Inflação: IPCA e IGP-M podem ser diferentes
Principais indicadores da inflação utilizam metodologias distintas para medeira evolução dos preços
03/12/2020Diferentes índices são utilizados para medir a inflação, sendo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) e o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) os dois mais utilizados no Brasil.
Apesar de ambos medirem a inflação, eles podem mostrar resultados bastante diferentes. Isso porque, mais importante do que serem calculados por instituições diferentes – sendo uma privada e outra atrelada ao governo –, eles consideram itens distintos para medir a variação nos preços.
Enquanto o IPCA mede a variação de preços dos itens consumidos por famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos, o IGP-M avalia os preços para produtores (ou seja, no atacado), consumidores e itens relacionados à construção civil.
Por conta dessa diferença metodológica, é natural haver resultados distintos entre os dois índices. O IGP-M, por exemplo, está mais exposto às variações do dólar, devido à sua maior proximidade com as indústrias.
Abaixo, explicamos em mais detalhes a metodologia de cada índice.
IPCA – inflação oficial
O IPCA é o índice oficial da inflação do país. Medido todos os meses pelo IBGE, é nele que o Banco Central e o governo se baseiam para definir suas políticas – o Banco Central, por exemplo, define a meta da taxa Selic levando em conta as projeções para o IPCA.
O cálculo da inflação se baseia em uma cesta hipotética de consumo. Nela, ficam englobados atualmente 377 produtos e serviços que são consumidos por famílias com renda entre 1 a 40 salários mínimos. Esta cesta de itens tem como origem a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), também elaborada pelo IBGE, e cuja última edição leva em conta os anos de 2017 e 2018.
Portanto, o IPCA faz o cálculo da média ponderada do valor gasto para se adquirir esse conjunto de itens no varejo.
Cada uma das categorias que compõem a cesta possui um peso diferente. Na divulgação da última POF, a categoria “Transportes” ultrapassou “Alimentação e bebidas” como o principal gasto médio do brasileiro. Os pesos das categorias dentro do IPCA foram distribuídos do seguinte modo, com vigência a partir dos índices de janeiro de 2020:
- Transportes – 20,60%
- Alimentação e bebidas – 19,35%
- Habitação – 15,59%
- Saúde e cuidados pessoais – 13,53%
- Despesas pessoais – 10,73%
- Comunicação – 5,71%
- Educação – 6,15%
- Vestuário – 4,58%
- Artigos de residência – 3,75%
O indicador mede a variação dos preços do comércio nas áreas metropolitanas de Belém, Belo Horizonte, Brasília, Campo Grande, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória.
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As cidades não possuem a mesma porcentagem de importância no cálculo, sendo São Paulo a mais relevante para o resultado final, com peso de 32,32%. A coleta do IPCA vai do dia 1 ao 30/31 do mês. Similar a ele, há também o IPCA-15, conhecido como uma “prévia da inflação”, uma vez que utiliza a mesma metodologia, aplicada a um período de tempo diferente: de um dia 15 ao outro.
Em termos práticos, quando o IPCA sobe, o poder de compra da população cai, fazendo com que seja necessário mais dinheiro para adquirir um mesmo item. Nos investimentos, há uma série de produtos que buscam retornos acima do IPCA, desde uma série de títulos de renda fixa a fundos de investimento de diferentes categorias, com o objetivo de oferecer um ganho real aos investidores.
IGPs
Os IGPs (Índices Gerais de Preços) são um conjunto de índices mensais de preços, divididos em três versões: IGP-10 (Índice Geral de Preços – 10), IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna) e, o mais conhecido, o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado).
De abrangência nacional, esses indicadores são calculados pela FGV (Fundação Getulio Vargas) desde novembro de 1947. Segundo a instituição, ele foi concebido, na época, para ser um índice abrangente de preços, englobando não apenas diferentes atividades da economia, como também etapas distintas do processo produtivo.
A diferença entre as três versões se dá pelo período em que são coletados:
- IGP-10: entre os dias 11 do mês anterior e 10 do mês de referência
- IGP-M: entre os dias 21 do mês anterior e 20 do mês de referência
- IGP-DI: representa o mês cheio, coletado entre o primeiro e último dia do mês de referência.
Os IGPs são, na realidade, uma composição de outros três índices de inflação: ao produtor (IPA), ao consumidor (IPC) e na construção civil (INCC). Cada um deles possui um peso diferente dentro do IGP, sendo 60% para IPA, 20% para IPC e 10% para INCC.
Esses índices – em especial o IGP-M – são utilizados principalmente no reajuste de contratos de aluguel e como indexador de contratos de empresas prestadoras de serviços, como as operadoras de saúde e as escolas. O IGP-M também serve de guia para o reajuste de algumas tarifas públicas, como energia e telefonia.