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Impacto do Instagram na saúde mental dos adolescentes é investigado

Senado americano ouve hoje a ex-funcionária do Facebook Frances Haugen, que relatou os danos causados pelo Instagram à saúde mental de crianças e adolescentes

Frances Haugen ex-funcionária do Facebook

Ex-funcionária do Facebook Frances Haugen revelou ter sido responsável pelo vazamento da pesquisa interna da rede social | Foto: Reprodução/Youtube

A ex-funcionária do Facebook Frances Haugen, que denunciou pesquisas internas da rede social sobre a saúde mental das crianças que usam o Instagram, será ouvida no Senado dos Estados Unidos às 11h (horário de Brasílía) em uma audiência intitulada “Protegendo Crianças Online”.

As denúncias são debatidas no momento em que o Facebook, Instagram e WhatsApp protagonizaram o maior apagão da história das redes sociais, abalando a vida e os negócios de bilhões de pessoas no mundo inteiro – as três redes são usadas por cerca de 2,7 bilhões de pessoas no mundo. O Facebook ainda não esclareceu o motivo da pane registrada ontem.

A ex-funcionária se identificou como a responsável pelo vazamento de informações internas do gigante das mídias sociais e sobre efeitos nocivos que plataformas da empresa podem exercer sobre usuários adolescentes.

Frances Haugen, de 37 anos, falou no domingo à emissora americana CBS e contou ter sido ela a responsável pelo repasse ao Wall Street Journal de dados de pesquisas realizadas pelo próprio Facebook sobre os efeitos das redes na saúde mental de adolescentes.

Denúncia de ex-funcionária sobre efeitos do Instagram nos adolescentes deixa o Facebook sob pressão

A denúncia colocou o Facebook sob intensa pressão política nos Estados Unidos. Quase um terço das adolescentes com problemas de imagem corporal disseram ao Facebook que navegar pelo Instagram piorou esses problemas, de acordo com documentos analisados pelo jornal.

A ex-gerente de produto do grupo acusou seu ex-empregador de colocar sistematicamente o lucro acima da segurança de seus usuários. “O Facebook paga seus lucros com nossa segurança”, disse Haugen.

Ela já trabalhou para outras empresas do setor, como Google e Pinterest, mas disse que o Facebook é “significativamente pior”.

“A versão atual do Facebook está dilacerando nossas sociedades e levando à violência étnica em todo o mundo”, afirmou.

O Wall Street Journal relatou que o Facebook, através de suas próprias investigações, havia chegado à conclusão de que especialmente a plataforma social Instagram pode ser prejudicial à saúde mental de adolescentes.

Rede piora percepção do corpo de um em cada três usuários

O jornal citou uma frase em que a companhia reconhece que o serviço contribui para piorar e percepção do próprio corpo de “um em cada três adolescentes”.

Haugen deixou o emprego no Facebook em maio, após cerca de dois anos na empresa. Ela ressaltou que o algoritmo que determina qual conteúdo é exibido para os usuários é projetado para evocar uma reação. E pesquisas realizadas pela própria empresa mostraram que “é mais fácil inspirar as pessoas a terem raiva do que outras emoções”, disse Haugen.

“Quando vivemos num ambiente de informações que é repleto de conteúdo de ódio e polarizador, isso faz erodir nossa confiança cívica, a fé que temos uns nos outros, a habilidade que temos de querer nos importar uns com os outros”, disse.

“O Facebook percebeu que, ao modificar o algoritmo para ser mais seguro, as pessoas gastam menos tempo na página e clicam menos em anúncios”, o que faz com que a empresa ganhe menos dinheiro.

Empresa percebeu o perigo durante as eleições americanas, mas seguiu em frente

Ela disse que durante a eleição presidencial de 2020 nos Estados Unidos, a empresa percebeu o perigo que tal conteúdo representava e ativou sistemas de segurança para reduzi-lo.

“Assim que as eleições terminaram, eles voltam atrás ou mudam as configurações de volta para o que era antes, para priorizar o crescimento em vez da segurança, e isso realmente parece uma traição à democracia para mim”, ressaltou.

“Havia conflitos de interesse entre o que era bom para o público e o que era bom para o Facebook”, disse Haugen no programa 60 Minutes, da emissora CBS.

“As ações do Facebook deixam claro que não podemos confiar em seu autopoliciamento. Devemos considerar uma supervisão mais forte”, disse o senador Richard Blumenthal, referindo-se à entrevista veiculada na CBS.

O Instagram, que pertence ao Facebook, e outras plataformas que dependem da encenação virtual praticada por seus usuários vêm sendo repetidamente criticadas por não fornecerem aos menores, em particular, proteção adequada contra agressões e danos que possam sofrer – como cyberbullying.

Instagram pode levar a transtornos alimentares e depressão

A série de reportagens publicadas pelo Wall Street Journal nas últimas semanas revelou, entre outras coisas, que uma pesquisa do Facebook sobre a influência do Instagram constatou que a plataforma social pode reforçar, entre adolescentes, a insatisfação com a imagem do próprio corpo, especialmente entre meninas, podendo levar a transtornos alimentares e depressão.

Após a publicação da reportagem, o Facebook decidiu suspender o desenvolvimento de uma versão do Instagram para crianças abaixo dos 13 anos, o Instagram Kids.

Em depoimento no Senado, o diretor de segurança global do Facebook, Antigone Davis, enfrentou duras perguntas de legisladores que acusaram a empresa de priorizar lucros e crescimento em detrimento da saúde de seus usuários mais jovens.

Em audiência na semana passada, os senadores se referiram à investigação interna do Facebook sobre os efeitos de suas plataformas na saúde mental, argumentando que não se pode confiar que o gigante da mídia social atue no melhor interesse das crianças e adolescentes.

“Rede escolheu o crescimento em vez da saúde mental das crianças”

O senador Richard Blumenthal disse que o Facebook “escolheu o crescimento em vez da saúde mental e do bem-estar das crianças, a ganância em vez de evitar o sofrimento das crianças. O Facebook nos mostrou mais uma vez que é incapaz de assumir responsabilidades”, disse Blumenthal.

Antigone Davis observou que a empresa usa seus próprios estudos e trabalha com especialistas externos para desenvolver ferramentas para manter os usuários jovens seguros em suas plataformas, dar aos pais mais opções de segurança e evitar que menores de 13 anos mintam sobre sua idade para criar contas.

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