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Real Betis escala projeto ‘Forever Green’ para emplacar ESG no futebol

Time da cidade de Sevilha cria plataforma e ações para combater as mudanças climáticas e se torna referência em sustentabilidade

Patinetes elétricos do projeto Forever Green, do Real Betis

Frota de patinetes elétricos para locomoção dos funcionários do Real Betis: clube neutralizou suas emissões de carbono | Foto: Divulgação/Real Betis

Tema consolidado na pauta empresarial em todo o mundo, o conceito sustentável ESG (ambiental, social e de governança) ganhou um grande embaixador no futebol com o projeto “Forever Green”, do clube espanhol Real Betis Balompié.

Modalidade esportiva mais popular do mundo, o futebol – e o esporte como um todo – ainda engatinha no assunto.

Nesse sentido, time da cidade de Sevilha está dando passos largos para se tornar referência em sustentabilidade, com um projeto que envolve diversas ações embasadas nos conceitos ESG.

O “Forever Green” (Para Sempre Verde, do inglês) consiste em uma plataforma aberta a qualquer organização que tenha projetos alinhados aos princípios sustentáveis e que queira aproveitar a força da exposição do futebol.

Soma-se ao espaço concedido ações próprias do time no dia a dia e junto à sua torcida para reduzir emissões de carbono – o Real Betis já neutralizou suas próprias emissões.

Ação voluntária que retirou nove toneladas de lixo do Guadalquivir, que banha a cidade de Sevilha
Ação voluntária que retirou nove toneladas de lixo do rio Guadalquivir, que banha a cidade de Sevilha | Foto: Divulgação/Real Betis

O norte das ações é a preservação do meio ambiente. O clube da região da Andaluzia, que tem o verde e o branco como suas cores, acredita que o futebol deve estar aliado à sustentabilidade.

“Como clube, temos o dever e a oportunidade de sermos uma voz altiva para a sociedade criar consciência e iniciar diferentes ações. Temos uma grande base de seguidores com grande consciência social e temos que aproveitá-la”, Rafael Muela, gerente da Fundação Real Betis.

Origem em parceria com a ONU

O gatilho para o Real Betis idealizar o projeto Forever Green veio há quatro anos por meio de um acordo de patrocínio com uma empresa chamada Green Earth.

A companhia produz tokens que usam a tecnologia blockchain. A cada venda do produto, a empresa se compromete a manter um metro quadrado (m²) de área verde natural na Costa Rica, na América Central.

O patrocinador foi uma ponte entre o time de Sevilha e a Organização das Nações Unidas (ONU).

O clube aderiu ao programa Climate Neutral Now, que incentiva organizações de todo o mundo a neutralizar as próprias emissões de carbono até 2050, com base nas diretrizes do Acordo de Paris.

“Nossa adesão a este projeto foi muito bem recebida pelas Nações Unidas, que nos parabenizou por ser um dos primeiros clubes a aderir e apostar no meio ambiente”, explica Muela.

Estádio Benito Villamarín, do Real Betis
Estádio Benito Villamarín: iluminação de LED foi instalada para reduzir consumo de energia | Divulgação/Real Betis

A primeira ação concreta foi o comprometimento de medir e reduzir a pegada de carbono do clube – que envolve emissões em deslocamentos dos funcionários e uso de energia – e compensá-la com o apoio à instalação de um parque eólico em Orosi, na Costa Rica.

Para marcar a parceira com a ONU, o time lançou uma camisa feita 100% de material reciclado e que foi usada pela equipe principal em uma partida em casa, no Estádio Benito Villamarín, de La Liga (primeira divisão do campeonato espanhol) contra o Valencia.

O engajamento cresceu ainda mais e o clube aderiu ao movimento The Climate Pledge, da gigante de tecnologia Amazon, também de combate às emissões globais de carbono.

“Instalamos iluminação LED, tanto no nosso estádio, quanto na Ciudad Deportiva (centro de treinamento do clube) e escritórios, buscando uma grande economia de energia. Lá demos o grande passo em direção ao Forever Green e a jornada deste grande projeto começou”, diz Muela.

Ações Forever Green

Segundo o próprio Real Betis, desde o início do projeto Forever Green foram colocadas em prática 25 diferentes ações em 50 países.

Para garantir a efetividade, foi contratada a consultoria Ecoterrae, que assessora e mensura de forma técnica todos os passos dados pelo time.

Os bons exemplos sustentáveis promovidos pelo Real Betis começam dentro de casa, com a disponibilidade de patinetes elétricos para a locomoção dos funcionários do clube, além do incentivo ao uso do transporte coletivo.

