Juros futuros sobem com disputa política e Copom
Fala de candidatos governistas à presidência da Câmara e Senado sobre volta do auxílio emergencial aumentam incertezas no mercado
22/01/2021A curva de juros começa esta sexta-feira, 22, em alta de 12 pontos-base nos juros longos (janeiro 2027), ao redor de seis pontos no médios e dois pontos no curtos.
A alta reflete a cautela com a retomada da fase vermelha no Estado de São Paulo por causa da covid-19, além dos temores fiscais e pessimismo no exterior, que coloca o dólar também em alta em relação ao real.
Às 9h13, o DI para janeiro de 2027 estava em 7,38%, de 7,26% no ajuste de quinta-feira. O DI para janeiro de 2023 estava em 5,19%, de 5,13%, enquanto o vencimento para janeiro de 2022 estava em 3,40%, de 3,38% no ajuste anterior.
Os juros fecharam em alta ontem por dois motivos: a mensagem do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) e as declarações de candidatos à presidência da Câmara e do Senado em defesa da retomada do auxílio emergencial.
A volta do auxílio por causa do agravamento da pandemia motiva preocupações com a flexibilização do teto de gastos e com o adiamento da privatização da Eletrobras.
As taxas passaram a subir em bloco, com as longas ganhando fôlego junto com o dólar.
As falas de Arthur Lira (PP-AL), candidato ao comando da Câmara, e de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), favorito ao comando do Senado, ambos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro, ocorreram logo depois do leilão do Tesouro e por pouco não afetaram a operação, dada a reação extremamente negativa do mercado.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 subiu de 3,251% no ajuste anterior para 3,38% (regular) e 3,39% (estendida) e a do DI para janeiro de 2023 encerrou em 5,125% (regular)e 5,155% (estendida), de 4,966%.
O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 6,62% (regular) e 6,66% (estendida), de 6,485% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2027 passou de 7,154% para 7,26% (regular) e 7,30% (estendida).
A decisão de manter a Selic em 2% era amplamente esperada, mas as menções do comunicado à inflação e a retirada da prescrição futura que ancorava a ideia de juro inalterado por um longo período provocaram uma reprecificação das apostas para a Selic na curva.
Segundo cálculos do estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, a curva embute 31 pontos-base de alta para a taxa na reunião de março, ou seja, 76% de chance de aperto de 0,25 ponto porcentual e 24% de probabilidade de elevação de 0,5 ponto.
Em entrevista, Pacheco defendeu a retomada do auxílio ou um incremento do Bolsa Família a partir de janeiro, disse que o teto de gastos não pode ser “intocado” em momentos de necessidade e que o governo vai focar em privatizações, mas não a da Eletrobras.
Pouco mais cedo, Lira havia dito ter a “impressão” de que, dentro do teto, com o Orçamento aprovado, o mercado aceitaria entre R$ 20 bilhões e R$ 50 bilhões por um período máximo de seis meses, referindo-se ao auxílio.
No fechamento dos negócios, as taxas se distanciavam das máximas – no pior momento as mais longas chegaram a avançar 20 pontos-base. “O mercado vinha reagindo como esperado ao Copom, com dólar caindo e abertura nos juros curtos, mas piorou com a entrevista de Pacheco, que disse tudo o que era necessário para colocar lenha na fogueira”, disse Adauto Lima, estrategista-chefe da Western Asset.
Na ótica dos agentes, o resgate do auxílio pode sustentar a escalada da inflação e obrigar o Banco Central a elevar juro ou antes do esperado ou de forma mais firme.
Lima trabalha com um cenário em que a Selic começará a subir gradualmente em maio até chegar em 4,5% em 2022, “mas, se sair o coronavoucher, começará em março”.
O imbróglio em torno das vacinas também tem adicionado prêmios na curva. Nesta quinta, a boa notícia, mas que trouxe pouco alento aos negócios, é de que o Brasil receberá 2 milhões de doses da AstraZeneca, a serem enviadas pela Índia na sexta. (AE)