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Mercado de créditos de carbono movimenta R$ 4 trilhões em 2021

O Brasil tem uma grande oportunidade de aproveitar o mercado de créditos de carbono para financiar a agricultura e gerar empregos, e o primeiro passo é combater o desmatamento

Especialistas apontam os principais desafios que o Brasil precisa vencer para organizar o mercado de créditos de carbono; veja o vídeo

O mercado de créditos de carbono negociou 700 bilhões de euros no ano passado (quase R$ 4 trilhões), englobando derivativos e envolvendo mais de dez mil entidades, o que representa 40% de todas as emissões na união europeia, segundo Ricardo Mendonça, do Safra Asset.

Segundo ele, o Brasil tem a grande oportunidade de oferecer crédito de alta qualidade integrando o agronegócio com as áreas de restauração e conservação. “Isso precisa ser feito com esforço nas áreas jurídica e de políticas públicas, para aproveitar o potencial do mercado de carbono”.

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Mendonça foi um dos participantes do debate “Os Desafios dos Créditos de Carbono”, promovido pelo Banco Safra. O painel foi mediado por Joaquim Levy, diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados do Safra, e contou com a participação de Daniel Vargas, representante do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas, e Miguel Calmon, da Conservação Internacional.

Segundo Joaquim Levy, o tema vai ser cada vez mais central para o Brasil em todos os setores econômicos, e o país tem capacidade científica e intelectual para ser um grande contribuinte para a solução do risco climático na a transição para uma economia limpa.

Mercado de créditos de carbono exige combate ao desmatamento

“Temos urgência de agir e precisamos de todas as ferramentas. Precisamos correr, aumentar investimentos, capacitar empreendedores e desenvolvedores, engajar os proprietários, os indígenas, para conservar também os estoques que estão protegidos, mas estão ameaçados”, disse Levy. Os participantes concordaram que o tema exige esforço conjunto para fazer mais e mais rápido. “Precisamos cuidar do nosso desmatamento, pois está muito difícil atrair investimentos para o Brasil com esse nível de desmatamento”, acrescentou Ricardo Mendonça.

Miguel Calmon, da Conservação Internacional, lembrou que o mercado de créditos de carbono já existe e desperta interesse há mais de 20 anos. Segundo ele, o crédito de carbono precisa levar em conta intervenções adicionais ao que já estava nos projetos das empresas, caso contrário não haverá impacto no clima. Também existem regras de elegibilidade que levam em conta padrões e metodologias. “Não adianta fazer um projeto de conservação que apenas faça a transferência do desmatamento para outras regiões. Também é considerada a permanência, ou seja, a duração do projeto”, explicou.

O especialista destacou que o Brasil pode se beneficiar, pois existe uma demanda de créditos muito maior do que a oferta de projetos. “Em primeiro lugar precisamos entender que essa agenda de conservação é estratégica para o País, e os projetos precisam garantir os aspectos ambientais e também sociais. O carbono é um meio para garantir os recursos naturais e também a agricultura, o que é fundamental para a economia brasileira. Estamos diante de uma das maiores oportunidades da nossa vida, e precisamos aproveitar para colocar em prática de forma correta esses planos para garantir o futuro do país”, comentou.

Daniel Vargas, representante do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas, lembrou que menos de 10% das terras na Amazônia estão com a situação jurídica definida, segundo levantamento recente. Portanto, a regra não é a legalidade, e sim a incerteza sobre quem são os proprietários. Mas nas áreas mais avançadas e pujantes da agricultura a situação jurídica é definida, e em boa parte é possível saber qual é o passivo ambiental, quem tem área não desmatada e que poderia desmatar além da reserva legal.

Faltam mecanismo para valorizar produção sustentável

“Seria importante reconhecer a produção sustentável como gerador de crédito de carbono, o que pode acontecer no futuro”, disse ele, citando que a Imaflora, em consórcio com outras entidades, sugere a pecuária sustentável como atividade potencialmente ofertante de crédito de carbono. “Precisamos olhar para esses setores como forma de premiar os produtores que atuam de forma legal e sustentável”, disse Vargas.

“A recuperação de áreas degradadas oferece uma gigantesca oportunidade para gerar empregos, aumentar a produção e gerar créditos de carbono e riquezas para o País. Não existe uma solução única, mas camadas de problemas e reflexões que exigem mobilização e trabalho coordenado. Neste mercado, a porta de entrada é metodologia”, comentou.

Ele acrescenta que o mercado de carbono combina a boa ciência e organiza a economia a serviço de um saldo ambiental positivo. “Essa boa ciência ainda precisa amadurecer nas técnicas de gestão do carbono, sobretudo no regime de organização desse mercado aplicado”, disse.

“O regime de trocas de carbono se dá de maneira artesanal. Nós não temos um markeplace onde as empresas que já estabeleceram metas para si possam se encontrar e negociar com os desenvolvedores. Não temos ainda uma câmara de compensação para que o carbono se torne um ativo, dando origem a um mercado secundário, para gerar esse casamento “, acrescentou.

Joaquim Levy destacou que se o Brasil conseguir organizar um mercado de alta qualidade, isso poderia trazer grandes benefícios para a agricultura e colaborar com o combate ao aquecimento global e suas consequências.

Debate ficará disponível no canal do Safra no Youtube

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