Inflação de bens industriais e alimentos desacelera
A inflação de alimentos veio abaixo do esperado em junho, com arrefecimento generalizado entre os produtos; confira a tendência na análise do Safra
15/07/2024
A inflação de alimentos veio abaixo do esperado em junho, com arrefecimento generalizado entre os produtos | Foto: Getty Images
O IPCA subiu menos do que o esperado em junho. O IPCA variou 0,21% na comparação mensal, abaixo da projeção do Banco Safra, de 0,29%, e da mediana de projeções do mercado, de 0,30%. A inflação acumulada em 12 meses, por outro lado, subiu de 3,93% para 4,23%.
Esse movimento era esperado, segundo análise dos especialistas do Banco Safra, dado que a deflação de comida observada em meados do ano passado deixa de influenciar o índice anual.
A desinflação exportada pela China continua ajudando na inflação de bens industriais, apesar da alta das matérias primas no atacado, notadamente as metálicas. Os bens industriais subiram apenas 1,1% nos últimos 12 meses, e a variação mensal em junho foi particularmente benigna para automóveis, aparelhos telefônicos e artigos de residência e de vestuário. A contribuição desses itens para moderar a variação do IPCA é semelhante à observada em 2017-19.
A inflação de alimentos também veio abaixo do esperado em junho, com arrefecimento generalizado entre os produtos. Há um componente sazonal nesse alívio, com nossas coletas diárias indicando que o grupo deve entrar em deflação em julho, com destaque para a queda dos alimentos in natura e moderação nas altas de leite e arroz.
A inflação de serviços não apresentou surpresas importantes, continuando sua trajetória de queda conforme projetado. Um núcleo bastante comentado por parte dos dirigentes do Banco Central do Brasil em discursos recentes ou comunicações oficiais tem sido o de serviços intensivos em trabalho, cuja variação de preços tem moderado nos últimos meses.
Os poucos itens desse núcleo têm, de fato, apresentado grande dispersão, com serviços de costureira e psicólogo com inflação interanual perto de zero e manicure e dentista perto de 10%.
O comportamento atual sugere um realinhamento de preços relativos, mais do que uma inflação subjacente, em contraste com 2018, quando todos os itens desse núcleo oscilavam perto de 5%.
De modo mais geral, os preços dos serviços continuam crescendo acima de 3% ao ano, refletindo em parte um realinhamento de preços relativos depois da forte alta de preços de bens (especialmente duráveis, mas não só eles) na esteira da Covid-19.
E cabe lembrar que não há exatamente uma expectativa de que a inflação de serviços tenha que convergir para 3% ao ano para se satisfazer a meta de inflação, dado que, afora em período de recessão, os preços de serviços tendem a subir mais rapidamente do que os dos bens industriais, onde os ganhos de produtividade são mais evidentes e facilmente medidos.

Inflação medida pelo IPCA tem evolução favorável
Outras medidas de núcleo bastante acompanhadas pelo BCB seguem próximos da meta e embasam o cenário de uma inflação corrente benigna.
Por outro lado, a dinâmica recente da taxa de câmbio pode trazer alguma pressão inflacionária no segundo semestre de 2024, especialmente se ela não for compensada por uma queda no preço de commodities agrícolas, da qual não há grandes sinais à vista.
Em suma, a inflação brasileira continua apresentando uma evolução favorável, com a inflação de serviços cedendo, ainda que em patamar mais alto do que a de bens, mas sob o risco de alguma reversão nessa trajetória em decorrência da inesperada depreciação cambial iniciada em abril e exacerbada em finais de junho.
Na medida que essa depreciação seja revertida, seus impactos no IPCA de 2024 e, especialmente, de 2025 passam a gerar menos preocupação para o atingimento das metas determinadas pelo Conselho Monetário Nacional, agora de forma contínua, isto é, com verificações mais amiúde.
Íntegra do relatório semanal de macroeconomia do Banco Safra.

