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Ibovespa cai 3,08% no maior tombo desde março

Aversão a riscos no exterior e preocupações internas com a situação fiscal e o cenário político causaram queda no Ibovespa

Entrada da B3

Risco político está entre os principais fatores que abalaram o mercado de ações nesta sexta-feira | Foto: Divulgação

Apesar do frio em São Paulo, o Ibovespa derreteu à tarde, bem além das perdas observadas na Ásia como na Europa e nos Estados Unidos, refletindo não só a aversão a risco no exterior, mas também a retomada de temores domésticos sobre a situação fiscal e o cenário político, com o retorno do Judiciário e do Legislativo aos trabalhos na próxima semana.

O índice de referência da B3 cedeu 3,08%, aos 121,8 mil pontos, o menor nível de encerramento desde 13 de maio, então aos 120,7 mil pontos. No intradia, aos 121,7 mil pontos, foi nesta sexta-feira ao menor patamar desde 19 daquele mesmo mês (121,5 mil pontos). O giro foi de R$ 38,6 bilhões.

Na semana, o Ibovespa emendou a segunda perda, agora de 2,60%, após recuo de 0,72% acumulado na anterior. Em julho, mês no qual registrou ganho em apenas uma semana completa, o índice cedeu 3,94% – a segunda maior perda do ano, superada pela de 4,37% em fevereiro.

Queda do Ibovespa foi o maior desde 8 de março

Em porcentual, o recuo desta sexta-feira foi o maior desde 8 de março, ocasião em que o Ibovespa havia caído 3,98%, com o retorno do ex-presidente Lula ao jogo político após anulação de condenações decidida pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). No ano, o índice limita agora a alta a 2,34%.

Após ter renovado máxima histórica em 7 de junho, na casa de 131 mil pontos, emendando ganhos entre março e aquele mês, o Ibovespa passou a enfrentar ventos adversos.

Os fatores de incerteza se mostraram variados: de crise hidrológica, e ruídos que acentuam a perspectiva de medidas populistas na trilha para 2022, a preocupações com inflação, aqui e nos Estados Unidos, e o fantasma de possíveis efeitos da variante Delta do coronavírus sobre a recuperação econômica global.

Por último, a ofensiva de controle ensaiada na China sobre empresas listadas fora do país contribuiu para acender nova luz amarela.

Conjunto de fatores explica resultado negativo

Neste contexto avesso a risco, os investidores optam por colocar mais algum dinheiro no bolso, em um fim de mês no qual as saídas de recursos estrangeiros de ações na B3 chegam a R$ 7 bilhões, conforme a mais recente leitura, até do dia 28.

Não houve um motivo específico para a acentuação de perdas vista hoje à tarde no Ibovespa, mas, sim, uma percepção de risco do exterior, sobre a intervenção do governo da China em empresas de educação – os índices de ações por lá caíram 10% na semana – e, no Brasil, uma atenção maior ao que a presença do Centrão no governo resultará em termos de gastos, no momento em que se começa a costura política para 2022, segundo análise de Mauro Orefice, diretor de investimentos da BS2 Asset.

Em fechamento de mês, a cautela derivou também da expectativa para a decisão do Copom na próxima semana, com o mercado atento ao ritmo de elevação da Selic até o fim do ano em um contexto de inflação ainda pressionada, além das dúvidas sobre a futura dimensão do Bolsa Família, em beneficiários como em valor: uma combinação que recoloca o fiscal no radar, especialmente o teto de gastos.

“O sentimento de cautela no mercado local foi acentuado pelo agravamento dos ruídos políticos, além das pressões inflacionárias e do risco de rompimento do teto de gastos. Ainda que a forte arrecadação tenha aliviado a preocupação com a situação fiscal no curto prazo, essa melhora é temporária. O dia foi de correção bem forte no Ibovespa”, diz Romero Oliveira, head de renda variável da Valor Investimentos.

Ações com ganhos e maiores perdas

Assim, após ter saído do último fechamento de junho aos 126,8 mil pontos, os investidores acabaram aproveitando a temporada positiva de balanços de empresas como Vale (ON -5,89%, na mínima do dia no fechamento, a R$ 108,76), Ambev (ON -2,86%) e Usiminas (PNA -1,30%) para uma realização de lucros no “fato”, sobre resultados que, em geral, têm correspondido ou até surpreendido favoravelmente. Dessa forma, apenas três ações do Ibovespa escaparam da correção distribuída por empresas e setores nesta sexta-feira: Telefônica Brasil (+0,39%), JBS (+0,34%) e Cielo (+0,30%).

Na ponta negativa do índice de referência, Localiza (-7,36%), Banco Inter (-5,99%) e Vale (-5,89%). Entre os grandes bancos, segmento de maior peso no Ibovespa, as perdas desta sexta-feira ficaram entre 1,08% (Itaú PN) e 2,50% (Bradesco ON). Petrobras PN e ON fecharam o dia respectivamente em queda de 3,24% e 2,59%. (AE)

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