados oito meses de gestão à frente da ArcelorMittal Sul Fluminense, quais foram os principais desafios que a senhora enfrentou?

Foi uma honra me tornar diretora da ArcelorMittal Sul Fluminense. Formei-me em Engenharia de Produção e comecei a minha carreira como estagiária-trainee. Tive a oportunidade de estar à frente de várias gerências que me deram visão estratégica do negócio e maior conhecimento dos processos para poder chegar ao cargo com confiança e muito entusiasmo.

Assumi a diretoria no ano da pandemia do coronavírus, que nos colocou numa situação sem precedentes em todo o mundo. Certamente foi um dos maiores desafios da minha carreira. Prontamente, adotamos rígidos protocolos para assegurar a saúde e a segurança dos nossos empregados e, ao mesmo tempo, a sustentabilidade do negócio. Com foco nas pessoas e engajamento das nossas equipes, fechamos o ano com ótimos resultados e saímos ainda mais fortes.

Sobre a representatividade em uma indústria com presença predominantemente masculina, a senhora promoveu medidas que vão ao encontro dessa evolução cultural na unidade Sul Fluminense? Quais os avanços que têm observado?

Em 2019, a ArcelorMittal lançou seu Programa de Diversidade & Inclusão, com foco em quatro dimensões da diversidade: equidade de gênero, diversidade racial, pessoa com deficiência e LGBTI+. Nesses dois anos de existência, o programa promoveu campanhas de comunicação e sensibilização, realizou eventos e capacitou empregados para se conscientizarem e terem um maior entendimento sobre o tema. Com o programa, buscamos a construção de um ambiente de trabalho mais diverso e inclusivo, onde o respeito e a tolerância são a essência de tudo.

Quais foram as medidas de contingenciamento da crise sanitária causada pela pandemia de covid-19 tomadas na unidade liderada pela senhora? As ações envolveram famílias e outras pessoas do círculo social dos funcionários?

Desde os primeiros momentos da pandemia adotamos protocolos rígidos de saúde e segurança, como a colocação de tapetes desinfetantes em todas as entradas; a medição de temperatura diária; a separação com acrílico nas mesas de refeição – que passaram de oito a dois ocupantes por vez; a implantação de um sistema diário de checagem online do quadro clínico de empregados e o desenvolvimento de cartilhas e jogos para as famílias dos colaboradores.

E em todas as unidades da ArcelorMittal também foram implementadas medidas preventivas: suspensão de eventos externos, internos e atividades com grande aglomeração de pessoas; cancelamento de todas as viagens a trabalho e de reuniões presenciais; estabelecimento da regra de distância mínima interpessoal de 1,5 metro em todos os ambientes; intensificação dos procedimentos de limpeza e higienização e adoção do trabalho remoto para a maioria das funções administrativas.

Qual é a sua expectativa para o setor de siderurgia neste ano, tendo em vista que os efeitos da pandemia devem ser sentidos pela população e, consequentemente, pela economia brasileira até o último semestre?

A demanda interna por produtos siderúrgicos, depois de ter sido fortemente afetada nos primeiros meses de 2020 – fase mais aguda da pandemia –, apresentou intensa reação no segundo semestre do ano. A empresa passou a operar em plena capacidade e este aumento de demanda renovou as expectativas para um crescimento da indústria e do consumo de aço no Brasil em 2021. Uma recuperação mais sustentada da economia, no entanto, está relacionada ao êxito das campanhas de vacinação.

Rotulado por muitos como uma indústria poluente, na sua visão, como o setor siderúrgico pode se alinhar à pauta de sustentabilidade ambiental, social e de governança (ESG), já consolidada no meio empresarial?

O aço é uma solução para um futuro mais sustentável, uma vez que a capacidade de transformação praticamente infinita do produto, sem perda de qualidade, o torna o material mais reciclável do mundo. Além disso, ele tem todos os atributos de uma economia circular por ser 100% reciclável.

