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Com inflação concentrada em poucos itens, EUA estão pertos do corte de juros

Nos últimos meses os aumentos dos preços têm se concentrado em poucos itens, informa a análise macroeconômica do Banco Safra

Inflação e juros nos EUA

Custo da moradia e do seguro de automóveis está entre os itens que ainda pressionam a inflação | Foto: Getty Images

O Índice de Preços ao Consumidor dos EUA (CPI) subiu 0,31% no mês de abril. A alta da inflação foi muito influenciada pelo aumento dos preços de combustíveis, que refletem a subida do preço do petróleo a partir da segunda metade de março, movimento em larga medida revertido no início de maio. Já o núcleo, que exclui os preços de alimentação e energia, subiu 0,29% no mesmo período, ritmo menor que o observado no primeiro trimestre, quando a inflação média do núcleo foi de 0,37% ao mês.

Apesar do arrefecimento do núcleo em abril, este continua em patamar alto. A alta de 0,29% no mês equivaleria a 3,5% no ano. Nesse contexto de “inflação alta”, é interessante notar que nos últimos meses os aumentos dos preços ao consumidor têm se concentrado em poucos itens, informa a análise macroeconômica semanal do Banco Safra.

Como mostra o gráfico 1, cerca de 75% da alta do núcleo veio de serviços hospitalares, seguro de automóvel e o custo implícito do usufruto da residência própria (Owners Equivalent Rent – OER):


O OER reflete o “custo de oportunidade” de morar na sua própria casa, ou seja, o quanto o dono daquela propriedade deixa de ganhar se a tivesse alugado, ou de forma equivalente, quanto estaria disposto a pagar para morar em uma casa semelhante que não fosse sua.

O valor do OER é inferido em duas etapas. Na primeira, é perguntado ao morador quanto ele estaria disposto a pagar para morar ali ou por quanto ele avalia que a residência poderia ser alugada. Essa informação proporciona o peso do item na cesta de consumo. A variação percentual a cada mês do custo do item propriamente dito é estimada a partir da variação dos aluguéis de residências parecidas em localidade próxima. O preço do OER e do próprio aluguel no CPI não refletem o preço do aluguel pedido ou contratado nas residências que estão em determinado momento disponíveis para alugar. Eles refletem o custo médio do aluguel para todos os consumidores e sua variação é calculada estimando quanto na média os aluguéis estão mais caros hoje do que doze meses antes, capturando assim aumentos de aluguéis sobre um período bastante longo.

A inércia desses índices é aumentada também porque os reajustes anuais (livres) e renovações tendem a flutuar menos do que os novos aluguéis, que respondem não só à inflação geral, mas também muito a flutuações da oferta e demanda de residências para alugar.

Apesar da forte desaceleração do aumento dos novos aluguéis, a inflação dos aluguéis no CPI tem caído muito gradualmente, inclusive pelo efeito de degrau causado pelo aumento do peso de residências individuais, cujo aluguel é mais caro que o de apartamentos e vilas, implementado em janeiro de 2024.

Ou seja, a variação do OER e da média dos aluguéis residenciais em vigor ainda tem um efeito de “cauda”, que remonta à época da covid. Já as coletas de preços de novos aluguéis a partir dos sites Zillow e Apartment List mostram variações até mais fracas do que antes da pandemia, com uma pequena deflação em relação aos apartamentos (essas séries são curtas, impedindo inferências mais robustas sobre a influência na variação do OER no próximo trimestre).

Os novos contratos de aluguel capturados pelo Departamento do Trabalho também têm apresentado inflação próxima de zero nas últimas observações, indicando que até 2025 os aluguéis no CPI deverão mostrar desaceleração significativa.

O preço de seguro de automóvel também teve alta expressiva nos últimos meses. Apesar disso, grande parte dessa variação pode ser atribuída a um ajuste de preços relativos. Com o início da pandemia muitas seguradoras reduziram suas tarifas em abril de 2020, que permaneceram acumulando deflação até o final de 2021. Nesse período, no
entanto, os preços de automóveis subiram de forma acentuada em meio a diversas restrições de oferta, que permaneceram ao longo de 2022 e encareceram tanto os veículos novos como os usados. Com preços maiores de automóveis e peças, os custos das seguradoras em caso de sinistro tendem a ser pressionados, o que as obrigou a
reajustar suas tarifas.

As regulações sobre o mercado de seguros tendem a fazer com que os preços nem sempre subam no ritmo desejado pelas empresas do setor, mas é provável que a maior parte desse ajuste já tenha sido concluída. A razão entre os preços de seguro veicular e de automóveis usados subiu de forma expressiva nos últimos trimestres e já se encontra acima do patamar anterior à pandemia. Assim, por mais que não seja possível descartar elevações adicionais dos preços de seguros nos próximos meses, parece menos provável que elas permaneçam na intensidade atual por muito mais tempo.

Por fim, os serviços hospitalares também parecem estar sob ajuste de preços relativos, beneficiados pela demanda ainda aquecida no setor. Nos primeiros meses da pandemia os salários dos profissionais de saúde acumularam ganhos expressivos, que podem ter pressionado de forma relevante a folha de pagamentos dos hospitais.

A inflação de serviço hospitalar ainda não compensou a totalidade dos ganhos salariais acumulados, de modo que o ajuste deve prosseguir ainda em 2025. Apesar disso os salários no setor também têm desacelerado nos últimos meses, o que combinado a uma possível moderação do consumo de serviços de saúde pode limitar a inflação futura.

Inflação nos EUA concentrada em poucos itens indica proximidade do corte de juros

Assim, a alta do índice de preços ao consumidor dos EUA tem sido impulsionada por poucos itens, cuja variação parece seguir uma lógica de ajuste de preços relativos para compensar os desequilíbrios decorrentes da pandemia.

A concentração da inflação também pode ser percebida através do indicador de difusão do CPI, que se encontra novamente no patamar anterior à pandemia (Gráfico 6).

Vale notar também que o Fed olha mais para o índice de preço das despesas pessoais do consumidor (PCE) do que para o CPI e que as variações dos dois índices por vezes divergem. Essa divergência tem ocorrido, por exemplo, pelo fato de o peso da moradia ser muito maior no CPI do que no PCE (Gráfico 7).

No entanto, a concentração dos aumentos de preços acaba influenciando o PCE também. Isso se deve em parte porque o maior peso dado à saúde no PCE compensa o menor peso dado à moradia, já que a inflação dos serviços de saúde também tem sido alta.

Algo semelhante ocorre com o seguro de automóveis, cujo menor peso no PCE é compensado pelos serviços financeiros, que também tem tido aumento de custo.

Em suma, a perspectiva de conclusão dos ajustes de preços relativos deve aumentar a confiança com o retorno da inflação ao patamar compatível com a meta do Fed, permitindo futuramente o início do processo de flexibilização monetária.

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