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Guerra pode travar venda de fábrica da Petrobras ao grupo russo Acron

Instalada em Mato Grosso do Sul, a Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN-III) foi erguida entre 2011 e 2014, mas teve as obras paralisadas

Aérea da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN3), da Petrobras

Processo de venda dependia apenas de aval da governança da Petrobras quando a Rússia deu início à guerra na Ucrânia | Foto: Ascom/MPF/MS

A guerra na Ucrânia deve atrapalhar a venda da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN-III), da Petrobras (PETR4). Instalada no município de Três Lagoas (MS), a fábrica estava sendo repassada à empresa russa Acron.

A assinatura do contrato dependia só do aval da área de governança da petrolífera quando a guerra estourou. Agora depende também do tempo que o conflito vai durar e de seus efeitos no caixa da Acron.

Apesar do valor envolvido não ter sido informado pelas empresas, o governo do Mato Grosso do Sul informou que a Petrobras gastou mais de R$ 3 bilhões para construir a fábrica. Parte desse dinheiro se perdeu com a deterioração dos equipamentos ao longo dos anos, desde a suspensão da obra em 2014.

“O acesso do Banco Central e das empresas russas às suas reservas e a ativos em dólar estão bloqueados e foram cancelados do sistema de pagamento internacional, o Swift. Sem poder movimentar dinheiro, a Acron não pode fechar o negócio, pelo menos por enquanto”, afirma Rodrigo Leão, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).

Esse não é um problema para a Petrobras, pois a assinatura do contrato não estava prevista nos próximos dias. Segundo uma fonte da petrolífera, alguns trâmites internos ainda têm de ser cumpridos, o que costuma levar meses.

A questão é que os dois lados estavam empenhados em acelerar o processo para que a empresa russa começasse a operar a fábrica já em julho.

“O negócio só será inviabilizado se a guerra e os efeitos da sanção econômica se estenderem e a Acron perder o fôlego para novas aquisições”, afirma Leão.

Pompa da unidade de fertilizantes da Petrobras

No dia 11 de fevereiro, quando a guerra ainda era uma tensão geopolítica, o vice-presidente da empresa, Vladimir Kantor, foi ao Mato Grosso do Sul acompanhado de representantes da Petrobras, para conversar com o governador Reinaldo Azambuja.

O encontro foi comemorado pelo governo local, que há anos aguarda por um investidor na UFN-III.

A unidade começou a ser construída em 2011. Três anos depois, as obras foram paralisadas com 81% das instalações de pé. Hoje, a fábrica é um esqueleto em Três Lagoas e o esforço da Petrobras se limita a evitar a degradação dos equipamentos.

O encontro dos executivos com o governo local foi marcado exatamente para acelerar o início das operações. Um grupo de trabalho foi formado para elaborar o documento que vai oficializar os benefícios fiscais oferecidos pelo Estado à retomada da obra.

“Temos toda intenção de concluir essa venda no prazo mais rápido possível”, afirmou, no dia, a gerente executiva de Gestão de Portfólio da Petrobras, Ana Paula Saraiva.

Mudança de planos

A UFN-III foi planejada em um momento em que a Petrobras idealizou o uso do futuro gás do pré-sal como matéria-prima em diferentes negócios, um dos principais era a produção de fertilizantes, importado em larga escala pelo setor agrícola brasileiro.

Em 2014, porém, sob nova gestão, voltada a resolver as finanças da estatal, a Petrobras decidiu vender todos os ativos não relacionados a seu negócio principal, a exploração e produção de petróleo bruto e gás, em águas profundas e ultraprofundas.

Para a Acron, o negócio é vantajoso. A empresa é uma das líderes mundiais no fornecimento de fertilizantes. Em seu site, diz ter vendido seus produtos a 74 países em 2020.

Entre seus principais mercados, estão “Rússia, Brasil, Europa e Estados Unidos”, nesta ordem. Na UFN-III, ela teria a chance de produzir 3,6 mil toneladas por dia de ureia e 2,2 mil toneladas por dia de amônia, a partir de 2,2 milhões de m³ por dia de gás. (AE)

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