Foram instalados coletores específicos para lixo reciclável e específico, como produtos elétricos, eletrônicos e pilhas.

O projeto também tem uma comissão interna que ajuda na implementação da cultura Forever Green em todos os setores do clube.

Rafael Muela, gerente da Fundação Real Betis e responsável pelo projeto Forever Green
Rafael Muela, gerente da Fundação Real Betis e responsável pelo projeto Forever Green| Foto: Divulgação/Real Betis

Foi da comissão, aliás, que nasceu a campanha “Ecoempleado” (junção de ecológico com empregado, em espanhol), que promove práticas mais sustentáveis por parte dos colaboradores para diminuir as próprias emissões e a pegada de carbono.

Adicionalmente, o time mantém contato constante com os governos de Sevilha, da Andaluzia e federal espanhol, que ajudam a nortear as ações sustentáveis.

“Consideramos essencial a boa relação com os governos, porque em muitos casos são eles que nos transmitem as necessidades do meio ambiente e com o que podemos ajudar”, afirma Muela.

Nesse âmbito macro, o projeto Forever Green já promoveu, em parceria com a ONG Ok Planet, a limpeza do rio Guadalquivir, que banha a cidade de Sevilha, retirando nove toneladas de lixo.

O clube também fomenta ações de jovens empreendedores que desenvolvem soluções com vista nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Recentemente, o Real Betis aderiu a mais uma iniciativa da ONU, o Sports for Climate Action, que chama organizações esportivas a agir no combate às mudanças climáticas.

Novamente pioneiro, o time espanhol entrou na ação com suas equipes profissionais masculina e feminina de futebol, além de outras modalidades, como basquete, futebol de salão e futebol para pessoas com deficiência (PCD).

Engajamento do torcedores do Real Betis

Durante os jogos, o incentivo e motivação que vem das arquibancadas é muito importante para quem está dentro das quatro linhas em busca da vitória.

Do mesmo modo, para que as ações sustentáveis ganhem tração, a participação dos torcedores é fundamental.

Nesse sentido, Rafael Muela explica que as reações da torcida ao Forever Green têm sido muito positivas.

Quando há publicações sobre o projeto nas redes sociais, muitos expressam a sensação de orgulho por fazer parte de um clube comprometido com o meio ambiente.

E quando há ‘convocação’ para pôr a mão na massa, o engajamento é alto.

“Uma das últimas foi na limpeza do rio Guadalquivir, quando centenas de ‘béticos’ se uniram. Estamos confiantes de que a aceitação dos torcedores crescerá e que o retorno do público ao estádio ajudará a dar ainda mais força ao Forever Green”.

Missão ESG e conselho aos brasileiros

Como evidenciado, o foco principal das ações do projeto Forever Green, do Real Betis, é o meio ambiente e vai direto ao encontro da letra “E” da sigla ESG.

Por outro lado, o clube mantém a Fundação Real Betis Balompié, que desenvolve projetos sociais que envolvem educação e saúde – abrangendo assim o social e a governança.

Ciente de que é um exemplo em potencial no futebol para o engajamento nas questões de sustentabilidade, o clube sevilhano encara os aspectos ESG e a sustentabilidade como coisas indissociáveis à própria cultura, sendo um dever do time ajudar no desenvolvimento da comunidade.

“Acreditamos que temos uma responsabilidade para com nossas comunidades, de retribuir o que elas nos oferecem e o que nos deram ao longo de nossa história”, afirma Muela.

Camisa de jogo do Real Betis com o logo Forever Green atrás
Clube de Sevilha utilizou camisas feitas 100% de material reciclado em jogo do campeonato espanhol | Foto: Divulgação/Real Betis

“Temos uma massa social de 50 mil sócios que a cada temporada apoiam o nosso clube e eles merecem que trabalhemos para melhorar as condições sociais e ambientais da sociedade. Temos uma grande capacidade de ser referência e temos que usar esse potencial da maneira certa”.

Aos clubes brasileiros, que historicamente sofrem com más gestões e têm dificuldade de, primeiramente, se estabilizar no sentido financeiro, a experiência do Real Betis deixa lições sobre começar dando pequenos passos.

Os conselhos passam por buscar fornecedores que se alinhem a critérios sustentáveis e incentivar que os funcionários sejam os primeiros na linha de bons exemplos aos torcedores.

“Estamos convencidos que trabalhar pelo meio ambiente não é mais uma moda. É uma urgência dos clubes, entidades, instituições e pessoas. Sem planeta, não há vida, não futebol, não há Betis. É algo que os próprios torcedores vão demandar de seus clubes”, diz Rafael Muela.

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