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Taxa básica de juros tem nova alta e vai a 4,25%

Conselho de Política Monetária do Banco Central eleva taxa Selic em 0,75 ponto para conter inflação e juro volta ao patamar pré-pandemia

Alta dos juros

O Ibovespa fechou a quarta-feira em queda de 0,64%, aos 129.259 pontos. O S&P 500 perdeu 0,54%, aos 4.224 pontos | Foto: Getty Images

O Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central voltou a elevar os juros, em uma nota etapa da política de aperto monetário para conter a inflação. Por unanimidade, a taxa Selic subiu para 4,25% ao ano, com alta de 0,75 ponto porcentual.

Em maio, o Copom já havia decidido por unanimidade elevar a taxa básica de juros (Selic) de 2,75% para 3,50% ao ano, com elevação na mesma proporção. Confira abaixo a íntegra do comunicado.

Ibovespa oscila com decisão do Federal Reserve

Durante a sessão desta quarta-feira, 16, o Ibovespa mergulhou no meio da tarde às mínimas do dia após a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de manter os juros. A decisão veio acompanhada da indicação de que as taxas de referência nos Estados Unidos estão a caminho de serem ajustados para cima, antes do que o mercado vinha precificando – o que se refletiu nos juros dos Treasuries, que foram às máximas da sessão.

Com Nova York em terreno negativo, o índice da B3, que pouco antes do anúncio esboçava recuperar os 130 mil pontos, firmou-se também em baixa, atingindo na mínima da sessão os 128.345,03 pontos durante a fala do presidente do Fed, Jerome Powell, tendo saído de máxima no dia a 130.283,18, com abertura a 130.091,33.

Ao final da sessão, o Ibovespa fechou com perda de 0,64%, a 129.259,49 pontos, com giro financeiro bem reforçado a R$ 93,9 bilhões, em dia de vencimento de opções sobre o índice. O dólar terminou em alta de 0,32%, cotado a R$ 5,06, em um dia em que voltou a ser cotado abaixo de R$ 5 pela primeira vez em um ano. Já o euro cedeu 0,65%, a R$ 6,08.

A queda do Ibovespa foi liderada por Gerdau PN (-5,10%), CSN (-4,72%) e Embraer (-4,40%). Na face positiva do Ibovespa, destaque para Banco Inter, em alta de 5,49%, à frente de Sul América (+3,26%) e de Itaú PN (+1,99%), em dia positivo para as ações do setor financeiro. Vale ON fechou em baixa de 3,00%, refletindo como a siderurgia preocupações sobre a China, enquanto Petrobras PN e ON fecharam, respectivamente, em alta de 0,38% e 0,34%.

Íntegra do comunicado do Copom

Em sua 239ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 4,25% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

  • No cenário externo, estímulos fiscais e monetários em alguns países desenvolvidos promovem uma recuperação robusta da atividade econômica. Devido à presença de ociosidade, a comunicação dos principais bancos centrais sugere que os estímulos monetários terão longa duração. Contudo, a incerteza segue elevada e uma nova rodada de questionamentos dos mercados a respeito dos riscos inflacionários nessas economias pode tornar o ambiente desafiador para países emergentes;
  • Em relação à atividade econômica brasileira, apesar da intensidade da segunda onda da pandemia, os indicadores recentes continuam mostrando evolução mais positiva do que o esperado, implicando revisões relevantes nas projeções de crescimento. Os riscos para a recuperação econômica reduziram-se significativamente;
  • A persistência da pressão inflacionária revela-se maior que o esperado, sobretudo entre os bens industriais. Adicionalmente, a lentidão da normalização nas condições de oferta, a resiliência da demanda e implicações da deterioração do cenário hídrico sobre as tarifas de energia elétrica contribuem para manter a inflação elevada no curto prazo, a despeito da recente apreciação do Real. O Comitê segue atento à evolução desses choques e seus potenciais efeitos secundários, assim como ao comportamento dos preços de serviços conforme os efeitos da vacinação sobre a economia se tornam mais significativos;
  • As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
  • As expectativas de inflação para 2021, 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 5,8%, 3,8% e 3,25%, respectivamente; e
  • No cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,05*, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 5,8% para 2021 e 3,5% para 2022. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 6,25% a.a. neste ano e para 6,50% a.a. em 2022. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 9,7% para 2021 e 5,1% para 2022. Adota-se uma hipótese neutra para a bandeira tarifária de energia elétrica, que se mantém em “vermelha patamar 1” em dezembro de cada ano-calendário.

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.

Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico.

Por outro lado, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país. Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.

O Copom reitera que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual, para 4,25% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2022. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

Neste momento, o cenário básico do Copom indica ser apropriada a normalização da taxa de juros para patamar considerado neutro. Esse ajuste é necessário para mitigar a disseminação dos atuais choques temporários sobre a inflação. O Comitê enfatiza, novamente, que não há compromisso com essa posição e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação.

Para a próxima reunião, o Comitê antevê a continuação do processo de normalização monetária com outro ajuste da mesma magnitude. Contudo, uma deterioração das expectativas de inflação para o horizonte relevante pode exigir uma redução mais tempestiva dos estímulos monetários. O Comitê ressalta que essa avaliação também dependerá da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e de como esses fatores afetam as projeções de inflação.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fabio Kanczuk, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza. 

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom. 

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