Na ArcelorMittal possuímos uma estratégia de sustentabilidade baseada nas 10 Diretrizes do Desenvolvimento Sustentável (DDS), que foram estabelecidas a partir dos 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU). As 10 Diretrizes estão fundamentadas nas melhores práticas e tendências da gestão de questões sociais, econômicas e ambientais relacionadas ao nosso negócio.

A empresa vem investindo cada vez mais em iniciativas voltadas para ESG e desenvolvimento de uma economia circular de baixo carbono em suas operações. Um importante marco em 2020 foi o anúncio do Grupo ArcelorMittal, em âmbito mundial, comprometendo-se a ser carbono neutro em 2050. A definição da meta, inédita no segmento de aço e de extrema relevância frente às ameaças das mudanças climáticas, coloca a companhia na liderança dos esforços para redução das emissões no processo de fabricação do aço, que hoje tem uma pegada de carbono significativa.

Quais medidas a ArcelorMittal Sul Fluminense (e da empresa no Brasil como um todo, caso deseje expor) tem empregado ou planeja implementar para se alinhar à essa agenda ESG?

No Brasil, a ArcelorMittal vem trabalhando na busca de processos produtivos mais limpos e alternativas para o controle e minimização de emissões de poluentes atmosféricos e de gases de efeito estufa. O Grupo deu início também ao processo de certificação de unidades no Brasil pelos ResponsibleSteel™ e Iniciativa para Garantia de Mineração Responsável (IRMA, na sigla original em inglês). Ambas são certificações ESG que visam assegurar uma produção sustentável na cadeia produtiva do aço e na mineração, respectivamente.

Utilizamos o conceito de economia circular dentro da empresa e o levamos também para a cadeia de fornecedores. O uso interno dos resíduos e coprodutos gerados nos processos tem permitido diminuir o consumo de matérias-primas e insumos. Também é prioridade da empresa o fomento e a expansão da cadeia de logística reversa para recuperação de sucata metálica para produção de aço.

Todos os nossos esforços na empresa resultaram na obtenção da Declaração Ambiental de Produtos (DAP), emitida pelo IBU (Institut Bauen und Umwelt), órgão alemão. Somos a primeira produtora de aço a conquistar a declaração. Outra iniciativa foi o lançamento do Steligence®, metodologia desenvolvida pela ArcelorMittal que possibilita uma avaliação precisa e apurada de uma edificação em todas as suas etapas construtivas para identificar a escolha de construção inteligente a partir de três perspectivas principais: social, econômica e ambiental.

Quais metas de curto e médio prazo para a unidade que lidera e para a ArcelorMittal como um todo?

A ArcelorMittal tem como propósito criar aços inteligentes para um mundo melhor e está em busca de ser uma empresa cada vez mais sustentável, inovadora, eficiente e inclusiva. Desenvolver soluções de alto valor agregado em aço é prioridade da empresa, assim como gerar valor para todos os seus stakeholders, garantindo a saúde, segurança, satisfação e bem-estar de seus empregados, contribuindo com o desenvolvimento das comunidades onde atua e conectando-se com os desafios e expectativas da sociedade em geral. No Sul Fluminense, quero tornar a unidade referência no Grupo ArcelorMittal pela segurança, qualidade, performance e ambiente de trabalho.

Qual é a mensagem que a senhora deseja transmitir aos e, principalmente, às trainees, estagiárias e profissionais em início de carreira que lhe enxergam como um exemplo de profissionalismo e sucesso?

Me sinto honrada por poder inspirar outras mulheres a seguirem um cargo de liderança e a investirem na carreira profissional. Se eu pudesse dar alguma dica, seria: capacite-se e pratique o autoconhecimento, transforme as dificuldades em motivação e acredite que você pode. Ao abraçar grandes oportunidades nos tornarmos pessoas melhores, mais capazes, nos sentimos mais empoderadas e ganhamos autoconfiança.

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