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Maior projeto imobiliário de Nova York está encalhado

Maior empreendimento imobiliário da cidade desde a construção do Rockefeller Center, nos anos 1930, enfrenta dias difíceis

Projeto que pretendia revolucionar o mercado na cidade enfrenta crise financeira, processos judiciais e incerteza sobre o futuro | Foto: Getty Images

O Hudson Yards, maior investimento público-privado de Nova York, foi inaugurado em 2019 depois de quase 30 anos de planejamento.

O maior empreendimento imobiliário da cidade desde a construção do Rockefeller Center, nos anos 1930, tinha como objetivo ocupar a última região grande e não desenvolvida de Manhattan, um campo industrial entre a Pennsylvania Station e o Rio Hudson.

O projeto custou US$ 6 bilhões em isenções fiscais e outras ajudas do governo, incluindo a expansão do metrô para o West Side.

Agora, os condomínios de luxo, torres de escritórios e um shopping center enfrentam sérias dificuldades financeiras, agravadas pela pandemia, segundo reportagem do jornal The New York Times.

Principal inquilina de shopping faliu

Centenas de apartamentos ainda não foram vendidos e o shopping center tem poucos clientes. A principal inquilina, a rede Neiman Marcus, declarou falência e fechou permanentemente, e pelo menos outras quatro lojas, assim como vários restaurantes, também encerraram as atividades.

A construtora do Hudson Yards dizia que todo o projeto seria concluído em 2024, mas agora não há mais previsão para a data de conclusão.

Os prédios de escritórios, cujos trabalhadores sustentavam muitas lojas e restaurantes, estão quase totalmente vazios desde o agravamento da pandemia no ano passado.

Vista do projeto às margens do rio Hudson | Foto: Getty Images

Segunda fase não tem mais data prevista

Ainda mais arriscada, a prometida segunda fase do Hudson Yards – outros oito edifícios, incluindo uma escola, mais apartamentos de luxo e espaço para escritórios – parece estar adiada indefinidamente, enquanto sua construtora, a Related, busca financiamento federal para a plataforma de aproximadamente 40 mil metros quadrados sobre a qual ela seria construída.

A construtora busca US$ 2 bilhões em financiamento federal para construir uma plataforma

Com a pandemia forçando trabalhadores de escritórios a ficar em casa – e mantendo afastados clientes estrangeiros e turistas – não está claro quando será reativada a demanda em relação à vasta oferta de apartamentos luxuosos e sofisticados escritórios que recortam o horizonte da cidade, ou mesmo se isso acontecerá.

Quatro prédios de escritórios no Hudson Yards – incluindo o edifício de número 50, que está em construção – estão com 93% das unidades alugadas, afirmou um porta-voz da Related, apesar de não estar claro quantos desses negócios ocorreram no ano passado.

O Facebook assinou no fim de 2019 o aluguel de um espaço de aproximadamente 140 mil metros quadrados.

Investidores querem ver o balanço contábil

A Related também enfrenta pressão de seus investidores para entregar um balanço contábil mais completo das finanças do projeto.

Um grupo de 35 investidores da China – uma pequena parcela dos cerca de 2,4 mil que investiram US$ 1,2 bilhão no Hudson Yards – processou a empresa no ano passado, acusando-a de se recusar a abrir os livros ou informar quando pretende restituir seus investimentos.

Para piorar, uma escultura criada para ser “a Torre Eiffel de Nova York” teve de ser interditada. A obra de arte escalável de 45 metros de altura conhecida como The Vessel, foi fechada para visitantes depois do terceiro suicídio na atração em menos de um ano.

Os advogados da empresa afirmaram que o Hudson Yards estava enfrentando “significativos ventos contrários como resultado da covid-19” e que, por causa da crise econômica e das restrições dos lockdowns, poderá não ser capaz de recuperar seu investimento em pelo menos um dos edifícios, o de número 35, uma torre de uso misto, com um hotel, de acordo com registros do processo obtidos pelo jornal The New York Times.

Um outro grupo de investidores chineses – cujas contribuições de US$ 500 mil por pessoa eram parte de um programa de vistos americanos que podem lhes garantir um caminho para a cidadania – afirmou que também está considerando apresentar um processo contra a Related, de acordo com uma pessoa a par da situação que não está autorizada a falar publicamente do assunto.

Construtora cobra aluguel de inquilina falida

Nesse meio tempo, a construtora interveio no pedido de falência da Neiman Marcus, afirmando que a rede de lojas de departamentos lhe deve US$ 16 milhões por romper seu contrato de aluguel e outros US$ 129 mil pelos custos da remoção dos anúncios de sua loja no shopping center, incluindo um cartaz gigante que ficava pendurado em um pátio envidraçado a 15 metros de altura.

A Related tem disputas com outros inquilinos varejistas que enfrentam problemas, até mesmo ameaçando-os com multas de US$ 1,5 mil por dia que eles permaneçam fechados após o shopping center ter sido reaberto.

Várias lojas fecharam definitivamente, incluindo a Forty Five Ten, uma luxuosa loja de roupas de Dallas, inaugurada junto com a Neiman Marcus. O shopping center foi inaugurado com 79 lojas e atualmente tem 89, afirmou a Related. Segundo a construtora, o shopping adicionou pelo menos 11 lojas desde setembro, incluindo Herman Miller, Levi’s e Sunglass Hut.

Apesar da crise, projeto melhorou o bairro

Apesar da incerteza, o Hudson Yards já ajudou a transformar o bairro em um distrito de negócios crucial e parte de uma região de Manhattan, ao longo do West Side, que está se tornando um grande reduto de empresas de tecnologia.

O empreendimento atraiu empresas das mais importantes, incluindo HBO, CNN, L’Oréal USA, BlackRock e Tapestry, matriz da Coach, da Kate Spade New York e da Stuart Weitzman.

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